Pinacoteca terá acervo de nomes consagrados
Doação de R$ 1 milhão permitirá a compra de obras de arte
Sereno, Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, entre uma pausa e outra para fotos (“gosto de todos os espaços daqui, em especial os janelões com vista para o átrio”, diz) comemora os acontecimentos que marcaram o início do ano no território das artes do museu.
O primeiro dá conta de que, desde já, a Pinacoteca terá o seu acervo contemporâneo com nomes consagrados – Beatriz Milhazes, Carlos Zílio, Carmela Gross, Daniel Senise, Efrain Almeida, Ivan Serpa, Marepe, Rosângela Rennó e Valeska Soares, contemporâneos ativos, com passagens por bienais e mostras internacionais. O carioca Ivan Serpa constitui exceção, já que morreu aos 50 anos, em 1973.
Nada disso, no entanto, teria sido possível, não fosse a iniciativa do Banco Credit Suisse de destinar um milhão de reais para a aquisição das obras. O Museu de Arte Moderna (MAM) também foi beneficiado com igual valor e, a exemplo da Pinacoteca, vai corrigir falhas históricas do seu acervo, dando ênfase a movimentos relevantes da arte brasileira, o concretismo, a art pop e neoconcretismo, adquirindo obras de Waldemar Cordeiro, Antonio Dias e Hélio Oiticica.
Para o diretor de investiment banking do Banco Credit Suisse, José Olympio Pereira, ele também um colecionar de artes, a produção contemporânea é de altíssima qualidade e precisa ser melhor divulgada. “O grande público não tem acesso a ela, diferentemente do futebol, da música e agora, da moda. No lugar de formar uma coleção própria, preferimos privilegiar as coleções nos museus.”
“Na verdade, existem grandes lacunas no nosso acervo, inclusive de obras históricas, modernistas, contemporâneas e peças do século 19”, comenta Marcelo. “Esse é um momento muito feliz para todos nós, que estamos superentusiasmados com a doação, primeiro pelo volume orçamentário e, obviamente pelo que nos possibilitou em termos de aquisição, número, qualidade e destaque das obras.
De acordo com o diretor, será comprada uma obra de cada artista. “Só da Rosângela Rennó serão duas fotografias. A Rosângela trabalha com fotografias em várias acepções. De alguns deles temos obras, por exemplo, da Beatriz Milhazes, a Pinacoteca dispõe de uma pintura do início da carreira dela. No caso do Carlos Zílio, é o contrário, trata-se de obra mais recente, histórica, dos anos 1970 e também do Serpa. Então, são diferentes situações de cada um desses artistas”.
A doação recebeu o incentivo da Lei Rouanet, o que significa ter a aquisição das obras de seguir determinados procedimentos, como a aprovação do Ministério da Cultura. Uma vez feita a escolha dos trabalhos, há uma identificação dos mesmos, seguida dos pedidos de orçamentos dos valores. “No momento, estamos na fase de aguardar a aprovação do Ministério”, esclarece Araújo.
Grande conquista – Após esse processo, a idéia é fazer, no mês de junho, a apresentação das obras ao público, por meio de uma exposição de dois meses. Em seguida, elas serão retiradas, por falta de espaço. Por isso mesmo há um estudo em andamento, por parte do governo do Estado e da Secretaria Estadual de Cultura, para construção de um terceiro edifício para a Pinacoteca, que possa abrigar esse acervo contemporâneo que, hoje em dia, por falta de local, não é apresentado de maneira permanente. “Quem ganha é o público, porque na verdade as peças passam a ser incorporadas ao acervo da Pinacoteca, propriedade do governo do Estado de São Paulo.
Uma vez integradas ao patrimônio público, estarão disponíveis não só na Pinacoteca, mas também para exposições em outros lugares, já que nós cedemos e emprestamos às demais instituições. Essa é uma grande conquista da população, pois ganha de presente esse conjunto valioso”, garante o diretor.
Merepe
A 1.800 quilômetros de São Paulo, em Santo Antônio do Jesus, no Recôncavo Baiano, o artista plástico Marepe também comemora. “Maravilha mesmo, iniciativas e incentivo desse tipo! Importante que nossos trabalhos fiquem por aqui”. A obra de Marepe escolhida para figurar no acervo – Retrato de Bubu – é famosa na França, onde esteve em exposição durante o Ano do Brasil na França.
Quando foi convidado para levar sua exposição a Paris, no Centro Georges Pompidou – o Beaubourg – imediatamente Marepe fez a associação fonética Bubu/Beaubourg. O Bubu de Marepe é uma homenagem ao avô, que assim era chamado. A técnica em alumínio e madeira ficou longo tempo na entrada do Centro, lado a lado com o retrato do ex-presidente francês Georges Pompidou, de autoria de Vasalery, pintor francês, que trabalhava muito com efeitos óticos, nos anos 1960.
Todos os artistas escolhidos têm trajetória de destaque, segundo Araújo. “O Marepe, que dá ênfase às questões da realidade brasileira e do cotidiano, teve uma idéia fantástica ao retratar o avô. Com certeza, todos se encantarão não só com o Marepe, mas também com os demais trabalhos. Outra obra emblemática é a da Carmela Gross – A Casa – uma instalação em neon, suspensa, que joga sobre essa fluidez, a fragilidade dos espaços, a transitoriedade”.
Maria das Graças Leocádio
Da Agência Imprensa Oficial
03/07/2008
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