Prefeito reúne secretariado
Prefeito reúne secretariado
O prefeito do Recife, João Paulo (PT), dará continuidade amanhã, no Mar Hotel, em Boa Viagem, à apresentação do Seminário de Planejamento Estratégico para este ano. A reunião foi iniciada no final de janeiro, mas os dois dias dedicados ao encontro não foram suficientes para que os secretários apresentassem as ações de suas pastas.
Na lista os secretários que ainda não mostraram o plano de trabalho estão Danilo Cabral (Administração); Maurício Rands (Assuntos Jurídicos); Paulo André Leitão (Comunicação Social); Waldemar Borges (Desenvolvimento Econômico); José Ailton de Lima (Serviços Públicos); e Roberto Peixe (Cultura). As coordenadorias da Mulher e do Voluntariado também irão expor suas propostas para 2001.
O encontro contará com a participação de técnicos da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), empresa contratada pela PCR para dar uma maior visibilidade a administração petista. Para isso, a equipe está acompanhado todas as ações de cada secretaria do Governo. O relatóriofinal do trabalho será submetido a avaliação do prefeito João Paulo.
AGENDA - Logo após concluir o seminário, a prefeitura pretende montar uma agenda para divulgação do planejamento de cada secretaria. Na última sexta-feira, quando participou da sessão de abertura dos trabalhos legislativos na Câmara do Recife, o prefeito deu o primeiro ponta-pé para divulgar o trabalho da sua administração. Na área habitacional, por exemplo, o petista anunciou a construção de 3.500 novas moradias, reassentamento de famílias que moram em zonas de risco da cidade, concessão de auxílio moradia e regularização fundiária.
O prefeito também destacou melhoria na infra-estrutura da cidade, com obras viárias, de drenagem e de saneamento básico. João Paulo garantiu também executar as prioridades identificadas pela população nas plenárias do Programa Orçamento Participativo, além de desenvolver ações nos Programas de Urbanização Popular, principalmente nas Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), com a implementação de infra-estrutura, através dos Planos Urbanísticos. O encontro com o secretariado termina nesta quarta-feira.
PT retoma diálogo com aliados
Líderes do partido buscam entendimento nesta semana com PPS, PSB, PDT e PTB
Os partidos de oposição tentarão encontrar, mais uma vez, o caminho para a tão sonhada unidade da esquerda na eleição deste ano. A conversa com as demais lideranças está sendo coordenada pela PT, que deverá agendar as reuniões durante esta semana. Os petistas querem realizar os encontros antes da viagem do secretário de Saúde do Recife e pré-candidato do partido ao Governo do Estado, Humberto Costa, prevista para o dia 23.
Segundo o presidente estadual do PT, Paulo Santana, a responsabilidade de marcar os encontros ficou à cargo do presidente da Câmara do Recife, vereador Dilson Peixoto (PT). Ontem, o DIARIO conversou com algumas lideranças dos demais partidos de esquerda, mas ninguém havia conversado com o interlocutor petista para tratar do assunto.
Na avaliação de Paulo Santana, o PT não terá dificuldade para articular com o bloco da esquerda. "Todos nós estamos empenhados em discutir o processo da sucessão estadual. Cada um quer mostrar seu ponto de vista. Então, a melhor maneira é reunir todo mundo para conversar", disse. O petista não soube dizer se as conversas serão isoladas ou em conjunto. "Vai depender da agenda de cada um".
Sobre a repercussão das declarações do vice-presidente do PT e candidato ao Governo de São Paulo, o deputado federal José Genuíno, que afirmou ser o nome de Humberto Costa a melhor opção para a esquerda local, Paulo Santana garantiu que o assunto está contornado. "Conversamos com os demais companheiros e explicamos que a declaração de Genuíno foi mal interpretada. Ele, na verdade, não teve a intenção de atropelar o processo local. O deputado quis dizer que Humberto é um nome consenso como opção para um chapa de esquerda, mas não é imposição do PT", esclareceu.
Ontem, o deputado estadual André Campos (PTB) disse que o seu partido ainda não foi convocado pelo PT. "Acho que os contatos vão começar a partir de amanhã (hoje)". Apesar disso, o parlamentar afirmou ter uma proposta pronta para apresentar aos dirigentes do PTB e aos companheiros de oposição. A chapa idealizada pelo pedetista seria encabeçada por Humberto Costa, como candidato ao Governo do Estado, tendo como vice o deputado José Queiroz (PDT), enquanto as duas vagas para o Senado seriam ocupadas pelos senadores Carlos Wilson (PTB) e Roberto Freire (PPS). Nessa composição ficaria de fora o PSB, do deputado federal Eduardo Campos.
"Acho que essa chapa está bem montada politicamente e geograficamente. Na minha avaliação, esse seria o palanque ideal para a esquerda alcançar seu objetivo maior é que derrotar o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB)", disse Campos.
PPS promove encontro na Zona da Mata
Passado o Carnaval, as executivas estaduais dos partidos começam as articulações com seus diretórios municipais de olho nas eleições deste ano. Um exemplo disso, é o encontro que a executiva regional do PPS realiza hoje, em Palmares, com os representantes da legenda na Mata Sul do Estado. O encontro contará com a presença do presidente nacional do PPS e candidato à reeleição para o Senado, Roberto Freire.
Segundo o presidente estadual do PPS, o prefeito do Cabo, Elias Gomes, a reunião com as lideranças ocorrerá no horário da tarde. No período da manhã, o senador Roberto Freire tem entrevistas agendadas nas rádios locais. No último encontro do PPS, realizado no ano passado, os pós-comunistas elegeram como prioridade a reeleição de Freire para o Senado. "Esse é o consenso do nosso partido", reafirmou Elias Gomes.
Um outro compromisso do PPS já está programado para o dia 21 deste mês, em Brasília. Trata-se do Encontro da Executiva Nacional, que, além do PPS, reunirá representantes do PTB e PDT. De acordo com Elias Gomes, nesse encontro os partidos irão fazer uma avaliação dos fatos que estão ocorrendo no cenário político nacional. "A discussão também será em torno da candidatura do ex-ministro Ciro Gomes à presidência da República".
Os três partidos vêm negociando uma aliança em torno da candidatura de Ciro Gomes e podem fechar um acordo já nesta semana. No entanto, o presidente Fernando Henrique Cardoso tem tentado impedir a aliança, pelo menos com o PTB. Ele quer atrair os trabalhistas para o palanque do ministro da Saúde, José Serra (PSDB). Para isso, segundo informações de Brasília, estaria oferecendo um ministério ao PTB.
Sobre a sucessão estadual, o prefeito Elias Gomes afirmou que o PPS mantém a disposição de conversar com os demais partidos de esquerda para tentar montar o palanque adversário ao do governador Jarbas Vasconcelos. "O nosso acordo foi de discutimos o processo local depois do Carnaval. Estamos aguardando apenas a definição da agenda", assegurou.
Barbalho fica preso menos de 15 horas
Jader diz que sua prisão foi um ato eleitoral "montado" pelo Judiciário para prejudicar sua campanha
PALMAS e belém - O ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) deixou às 23h50 de sábado, a carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Tocantins, alegando que a sua prisão tinha sido um ato de "politicagem" e "violência política", ainda fruto dos embates com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), durante a disputa das eleições para a presidência do Senado, em 2001. "Eu sofri várias violências políticas, desde o episódio em que me envolvi no Senado com ACM, e esse é mais um episódio", disse. Ele passou menos 15 horas preso. Aos 25 minutos de ontem, o ex-senador embarcou, num avião fretado, de volta par a Belém. Ele foi recebido com festa.
Segundo Jader, a decretação da prisão preventiva, pela Justiça Federal do Tocantins, foi um ato eleitoral "montado" pelo Judiciário. "Seguramente, é um episódio daqueles que estão preocupados com os índices de apoiamento da opinião pública no meu Estado, que podem me fazer governador ou senador", afirmou. Ele foi liberado pela PF depois que o presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ªRegião, em Brasília, Tourinho Neto, concedeu habeas-corpus interposto pelos seus advogados. Foram liberados com ele contadora Maria Auxiliadora Martins e o ex-presidente da Sudam José Arthur Guedes Tourinho, que também estavam presos na PF do Tocantins.
Segundo Jader, a "violência política" sofrida por ele quando da decretação da prisão preventiva só se justificaria durante a ditadura militar. "Na época da ditadura, justificava-se essas coisas, mas, na democracia, não se admite que isso ocorra", disse. "Lamentavelmente, sofri uma violência política em plena democracia, e patrocinada pela Justiça Federal do Tocantins", completou.
Pouco antes de embarcar para Belém, o ex-senador paraense afirmou que manterá a candidatura a governador ou senador. "Eu estou estudando ainda, não está claro, mas ou governo ou Senado, um dos dois o povo do Pará me fará", disse. Jader insistiu que toda a operação feita para a prisão dele este fim de semana teve um caráter, "exclusivamente", eleitoral.
A Polícia Federal retomará as investigações sobre os desvios do Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) na extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), hoje, em torno de R$ 1,7 bilhão. A PF fará uma nova devassa e abrirá inquéritos relacionados a todos projetos existentes, principalmente no Pará Tocantins e Amapá, onde existem suspeitas de envolvimento de antigos aliados de Jader.
"Brasil é fonte de tráfico humano"
Entrevista Elisabeth Süssekind
Um destino macabro pode estar sendo reservado para milhares de crianças brasileiras adotadas de forma ilegal no País. A Polícia e a Justiça ainda não conseguiram comprovar, mas não param de chegar denúncias às autoridades sobre desmonte de menores no Exterior com o fim único de retirada de órgãos para comercialização. O tráfico de seres humanos não tem fronteiras. As mulheres brasileiras - famosas lá fora pelo simples fato de terem nascido no País do samba, mulatas e Carnaval - também estão na rota dessa modalidade de crime, considerada nova pelos estudiosos. Criminalidade organizada que não perdoa nem sequer os trabalhadores, traficados como se fossem drogas ou armas nas fronteiras estaduais para trabalhar de forma escrava.
Na semana passada, a secretária nacional de Justiça, Elisabeth Süssekind, esteve em visita ao Recife para dar início ao programa do Governo federal de combate ao tráfico de seres humanos. Segundo dados da secretária, as quadrilhas estão movimentando cerca de US$ 9 milhões por ano e atualmente essas atividades conseguem se estabelecer com o título de terceira maior fonte de divisas ilegais, somente superadas pelo tráfico de armas e de drogas. Durante a visita, Süssekind anunciou que o Recife irá ganhar em março um núcleo de combate a esse tipo de crime e os passos seguintes da campanha. De acordo com o Ministério da Justiça, a Capital é uma das principais cidades brasileiras onde ocorre o aliciamento de mulheres, ao lado de Goiânia, Fortaleza, Belém, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
DIARIO - Até que ponto o tráfico de seres humanos está incomodando o Governo brasileiro, ao ponto de levá-lo a montar um programa de combate a esse tipo de crime?
Elisabeth Süssekind - O Brasil não pode continuar admitindo que quadrilhas de traficantes de seres humanos atuem em nosso território, levem as nossas jovens para o Exterior e, eventualmente, também levem bebês para serem usados com o fim de tráfico de órgãos, segundo informações que estão sendo denunciadas e investigadas. Há também a questão do tráfico de trabalhadores que, na verdade, é um tráfico nacional, interno, onde trabalhadores são deslocados de uma região para outra e passam a ser mantidos em regime de escravidão. Por causa disso tudo, o Governo não poderia deixar de colocar seus recursos humanos e financeiros à disposição desse combate. O País precisa reagir em relação a esses problemas.
DIARIO - Como o novo programa do Governo vai combater esse tipo de tráfico?
Süssekind - O programa de combate ao tráfico de seres humanos tem efeito e proposta global. O Brasil é signatário de um acordo internacional onde ele se propõe a combater e prevenir o tráfico de seres humanos no território brasileiro de forma integrada com outros países. Isso porque, como se trata de criminalidade transnacional organizada, significa que não acontece somente na nossa fronteira, no nosso País. Por isso exige estratégia integrada com os demais países. O Ministério da Justiça acabou de assinar esse projeto com a presença do vice-presidente da República, Marco Maciel, e do ministro da Justiça, Aluísio Nunes Ferreira, que está dando o máximo apoio à idéia. Inclusive vamos inaugurar um núcleo de combate ao tráfico de seres humanos no Recife, em março.
DIARIO - Como será o núcleo no Recife?
Süssekind - Ele irá funcionar no prédio da antiga Sudene. No local deverá se reunir a equipe de trabalho que atuará na formação de um banco de dados sobre a situação do Brasil com relação ao problema. Serão levantadas informações sobre as diversas práticas que dão suporte a este tipo de atividade ilegal no País, como tráfico de drogas, adoções ilegais, casos de pedofilia via Internet e lenocínio, realizadas muitas vezes com a conivência de agências de viagens envolvidas com esquemas de envio de mulheres e homens ao Exterior. Queremos cruzar as diretrizes do Governo federal com as iniciativas que já são desenvolvidas nos Estados no combate à violência contra mulheres, crianças e adolescentes. Trabalharemos com informações das polícias locais e conectados com a Interpol para traçar rotas existentes dentro e fora do País, além do perfil das vítimas. O Ministério da Justiça já disponibilizou R$ 400 mil para a implantação da primeira etapa do projeto, que compreende a realização de visitas aos Estados para divulgação. Nesta fase, estamos trocando experiências e convocando a sociedade civil e o poder público a se engajarem no trabalho. Com uma Polícia, um Ministério Público e um Judiciário atentos poderemos promover o aperfeiçoamento do aparelho legislativo e dar respostas mais consistentes à sociedade sobre como enfrentar o problema. Uma das próximas ações será a realização de uma campanha nacional de conscientização da população. Deverão ser visitados ainda os estados de Goiás, Rio de janeiro, Ceará, Pará e Paraná.
DIARIO - No que se refere a bebês, a Polícia e a Justiça pernambucana têm conhecimento de que meninos e meninas são adotados irregularmente em maternidades públicas do Estado. Essas crianças podem estar indo parar nas mãos de traficantes de órgãos?
Süssekind - Temos denúncias de que parte de bebês adotados ilegalmente no Brasil podem estar sendo vítimas de desmonte para bancos de doação de órgãos. No mundo inteiro esse é um dos delitos de mais difícil comprovação. Aqui no Brasil nunca conseguimos comprovar essas denúncias. Daí a necessidade de unirmos as informações do País e montarmos na Interpol um banco de DNA para que todas as crianças adotadas deixem ali o código de DNA e nós possamos checar isso junto aos bancos de doação, rastreando assim a origem do órgão. Temos comprovação de adoções ilegais para estrangeiros e brasileiros de várias partes do País. Muitas vezes os meios de repressão judiciária não percebem que essa é uma questão muito mais ampla do que um simples caso individual. Se trata de muitas quadrilhas atuando entrelaçadas. Isso e nvolve desde agências de viagem, doleiros, falsificadores de documentos, corrupção nas polícias, no Judiciário, no Ministério Público. Enfim, tudo isso será exposto quando juntarmos inquéritos, denúncias, matérias da Imprensa, fazermos diagnósticos de onde ocorrem os crimes, mapeamentos, perfil do tipo de autor que comete o delito. Na verdade, ainda não podemos chamar esse tipo de ação de delito porque o tráfico de seres humanos nem está tipificado, mas virá a estar pois é uma de nossas metas.
DIARIO - Se o tráfico de humanos não é tipificado, como essas ações são julgadas?
Süssekind - Não é tipificado como tráfico, formação de quadrilha, crime organizado, mas pode-se usar o Estatuto da Criança e do Adolescente para combater esses crimes no que se refere à criança. Ou seja, usa-se a legislação adicional. No caso das mulheres, o acusado pode responder por lenocínio - que é exploração de mulheres - ou aliciamento.
DIARIO - Essa lacuna termina por amenizar as penas?
Süssekind - Ameniza e muito. Oculta o fato de que existem quadrilhas e crime organizado que têm um pé fora do País, já que são precisos passaportes e documentos falsos. Por isso é necessário que as informações estejam conectadas para que as autoridades percebam a grandeza do problema, a sociedade se dê conta da situação através de campanhas e as pessoas não se transformem em presa fácil.
DIARIO - Na prática, como isso funcionaria?
Süssekind - O Itamaraty precisa fazer uma reunião para que embaixadores sejam orientados a negar vistos para determinadas pessoas cujos nomes fariam parte de um banco de dados. Isso teria o objetivo de diminuir a entrada de pessoas cadastradas nesse banco e, conseqüentemente, impedir a ação dessas organizações criminosas. É um trabalho a ser feito com muitas pontas.Com diplomatas, com policiais federais, com pessoal da infância e adolescência, juízes. O juiz tem que entender que a moça que quis usar o corpo porque já é maior de idade não é caso isolado. Há toda uma atração. Elas são atraídas de suas cidades porque muitas vezes são vítimas em casa dos próprios pais, dos padrastos, tios, vizinhos, namorados da mãe. Terminam se revoltando e fugindo. É aí que entra o papel das pessoas que transportam as moças. Fazem parte disso até mesmo os hotéis de beira de estrada que aceitam as mulheres nessas condições. Ou seja, essa sociedade tem que perceber que trata-se de criminalidade organizada.
DIARIO - As vítimas de tráfico de humanos terminam sendo presas muito fáceis para os criminosos?
Süssekind - As redes nacionais são a fonte, são o supermercado onde as redes internacionais vêm pegar as mercadorias. As enfermeiras que cuidam da creche e que acham que estão ajudando uma criança quando arrumam uma adoção ilegal, estão na verdade incorrendo em erro. A menina que sai do Interior e, sozinha, se insere na prostituição, se predispõe a vender o corpo porque está procurando trabalho, é individual, não está nas mãos da rede de traficantes, mas virá a estar. A rede não é so internacional, é nacional. É a que abastece prostíbulos, danças, programas de TV que atraem essas moças. Tudo ocorre aqui dentro de nosso próprio País em pequenas estruturas, de forma individual. É isso que precisamos também combater para depois passarmos a lutar contra a situação mais difícil, que é a rede de tráfico internacional.
DIARIO - O tráfico de seres humanos movimenta muito dinheiro?
Süssekind - Atualmente é a terceira maior fonte de divisas ilegais, somente superada pelo tráfico de armas e de drogas. É algo que mobiliza nove milhões de dólares por ano.
DIARIO - O tráfico de humanos é um problema novo?
Süssekind - Da maneira como esse problema está se apresentando ele é novo, faz parte do que podemos chamar de novos crimes, como os cibernéticos, como os ligados à pedofilia, lavagem de dinheiro. Até que poderiam ocorrer em pequena monta, de maneira menos significativa ou menos integrada e organizada que atualmente. A forma como se apresenta hoje o tráfico de armas, por exemplo, é nova. O tráfico de armas é um problema que existe e sempre existiu, mas que somente agora está de forma mais organizada, inclusive com a participação de funcionários públicos de alto nível, que burlam a lei através de uma série de procedimentos, tais como compra de juízes e policiais.
DIARIO - O Brasil está entre os países que mais registra tráfico de seres humanos?
Süssekind - O Brasil é considerado lá fora uma fonte importante pelo fato de ter áreas turísticas imensas e muito procuradas, como o Nordeste. Os estrangeiros consideram que temos tipos físicos que agradam no Exterior. Uma hora são as mulatas, outra são as indígenas, depois as nordestinas e por aí vai. O País tem uma fronteira gigantesca, que não está sensibilizada para a questão. Se não há consciência, policiais não têm controle, vão deixar passar. É preciso aumentar a capacidade de investigação dos estados, aplicar novas metodologias, integrar os trabalhos para que se saiba do que estamos falando, de onde está ocorrendo. Saber porque alguns inquéritos estão parados, onde estão as vítimas. Precisamos ter um perfil do autor disso, ter a localização geográfica das ocorrências, as rotas nacionais que mandam pessoas para o Exterior. Isso tudo para podermos combater e denunciar até mesmo os altos funcionários públicos que estão com inquéritos nas mãos e que não dão solução.
DIARIO - Quais são as rotas mais usadas pelos criminosos no País?
Süssekind - Dados da Interpol indicam que as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm maior número de casos. Sabemos também que, em geral, as vítimas são jovens, pobres e de baixa escolaridade.
DIARIO - Quais vítimas que mais preocupam? As mulheres, as crianças ou os trabalhadores?
Süssekind - Como meta principal queremos primeiro reduzir sensivelmente o tráfico de moças e rapazes e passar para outro patamar de observação e alerta em relaçãoa isso. Temos que tipificar esse tipo de ação, mostrar que é crime, mostrar que quem está por trás são quadrilhas. Também temos que solucionar de maneira urgente as denúncias de tráfico de órgãos proporcionadas por adoções falsas para ver se a gente pode realmente falar em tráfico de órgãos no País, se realmente esses casos que surgiram a partir das comissões parlamentares e de jornais existem. É preciso expor isso para o brasileiro, fazer com que hospitais, creches, municípios se integrem a esse trabalho que só vai ser efetivo se tiveram todas essas pontas amarradas. Inclusive vamos abrir um disque denúncia em escritório montado no Recife.
DIARIO - É possível acabar com o tráfico de humanos?
Süssekind - Lembro que isso é uma política pública e não um programa que começa agora e acaba em dois anos. É um posicionamento do Governo federal diante desse tipo de crime e o reconhecimento de que o Brasil é vítima dessas quadrilhas. É também o cumprimento de um compromisso que o País assumiu diante das Nações Unidas. Não adianta o Brasil ir para fora, combinar, assinar e aderir a protocolos internacionais se não praticar o que é necessário, se não se adaptar a isso que estamos fazendo.
Sol combate racionamento
Estudo da Chesf concluiu que o índice de radiação do Nordeste é da ordem de 11.400 MW por ano
O racionamento de energia elétrica iniciado em junho do ano passado pode acabar ainda este mês, mas já deixa lições. Um país não pode contar apenas com uma única fonte de energia - muito menos com a hidrelétrica, que depende da boa vontade de São Pedro. O Governo entendeu que tem que diversificar a matriz energética e passou a investir em fontes alternativas de energia, como a eólica e a térmica, porque a crise pode piorar no ano que vem. Outro tipo de energia que poderia minimizar os efeitos da falta d'água nos reservatórios é a solar. Embora seu uso não seja aconselhado em larga escala, o potencial é grande. Um estudo da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) concluiu que o índice de radiação solar do Nordeste é da ordem de 11.400 megawatts (MW) por ano.
A grande vantagem é o que o Brasil tem sol o ano inteiro. Segundo o Centro de Referência de Energia Solar e Eólica Sérgio Sauvo Brito (Cresesb/UFRJ), o potencial do País chega a 15 trilhões MW/ano. "Ninguém pretende substituir a energia hídricapela solar. O que propomos é a diversificação da planta energética brasileira", defende o coordenador do Núcleo de Apoio a Projetos de Energia Renováveis da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Heitor Scalambrini. O problema é que a energia solar ainda tem um custo que é considerado alto quando utilizada em grande escala, quase 10 vezes maior que a energia hidrelétrica. Por isso, segundo Scalambrini, a proposta mais viável de utilização da energia solar é o aquecimento de água em residências, comércio e indústria.
Em todo o Mundo, o aquecimento de água é a forma mais difundida de utilização da energia solar. A simples troca do chuveiro elétrico por chuveiro com aquecimento solar nas residências já ajudaria a diminuir o consumo de energia elétrica no País. "O chuveiro é responsável por cerca de 25% da energia consumida nas casas", diz Scalambrini. O engenheiro afirma que uma família de cinco pessoas gastaria em torno de R$ 1.300 com compra e instalação do equipamento. "Embora pareça um valor alto, o investimento é recuperado em, no máximo, 24 meses com a economia na conta de luz", arremata.
De acordo com o professor aposentado e ex-pesquisador do extinto Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Arnaldo Moura Bezerra, algo como 27 milhões de chuveiros instalados no Brasil consomem 6% de toda a geração nacional, estimada em 67 mil MW. "Não se admite e não se compreende a não-utilização da energia solar no aquecimento de água residencial em um país tropical como o nosso, quando em outros países menos ensolarados esta prática já faz parte da cultura popular", critica Bezerra.
O que ainda é considerado caro em termos de energia solar é a geração de energia elétrica por meio de fotocélulas. "E ainda é caro porque a demanda é mínima, embora seja tecnicamente viável", argumenta o professor aposentado da UFPB, Arnaldo Moura Bezerra, autor do livro Aplicações Térmicas da Energia Solar. As fotocélulas, sob a ação da luz, geram energia elétrica de corrente contínua. Como a energia usual, produzida pelas hidrelétricas, é de corrente alternada, a energia produzida pelas fotocélulas precisa ser transformada.
Colunistas
DIÁRIO POLÍTICO – César Rocha
Vitória da mediocridade
Nos bastidores da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado discute-se quem saiu vitorioso do Carnaval deste ano. Melhor dizendo, quem teria faturado mais politicamente com a festa. As equipes de Jarbas (PMDB) e de João Paulo (PT) utilizaram como puderam estratégias de marketing caras para tentar vencer. No entanto, o que menos interessa, nessa discussão, é quem ganhou. Importa mesmo é o que a população, o cidadão leva para casa em benefícios e lições. Quanto aos benefícios, é fato que o carnaval foi mais organizado e diversificado. Porém, ainda extremamente violento. Cerca de 55 pessoas foram assassinadas - um número absurdo, inaceitável. Mas o fato mais preocupante diz respeito às lições aprendidas pelo pernambucano. Entre elas, a fundamental: no Estado, ainda se faz política com um nível elevado de provincianismo. E a palavra aqui deve ser entendida em seu sentido pejorativo. Não se está falando de tolices como considerar irrelevante a preocupação com os problemas do bairro ou da rua onde se vive. Poucas coisas na vida de um cidadão são tão importantes quanto o que se passa no seu bairro e na sua rua. Líderes políticos locais mostram-se provincianos porque desperdiçam dinheiro público com tolices como essa de tentar tirar dividendos políticos de um carnaval. Gastou-se dinheiro com marketing, e muito, nessa batalha. Dinheiro que poderia ter salvado a vida de um dos 55 assassinados. Salvado com investimentos em segurança ou nas emergências dos hospitais. Definitivamente, o cidadão precisa ser mais exigente. Dá trabalho construir uma democracia - sistema que não se compra pronto no supermercado da esquina, seja ele um Bompreço pernambucano ou holandês, um Carrefour francês ou um Wal Mart americano.
OS DEPUTADOS PAULO DELGADO (PT) E ARTUR VIRGÍLIO (PSDB) COMEÇARAM uma ARTICULAÇÃO estranha. QUEREM VER LULA E SERRA NO SEGUNDO TURNO e ESTARIAM NEGOCIANDO ACORDO PARA TRANSFORMAR GAROTINHO, ROSEANA E CIRO EM ADVERSÁRIOS COMUNS
João Paulo deixou alguns auxiliares preocupados com o que disse sobre o vazamento de informações sigilosas da Prefeitura do Recife: "Há dois tipos de vazamento, o da ingenuidade e outros que expressam interesse político". O petista, garantem, está mesmo disposto a reestruturar a equipe e redirecionar todo trabalho.
Serra (I) não acrescentou absolutamente nada ao debate sobre política de desenvolvimento regional no artigo que publicou ontem no DIARIO. Gastou quase todo o texto para constatações óbvias de que a Sudene e o que ela simbolizava foram fundamentais para reduzir o fosso social entre o Nordeste, o Sul e o Sudeste brasileiros.
Serra (II) deixou no ar as questões fundamentais: quais serão as instituições e os mecanismos utilizados no projeto de integração do País? No artigo dele, de interessante, apenas o fato de se mostrar contrário à extinção da Sudene, às vésperas de assumir definitivamente o papel de candidato.
Equívoco jurídico ou não, não resta dúvidas de que o cidadão brasileiro vê suasesperanças renovadas ao observar as imagens de um Jáder Barbalho algemado sendo conduzido à prisão pela Polícia Federal. Envolvida com seu duro dia-a-dia, talvez a população ainda perceba pouco como está mudando o Brasil.
José Alencar ainda vai dar mesmo muito o que falar caso se torne vice de Lula. Senador pelo Partido Liberal de Minas Gerais, é dono da maior indústria têxtil do País. No final da semana, em entrevista ao repórter Vandeck Santiago, disse que jamais ouve greves em suas empresas. Isso em 52 anos. Ou é realmente um empresário generoso ou algo está errado.
Instalado na Caxangá, o quarto Núcleo Descentralizado de Assistência Judiciária do Recife foi inaugurado pela prefeitura na sexta-feira. O novo centro funciona em horário comercial e atende às pessoas carentes que precisam de um advogado. Outros dois serão abertos até o final de março na Mustardinha e Ibura.
Editorial
HOMENS ENJAULADOS
A guerra contra o terrorismo recebeu o apoio de praticamente todos os países civilizados. Liderada pelos Estados Unidos e com adesão direta da Grã-Bretanha, promoveu três meses de bombardeios contra o Afeganistão. Ali estaria, sob a proteção dos talibãs, a sede da Al-Qaeda, organização fundamentalista liderada por Osama bin Laden. Lá teriam sido treinados homens para disseminar a violência e a intranqüilidade pelos quatro cantos do Planeta.
Vitoriosos, os americanos entraram no território afegão e fizeram prisioneiros. Entre eles, 158 talibãs integrantes da Al-Qaeda. Prenderam-nos em Guantánamo, base dos Estados Unidos em Cuba. Lá, recebem tratamento desumano. Trancafiados em celas individuais, têm as mãos algemadas e os pés acorrentados. Não tomam banho de sol. Só deixam os cubículos para dirigir-se à sala de interrogatórios. Mesmo assim, não andam. Vão de maca porque as correntes lhes retardam a marcha.
A Imprensa está proibida de aproximar-se do local. A Anistia Internacional exige que os presos tenhamadvogados e acesso a observadores independentes. Washington nega aos detentos o status de prisioneiros de guerra. Não estariam, pois, amparados pela Convenção de Genebra, que lhes outorga o direito de revelar tão-somente seus dados pessoais. Os interrogatórios são dirigidos por agentes da CIA, do FBI e outras agências federais.
Bush alega que os presos são ilegais por serem combatentes da Al-Qaeda. Esquece-se o presidente de que eles eram integrantes do exército talibã. Lutavam, pois, em nome de um governo. Estão, portanto, protegidos pelo tratado que cuida das salvaguardas de combatentes aprisionados pelo inimigo. Mais: esquece-se de que são humanos. E todo humano tem direitos. Direitos que devem ser respeitados.
A posição dos Estados Unidos preocupa. O medo é que a grande potência não cumpra as leis internacionais que lhe contrariem os interesses. Em um ano de mandato, Bush não ratificou o Protocolo de Kioto, que obrigava os Estados Unidos a entrar na luta mundial pela diminuição de gases poluidores. Recusa o tratado antimíssil (1972) porque deseja construir o escudo espacial. Opõe-se ao acordo de não proliferação de armas químicas por não querer abrir as instalações norte-americanas à fiscalização internacional.Os enjaulados de Guantánamo, portanto, não constituem caso isolado. Tudo indica seja mais um capítulo de rejeição das leis internacionais. Corre-se o risco de a maior potência do planeta só cumprir acordos que atendam a seu interesse. É um enorme retrocesso.
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02/18/2002
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