Presidente da CRA lamenta cortes nos orçamentos das pastas da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário



Ao abrir audiência pública que tratou do financiamento da safra 2009/2010, nesta terça-feira (31), o presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), senador Valter Pereira (PMDB-MS), lamentou o anúncio do governo de que serão feitos cortes, nos orçamentos deste ano, de 47% nas dotações do Ministério da Agricultura e de 31,5 % nas do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

- A agricultura, a despeito do potencial que tem para contribuir com as contas públicas, sofre um duro revés. Essa postura, embora se justifique em razão da crise, talvez reflita um equívoco na definição de prioridades, já que está prevista uma redução nos estoques mundiais de alimentos - disse.

Autor do requerimento para a audiência, o senador Romeu Tuma (PTB-SP) chamou a atenção para a importância de se reduzir os custos incidentes sobre o escoamento da produção agrícola, por meio de soluções intermodais de transportes. Tuma também aprovou a ideia de o Brasil investir mais na qualidade do que no crescimento da produção agrícola - a proposta foi defendida no debate pelo professor Guilherme Dias, da Universidade de São Paulo (USP), que também assessora a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) e representou a entidade na audiência.

- Apesar de o Brasil ser grande produtor de café, lá fora a propaganda é de que a Colômbia faz o melhor café. O melhor é investir na qualidade, já que o excesso de produção provoca queda de preços - disse Tuma.

O senador Osmar Dias (PDT-PR) aproveitou para questionar o enfoque habitual, adotado pelo próprio governo, de apresentar como questões distintas a agricultura familiar e a empresarial. Segundo ele, essa divisão é carregada de "ideologia" e reforçaria discurso dos que combatem o agronegócio, na visão de que não haveria integração entre esse segmento e a agricultura familiar.

- É uma concorrência inútil, que pode prejudicar agricultores na busca por crédito e outros instrumentos de política. O governo deve mudar esse conceito - aconselhou.

Osmar Dias pediu ainda aos participantes da audiência pública detalhamento das informações sobre inadimplência no crédito rural, situada ao redor de 14,5% sobre o volume financeiro das operações. Em resposta, o professor Guilherme Dias disse que as estatísticas ainda são incompletas, o que vem dificultando a formulação de políticas no país. Segundo ele, os dados atuais refletem basicamente o crédito rural bancário, ficando de fora operações bancadas por exportadoras (tradings), agroindústrias e fornecedores de insumos. Mas confirmou que os níveis de atraso seriam reduzidos entre pequenos e médios agricultores familiares, com maior incidência nas fronteiras agrícolas, onde há maior peso nas operações de investimento do que no custeio da safra.

Gorette Brandão e Iara Altafin / Repórteres da Agência Senado



31/03/2009

Agência Senado


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