Programa de orientação reduz em 90% índice de gravidez entre adolescentes



Depois do sucesso no Vale do Ribeira, governo expande projeto a toda rede estadual de ensino

A região do Vale do Ribeira está conseguindo reduzir em 90% o índice de gravidez entre estudantes do ensino médio. O remédio que permitiu esse resultado não contém nenhum hormônio em sua fórmula, tão-pouco tem nome complicado. Chama-se Vale Sonhar, projeto da Secretaria de Estado da Educação, que em parceria com o Instituto Kaplan – Centro de Estudos da Sexualidade Humana, levou orientação, diálogo e conhecimento aos alunos de 14 municípios da região. O número de meninas grávidas caiu de 360, em 2004, para 72 em 2005 e 30 em 2006. A tendência mostra que em 2007 e 2008 os porcentuais serão ainda menores. Os números animadores levaram o governo do Estado a decidir expandir o projeto para toda a rede estadual de ensino, beneficiando aproximadamente 600 mil alunos de 3,6 mil escolas públicas.

O projeto-piloto foi implantado há quatro anos em 14 cidades do Vale do Ribeira, região paulista que apresenta o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – indicador que mede o nível de desenvolvimento humano dos países, utilizando como critérios riqueza, alfabetização, educação, esperança média de vida, natalidade, entre outros fatores. “Estávamos necessitando muito de uma iniciativa como essa, por causa da liberdade excessiva que o jovem tem em relação ao sexo, quase sempre sem responsabilidade, em decorrência da falta de conhecimento”, avalia a gestora do projeto, professora Narcisa Mendes Silveira.

Viagem ao futuro – Tudo começou nas férias de final de ano, durante o Programa Escola da Família, quando um grande número de jovens da comunidade utiliza os espaços da escola para atividades diversas. De lá para cá o projeto vem-se repetindo anualmente, sempre com resultados promissores. Por meio de três oficinas (Despertar para o sonho, Nem toda relação sexual engravida e Engravidar é uma escolha), os alunos com idades entre 13 e 14 anos são levados a identificar qual é o seu sonho e a transformá-lo em projeto de vida. Reconhecido o projeto, é hora de embarcar numa viagem ao futuro pelo túnel do tempo. Na volta, são estimulados a relatar suas experiências sob duas hipóteses: estando “grávidos” e “não-grávidos”, refletindo sobre qual das duas condições teria maior impacto sobre a realização dos seus projetos de vida.

Na segunda oficina, os jovens aprendem a conhecer o próprio corpo e o funcionamento do sistema reprodutor humano, por meio de jogos e exposições ilustrativas. Por fim, os educadores apresentam os diversos métodos de contracepção, com ênfase à camisinha, sempre destacando a importância da prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). “As oficinas levam o jovem a sentir e conhecer experiências concretas sobre as conseqüências de uma gravidez precoce e o obstáculo que ela representa à realização de seus sonhos”, explica Narcisa, vice-diretora da Escola Estadual Antônio Duarte de Castro, na cidade de Jacupiranga.

A adesão, segundo ela, foi ampla. A cada nova oficina, aumentava o número de participantes. “Quando percebemos que eles faziam a primeira oficina e retornavam no final de semana seguinte para assistir à segunda, começamos a acreditar que daria certo”. Muitos adolescentes que passaram pelo projeto em 2004 atuam como multiplicadores, sendo muitas vezes convidados para levar a iniciativa às cidades vizinhas.

Interesse e participação – A professora relata que o simples fato de os alunos serem incentivados a contarem os seus planos, por mais inatingíveis que pareçam, e serem ouvidos com seriedade e respeito, torna-os mais seguros, confiantes e menos agressivos. “Ver a participação ativa, o interesse e a confiança expressa naqueles rostos nos dá a satisfação de ter conquistado algo importante. Podemos dizer que a partir desse momento ‘ganhamos aqueles meninos’”, ressalta. “Porque nos tornamos uma espécie de confidentes deles”.

O sucesso foi tão grande que o método começou a fazer parte do currículo escolar dos municípios do Vale do Ribeira, passando a ser aplicado interdisciplinarmente. Os resultados foram melhora na freqüência e nas notas, maior participação nas aulas e vontade de aprender e, conseqüentemente, a diminuição da evasão escolar. “O aluno desenvolve condições de alçar vôo, de ter uma conduta mais orientada. Para nós, o Vale Sonhar trouxe a constatação de que a gravidez precoce pode ser evitada”, conclui Narcisa.

Com a expansão do projeto, a Secretaria da Educação pretende incluir os cuidados da prevenção contra a gravidez precoce na disciplina de Biologia para alunos do primeiro ano do ensino médio de toda a rede estadual, já no segundo semestre de 2008. Haverá capacitação de aproximadamente dez mil educadores, com supervisão técnica e acompanhamento das oficinas. Ao todo, sete mil kits com material de apoio serão distribuídos nas três oficinas direcionadas aos estudantes. A viabilização da iniciativa também conta com o apoio dos Laboratórios Pfizer, da Fundação Social Itaú e da Fundação Schering.

Acesso aos contraceptivos

Em 2007, o Estado de São Paulo teve o menor número de adolescentes grávidas dos últimos dez anos, segundo o mais recente balanço da Secretaria Estadual da Saúde, realizado com base em dados da Fundação Seade. Foram registradas 96,5 mil ocorrências de gravidez em menores de 20 anos de idade ante 100,6 mil em 2006. Há dez anos, esse número era de 148 mil.

Desde 1996 a secretaria tem adotado modelo de atendimento integral à adolescente e investido em palestras e cursos de capacitação para profissionais da área da saúde. Em julho de 2007, ampliou o acesso a métodos anticoncepcionais, oferecendo contraceptivos comuns em 20 unidades da Farmácia Dose Certa, situadas em estações de Metrô, trem e centros de saúde da capital. No interior, litoral e Grande São Paulo, passou a enviar anticoncepcionais, pílulas do dia seguinte e Dispositivos Intra-Uterinos (DIUs), para serem distribuídos em Unidades Básicas de Saúde (UBS), em complemento ao repasse do governo federal.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



07/13/2008


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