Programa Fábricas de Cultura oferece nova forma de inclusão social



Projeto que tem 1.200 colaboradores, começa a ganhar forma com a apresentação do espetáculo Pedrinho Luz

O Programa Fábricas de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura, ainda não figura nos compêndios da arte cênica nacional, mas seu primeiro resultado já aparece e é comentado em várias regiões da cidade. Mais: é aguardado com ansiedade por 1.200 jovens que dele participam, além de uma equipe de apoio que inclui diretores de teatro, bailarinos, diretor musical, artistas circenses, percussionista, coordenadores, arte educadores, agentes culturais.

Prova disso é o balé Pedrinho Luz, adaptação do balé Petrouchka, originalmente montado na Rússia (1830) por Diaghilev, com música de Igor Stravinsky. Ao contrário do balé russo, que se inspira em figuras do folclore local, comuns nas feiras de São Petersburgo e nas comemorações profanas que precediam a Quaresma, Pedrinho Luz (referência ao projeto-piloto na Estação da Luz) foi buscar o Carnaval como fonte de idéias. “Optamos pelo Carnaval como tempo da ação, mais próximo da nossa cultura popular”, diz o coordenador do programa, Luiz Nogueira. Em meio aos festejos populares, desenrola-se a trama: Pedrinho, um boneco de marionetes, se apaixona pela bailarina, que gosta de Átila. Lançado oficialmente no final de dezembro de 2007, no Centro Educacional Unificado (CEU Paz), na Vila Brasilândia, o espetáculo seguiu com apresentações em outras unidades do CEU, janeiro adentro. Para, finalmente, ter sua estréia em temporada aberta ao público, no Teatro Sérgio Cardoso, na segunda quinzena de fevereiro.

Cor local

Ao todo são dez montagens do balé Pedrinho, encenadas em diferentes bairros da capital: Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Sapopemba, Vila Curuçá, Brasilândia, Cachoeirinha, Jaçanã, Capão Redondo, Jardim São Luiz e Luz. Todos igualmente inspirados na matriz cênica de Petrouchka, em que os participantes recriam esta fábula revelando o tom de cada comunidade. Num primeiro momento, as ações contemplam jovens de 14 a 19 anos, moradores em áreas socialmente críticas da capital, de acordo com o índice de Vulnerabilidade Juvenil – IVJ, da Fundação Seade. Na verdade, as áreas de desenvolvimento do projeto terão investimentos do governo do Estado de cerca de US$ 30 milhões até 2010, recursos do orçamento da Secretaria da Cultura e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que serão aplicados na construção de unidades das Fábricas de Cultura naqueles bairros. Já em 2008, as três primeiras “fábricas” começam a ser construídas nos bairros de Sapopemba, Capão Redondo e Vila Nova Cachoeirinha. Ainda neste ano, mais investimentos, de US$ 3,5 milhões, serão destinados à criação de 1.200 vagas para atividades culturais nas áreas de circo, teatro, dança e música.

Enquanto Pedrinho Luz, batizado de “pilotinho”, do qual participam 42 adolescentes, ganha os palcos de São Paulo, há intensa movimentação nos bastidores do Programa Fábricas de Cultura. Nas zonas Norte, Leste e Sul, onde é desenvolvido, o projeto segue em ritmo frenético, como numa grande produção teatral. Os outros nove espetáculos, com 125 jovens cada um, estão em fase de produção, com ensaios três vezes por semana, nas unidades dos CEUS, também parceira do Fábricas.

Trata-se de uma cooperação entre Estado e Município em que as programações são realizadas em parceria com os CEUS e o Centro Cultural da Juventude (CCJ). Para reforçar os laços com a comunidade, o programa realiza ações por meio de Ongs e associações socioculturais presentes naquelas localidades, denominadas pelo projeto de EAs (entidades associadas), explica o coordenador. “O projeto está estruturado em vivências contínuas, realizadas nas EAs e nos CEUS”, diz Nogueira.

Com duração de dez meses, três horas por dia, três vezes por semana, as atividades darão origem a um espetáculo por distrito. “Essa dinâmica permite a reflexão sobre as questões de sociabilidade dos grupos, ampliação do universo cultural e de formação do cidadão, segundo o coordenador. “Todos os espetáculos farão itinerância pela rede de CEUS, de modo que as comunidades das regiões escolhidas possam assistir a todas as montagens realizadas ao longo do ano.”

A grande chance

Em meio a um ensaio no CEU Jaçanã, dois jovens sorridentes e entusiasmados chamam a atenção no grupo com 60 participantes – no programa são colaboradores, em substituição a alunos, esclarece o encenador Heron Coelho: “Para tirar um pouco a marca de curso, escola, aula.”

Aline Paz da Silva Gusmão, 17 anos, 3º colegial, e Rodrigo Ferreira, 19, foram selecionados, após descobrirem num Telecentro o anúncio que mudaria o rumo de suas vidas. Os jovens têm coisas em comum: Aline dança desde os 9 anos e quer ser professora nessa modalidade; Rodrigo tem paixão especial pelo axé, de onde tira parte do seu sustento, dançando nas casas noturnas da região. Segundo eles, Fábricas de Cultura constitui oportunidade única de crescimento e aprendizado. “Não podemos dispensar de jeito nenhum essa chance, é tudo o que eu queria e um pouco mais”, diz Aline. A mesma opinião tem Rodrigo: “É diferente de tudo que conheci até então, aprendi a falar, a respirar, a ter melhor postura e concentração, enfim, estou me redescobrindo.”

Além de um lanche oferecido nos ensaios, os colaboradores recebem bolsa-auxílio de R$ 50 por mês, ajuda providencial na opinião deles. “No meu caso, dá para pagar uma conta de luz, de água e até a prestação do Cingapura”, comenta Rodrigo.

Como os colaboradores, também estão empenhados o diretor de cena, Heron, a agente cultural do distrito Jaçanã, Doris Lenate, e a arte educadora de cultura, Ligia Cortellazzi Garcia.

“É uma equipe grande para cada região, e acima de tudo, coesa, no que diz respeito à elaboração do programa”, conta Heron, atualmente na direção de Calabar, no Sesc da Paulista. Segundo ele, o programa é semanalmente trabalhado na Secretaria da Cultura, analisado, com novas idéias propostas.

“O projeto todo é muito novo, tanto para os jovens, quanto para a equipe. Mas é justamente isso que faz dele um desafio altamente estimulante”.

A Secretaria convidou o diretor de teatro Márcio Aurélio, a crítica de dança e bailarina Inês Bogéa, o artista circense Marco Vettore e o percussionista e diretor musical Ari Colares para desenvolver as atividades. Eles contarão com uma equipe de 12 profissionais em cada distrito. “Trouxemos profissionais de primeiro time para dar qualidade ao projeto”, diz o secretário de Estado da Cultura, João Sayad.

 

Maria das Graças Leocádio

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)



02/07/2008


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