Rede de assistência não atende a demanda de dependentes químicos, dizem especialistas



O descompasso entre a rede de assistência social e à saúde e as demandas dos dependentes químicos foi evidenciado no quinto painel do ciclo de debates realizado nesta quinta-feira (26) pela Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, "Crack" e Outros. A escassez de investimentos públicos foi apontada como agravante dessa situação, fragilizando o atendimento a cerca de 18 milhões de brasileiros que convivem com esse drama.

Segundo adiantou o representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), Ricardo Albuquerque Paiva, apenas R$ 5 milhões dos R$ 400 milhões previstos no Orçamento da União para o setor foram efetivamente gastos em 2010. Ele também reclamou da falta de uma rede de assistência instalada no país para se proceder à internação do dependente para desintoxicação.

Problema semelhante foi levantado pelo presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Carlos Alberto Salgado, que denunciou a redução de vagas ambulatoriais e de internação nas áreas de dependência química e saúde mental nos últimos 20 anos. O psiquiatra revelou ainda o avanço no uso de crack por mulheres grávidas, com danos ao feto agravados pelo corriqueiro uso associado ao álcool.

A exposição precoce a entorpecentes pode predispor o indivíduo ao seu consumo no futuro. A hipótese foi admitida pelo psiquiatra Esdras Cabus Moreira, coordenador do Centro de Estudos e Terapias do Abuso de Drogas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em resposta a indagação do senador Waldemir Moka (PMDB-MS) sobre a predisposição de algumas pessoas à dependência química. Essa circunstância acabaria por contestar, segundo o médico, a crença de que o uso do crack leva necessariamente todo consumidor à morte.

De acordo com estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), citado por Ricardo Paiva, o crack leva um terço de seus usuários à morte, ocasionada, em 85% dos casos, não pelo seu uso, mas por situações violentas associadas ao consumo.

De qualquer modo, o presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (Conead), Aloísio Antônio Andrade de Freitas, alertou para o fato de que o processo de "demenciação" desencadeado pelo uso de crack e oxi - subprodutos da cocaína - é rápido e, uma vez instalado, irreversível.

Interesses do mercado

Durante os debates, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) questionou as perspectivas de aplicação de uma vacina para prevenir o consumo de drogas. Em resposta, o médico Ricardo Paiva informou que essa imunização ainda não está sendo usada como ferramenta de prevenção no país.

Já a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) ressaltou a importância de essa subcomissão temporária não focar apenas no combate ao crack e levar em conta os interesses de mercado envolvidos na dependência química.

Por fim, o presidente da subcomissão, senador Wellington Dias (PT-PI), comunicou a participação dos senadores em Encontro Internacional sobre Políticas de Enfrentamento ao "Crack" e outras Drogas, que será realizada nesta sexta-feira (27), em Ponta Porã (MS), e em comitiva da Frente Parlamentar Antidrogas a Maceió (AL) e Teresina (PI) nos dias 9 e 10 de junho.



26/05/2011

Agência Senado


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