Revista História: 31ª edição traz dossiê sobre Última Hora
Em sua 31ª edição, correspondente ao bimestre junho/julho, a Revista Histórica apresenta-se de forma temática com o dossiê Última Hora. Algumas razões podem ser levantadas para justificar tal escolha editorial: a relevância deste jornal na trajetória de 200 anos de imprensa no Brasil, sua importância para a história cultural e política do país e a intensa produção historiográfica focada na imprensa como fonte.
Ressalta-se, no entanto, o fato de que o jornal Última Hora é a base de um importante projeto de acessibilidade digital realizado pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, realizado em parceria com a AMD, empresa fabricante de processadores, e Associação de Amigos do Arquivo. “Esta edição conta com 5 artigos que tratam de uma pequena parte da diversidade de análises que esta fonte permite e das relações que suscita”, explica Lauro Ávila, diretor do Departamento de Preservação e Difusão da Memória.
O texto de Danilo Ferrari, por exemplo, trata da primeira aventura de Samuel Wainer, fundador e proprietário do Última Hora (UH), no mundo do jornalismo. É através da revista Diretrizes que Wainer entra para as rodas jornalísticas.
Embora não tenha lhe ofereceu a visibilidade que o UH daria anos mais tarde, foi em Diretrizes que Wainer teve a primeira experiência de direção editorial e onde pode experimentar algumas inovações de estilo que se consagraram posteriormente no jornal. É, inclusive, no estilo editorial do UH que se concentra o trabalho de Alexandre Godoy. O autor analisa a forma como as notícias policiais aparecem nas páginas do UH, sobretudo na coluna ‘Na Ronda das Ruas’, em sua narrativa em tom realista que expressava a visualidade da notícia.
Trata-se da entrada da linguagem do fait divers no jornalismo brasileiro. E com estilo todo particular, também Adalgisa Nery, colunista do UH, atacava seus opositores políticos e defendia o nacionalismo getulista. O artigo de Isabela Campoi volta sua atenção à trajetória da escritora da coluna ‘Retrato Sem Retoques’, que encontrou ali espaço para o debate de idéias. A defesa de seus ideais rendeu a Adalgisa a eleição como deputada constituinte da Guanabara em 1960, mas também diversas inimizades políticas.
A Inimizade, intrigas e conflitos entre Carlos Lacerda, Tribuna da Imprensa, e Samuel Wainer é o foco de análise de Marina de Mendonça. Não só questões político-ideológicas que estiveram no centro das disputas, mas também a dinâmica do fracasso editorial de um e do sucesso de outro são analisadas neste artigo. A autora destaca as ligações políticas dos dois personagens em foco, mostrando a influência de Getúlio Vargas sobre a trajetória empresarial de Wainer.
Por fim, o artigo de Luis Carlos Martins investiga um momento bastante expressivo do governo de Vargas – a criação da Petrobrás – e o posicionamento do jornal Última Hora a este respeito. Analisa o discurso do jornal como um dos esteios de sustentação da campanha nacionalista pelo petróleo, movimentando-se no debate entre as propostas mais e menos estatizadoras (MG).
08/11/2008
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