Sarney participa em Montevidéu da celebração dos 25 anos de redemocratização do Uruguai



O presidente do Senado Federal, senador José Sarney, participou, nesta segunda-feira (19), em Montevidéu, das comemorações dos 25 anos de redemocratização daquele país. Em seu discurso, durante solenidade no Palácio Legislativo, Sarney disse o momento tinha o "especial significado simbólico de abrir as janelas do tempo, pensar em nossos temores, em nossos avanços, na realidade de que hoje vivemos em um mundo melhor e sentir que cada um de nós pôs uma pedra nesse edifício".

- Estamos aqui reunidos para recordar o fim da trágica experiência autoritária em nossos países e muito particularmente os 25 anos da redemocratização uruguaia, obra de engenharia política conduzida por Julio María Sanguinetti - disse Sarney, lembrando que coube a Sanguinetti o papel decisivo nas conversações com as Forças Armadas que tornaram possível a reinstauração da democracia.

Sarney fez um breve histórico da onda de redemocratização que há 25 anos varreu a América do Sul - "a maior desde a 2ª Guerra Mundial", citando o Peru, o Equador, a Bolívia, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, o Chile e o Brasil, onde ele próprio assumiu a Presidência da República.

Manifestou o seu orgulho pelo papel que desempenhou, junto com Raúl Alfonsín (Argentina) e Julio Maria Sanguinetti (Uruguai), no encaminhamento, "sem sustos nem sobressaltos, desses processos de democratização".

Sarney lembrou que as perguntas que se faziam então eram as mesmas que se fazem hoje: Como conciliar democracia, transição e governabilidade em países com instituições frágeis, estruturas débeis, de atraso econômico? Como consolidar a democracia nos países pobres?

- Era difícil convencer aos que não tinham pão nem emprego que não eram os valores da democracia que estavam em crise, mas a realização imperfeita desses valores.

As dificuldades da transição

Ressaltou que a transição é a mais difícil de todas as etapas políticas para se administrar em um processo de redemocratização, "uma obra de grande sabedoria e complexidade que exige uma postura de renúncia total e humildade", além de experiência. Acrescentou que a transição tem um alto preço político e "tem sido a tumba de grandes estadistas".

- Transforma heróis em vilões, santos em demônios e, às vezes, democratas em ditadores - disse o senador.

Na transição, disse Sarney, é preciso lutar sempre com os contestadores que ameaçam permanentemente a estabilidade, resistir às resistências, fazer um pacto aberto para todos, começando pela sociedade civil, em todos os seus segmentos.

- É mais difícil cicatrizar feridas e trabalhar para unir o país pela anistia, e lutar por ela cuja construção está ligada ao mais difícil ensinamento cristão: perdoar aos inimigos. O êxito da transição brasileira se deve ao fato de que foi realizada sem revanchismos - afirmou.

Passada a tempestade do difícil período de transição, disse o senador, chegam as realizações, "que já não são nossas, que estávamos ao timão; governar é sempre semear sem olhos para a colheita".

Sarney ressaltou que o Brasil é hoje uma das grandes democracias do mundo, com 134 milhões de eleitores e que suas instituições estão consolidadas.

- O Brasil chegou aos 120 anos de República em 2009 e encerrou um ciclo de sua evolução política. Temos não somente instituições políticas sólidas, porém também uma sociedade verdadeiramente democrática - afirmou.

Mercosul

Em seu discurso Sarney também lembrou que os países da América do Sul, ao longo da História, tinham seus olhos voltados o hemisfério norte e viviam "de costas uns para os outros". Disse que, ao chegar à Presidência, deu-se conta que as relações do Brasil com a Argentina não podiam seguir com reservas e que era preciso por fim às hipotecas da Historia "que nos mantinham dependentes de desconfianças recíprocas".

- Tínhamos que iniciar uma relação com a Argentina para mudar também, nossa relação com o continente - disse.

Destacou a importância da presença, no governo da Argentina, naquele momento, de Raúl Alfonsín, sem o qual, disse, seria impossível fazer a integração.

- Ele, com visão histórica de estadista maior, assinou os acordos básicos que se desdobraram na construção política que hoje é o Mercosul - recordou.

Sarney lembrou ainda a participação de Julio María Sanguinetti, presidente do Uruguai à época, "grande estadista, intelectual e historiador, com grande sensibilidade política", que apoiou a aproximação entre Argentina e Brasil. Ele classificou Sanguinetti, a quem chamou de "extraordinário homem público, com grandes serviços prestados ao continente", como "um patrimônio do Uruguai, com visibilidade e respeito internacional".

Com a criação do Mercosul, ressaltou Sarney, houve grande expansão do comércio entre os países membros, que não pode ser desprezada e que já está incorporada as suas relações.

- O Mercosul é irreversível, é um caminho sem retorno - disse.

Sarney reconheceu que o Mercosul é, ainda, um projeto incompleto e teve distorsões que não estavam na visão inicial de sua criação e disse que os países membros precisam "refundar" suas utopias

Para Sarney "é essencial pensar na construção de uma arquitetura política do Mercosul e na expansão e nofortalecimento de suas instituições com sede em Montevidéu. Ele acredita que essas medidas terão repercussão tanto em cada um dos países membros como no relacionamento da América do Sul com o resto do mundo.

Sarney manifestou sua concordância com o presidente do Uruguai, José Mujica, dizendo o Brasil, por ser maior, deve pagar o preço de seu tamanho e aceitar maiores sacrifícios com vistas a atenuar as assimetrias.

- Não podemos pensar pequeno, entrarmos em querelas estéreis, em imbróglio de interesses menores, sejam políticos ou econômicos.

Uruguai

Sarney afirmou que, ao sair desses 25 anos, os mais estáveis e prósperos da Historia da América do Sul, o Uruguai "mostra que o caminho do desenvolvimento passa pela democracia". Ele saudou o Uruguai de hoje "em sua paz e em sua busca de união e de bem-estar para seu povo".

O senador vaticinou que o futuro do mundo não será de países grandes ou pequenos, mas dos que dominem tecnologias e tenham recursos humanos. "Um espaço de todos, sem fronteiras, unido pelo domínio da liberdade e pelo direito à felicidade".

Encerrou com palavras ditas em discurso que proferiu no mesmo lugar, em 1985, quando de sua visita ao Uruguai, na primeira viagem oficial ao exterior que fez depois de assumir a Presidência da República.

"O Uruguai é um país extraordinário que ao longo de sua historia afirmou seus valores próprios, lutou por eles, viveu com eles e se impôs pela extraordinária força de seu povo. Seus heróis, seus homens públicos, suas tradições, seus escritores e artistas, seus políticos criaram esta grande nação que, pequena em tamanho, é imensa por seus valores".



19/07/2010

Agência Senado


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