Saúde: Hospital Universitário utiliza cães para ajudar na cura de pacientes
Crianças e adolescentes em tratamento esperam ansiosos a visita dos que apresentam truques ensaiados
Pincel é, sem dúvida, a visita semanal mais aguardada no hospital. Sempre de banho tomado e perfumado, o cachorro entra nos quartos da ala infantil do Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP) e já vai fazendo brincadeiras. Se ninguém impede, o gracioso cãozinho não hesita em pular e se esparramar na cama ao lado do paciente. Ninguém reclama. Pelo contrário, ainda recebe carinho. O voluntário Sérgio Mendes acompanha o animal em todas as visitas e recebe vários pedidos no corredor do hospital. As mães correm até ele: “Minha filha está louca para ver o Pincel, depois, o senhor passa no quarto 410?”
A visita faz parte do Programa Amor na Coleira, que leva cachorros especialmente treinados para os hospitais. O objetivo é proporcionar minutos de alegria que possam distanciar da rotina hospitalar os jovens internados. Além de adestrador, Sérgio é um pesquisador do comportamento canino. Lida com cães desde o início dos anos 60, quando estudava marketing nos Estados Unidos e se hospedava na casa de uma família que adestrava cães. Fez cursos na USP e estágios nos EUA, convivendo por um período com lobos, no Wolf Park, no Estado de Indiana.
Depois de visitar hospitais norte-americanos que utilizam cães na recuperação de pacientes, decidiu colocar em prática sua experiência. Há quatro anos leva semanalmente cães adestrados ao HU. São cachorros da raça Golden Retriever (como Pincel), Lhasa Apso e uma vira-lata, prestes a se aposentar. Sérgio busca os cães na casa dos proprietários, dá banho e os leva para as visitas hospitalares.
Resgatando o cotidiano
O pequeno Guilherme dos Santos Santana, seis meses de idade, aprovou. No colo da mãe, esticou os braços para acariciar o animal, que tem o dobro do seu tamanho. A mãe, Íris dos Santos Andrade Santana, gostou da idéia: “Achei bem legal porque ajuda a trazer alegria para as crianças”. Rodolfo Alves da Silva, 14, foi logo para o corredor: “Não esperava ver um cachorro aqui. Ajuda a passar mais rápido o dia”. Para o garoto, a visita o auxiliou mais ainda. Depois de vários dias internado, aguardava ansiosamente a última medicação no soro para ter alta. Luciene Lima Zuza, madrasta do Rodolfo, comemorou: “Acho que as crianças ficaram bem mais felizes. O Rodolfo ficou superfeliz”.
Pincel foi ao quarto do menino, deitou na cama e apresentou números ensaiados com o adestrador Sérgio. Depois da visita, a enfermeira apareceu com a medicação que faltava. Rodolfo anunciou rapidamente que estava pronto: “Deixa eu só lavar minha mão porque estava brincando com o cachorro”. Enquanto se preparava, agradeceu ao novo amigo: “Tchau, Pincel. Foi um grande prazer conhecê-lo”.
Fernanda Gomes da Silva, 13 anos, também aprovou. “É bem diferente. Não é todo dia que você entra num hospital e encontra um cachorro. Eu estava desanimada, adorei a visita”, diz Fernanda, que tem quatro cachorros em casa. Sua mãe, Severina Gomes da Conceição, aproveitou a visita para matar a saudade de seus animais: “Sou apaixonada pelos cachorros. O Pincel é lindo demais e muito inteligente”.
A técnica de apoio educativo Daniela Ribeiro Linhares comenta que relatos sobre o excelente convívio entre animais e pessoas existem desde o começo da Humanidade. “A hospitalização traz a quebra da rotina para adultos e crianças. Ter um espaço para brincar e receber a visita de um cão é o resgate do cotidiano. Ameniza a internação e faz com que a criança tenha recordações do mundo exterior”, acrescenta a técnica, que desenvolve trabalhos recreativos na Brinquedoteca do HU.
Reabilitação
Na ala infantil do hospital, as crianças têm grande espaço para brincar e os pais podem ficar com elas. Não é raro vê-los montando quebra-cabeças para ajudar a passar o tempo da internação. Nos corredores, o visitante precisa tomar cuidado para não ser atropelado. Carrinhos de plástico ficam “estacionados” em vagas no final do prédio. As crianças podem passear por todo o andar. Além das visitas, os cães são utilizados – há dois anos –, no tratamento de reabilitação do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP. Desde o início do ano, o trabalho do Amor na Coleira
05/16/2006
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