Saúde: Instituto Central do HC ganha prêmio de melhor gestão hospitalar
Homenagem é concedida a instituições que garantem avanços na qualidade do atendimento
Um novo modelo de gestão estratégica, baseado em diálogo e ações direcionadas com adesão de todos os funcionários, foi essencial para que o Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC), da Faculdade de Medicina da USP, recebesse o Prêmio Nacional da Gestão em Saúde (PNGS), edição 2005/2006, na categoria Prata. A instituição é o primeira do País a ganhar a premiação. A cerimônia de entrega será no dia 21, na Feira Hospitalar (Expo Center Norte). Com a conquista, o ICHC se prepara para mais um desafio: vencer o Prêmio Nacional da Gestão em Saúde – categoria Ouro.
O prêmio é concedido pelo Programa Controle de Qualidade Hospitalar (CQH), da Associação Paulista de Medicina e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, a instituições que se destacam por práticas de gestão bem-sucedidas, que garantem avanços na qualidade do atendimento. Os resultados foram anunciados no dia 22 de maio. O ICHC concorreu, na categoria Prata, com várias instituições, como hospitais das redes pública e privada, laboratórios de patologia clínica, clínicas de especialidades médicas e empresas de atendimento domiciliar (home care) de todo o Brasil. Esta categoria é indicada a entidades que disputam pela primeira vez.
Trabalho em equipe
A avaliação passou por duas etapas. Na primeira, o Instituto Central submeteu ao Prêmio Nacional de Gestão em Saúde relatório da gestão para avaliação da banca examinadora e de um corpo de juízes. Aprovado nessa etapa, o instituto recebeu a visita de examinadores, de diversas regiões do País, para análise mais aprofundada das informações contidas no relatório. Essa segunda fase durou três dias. Para alcançar o reconhecimento, o diretor-executivo do ICHC, dr.Waldemir Rezende, reuniu toda a equipe para análise do planejamento estratégico definido em 2003, estabelecimento da missão, visão e valores e consolidação das diretrizes, após exame do ambiente interno e externo.
As práticas de gestão, apoiadas pelo Conselho Diretor (Condir), valorizaram as soluções que fortalecem a instituição e definiram planos de ação que projetaram o hospital no contexto da moderna administração. “O excelente desempenho do grupo foi fundamental para obter nossa meta”, avalia Rezende.
Ações concretas
O diretor explicou que o diálogo foi decisivo para mudar algumas atitudes, tanto no relacionamento entre profissionais como na metodologia de trabalho e no orçamento hospitalar. Os funcionários foram divididos em equipes, que analisavam os pontos fracos e fortes de cada setor e reuniam-se semanalmente buscando soluções para problemas de todos os níveis. Um exemplo prático foi o que ocorreu com a compra de fios cirúrgicos. Como o preço do fio de seda (que é absorvido pelo organismo) estava alto – R$ 26 a caixa –, o instituto propôs a mudança para o fio tradicional, de náilon, que deve ser removido. Os médicos concordaram com a modificação. Porém, quando foi aberto o pregão para a compra do fio de seda, o mesmo fornecedor diminui o preço para R$ 7 a caixa. Outro exemplo de economia foi a substituição de tesouras descartáveis utilizadas na videolaparoscopia, que custavam R$ 2 mil a unidade, por tesouras permanentes, com dois anos de garantia, cujo valor gira em torno de R$ 700.
Os gastos com materiais descartáveis caíram de R$ 70 mil/mês para R$ 10 mil/mês. Com isso, ganharam os funcionários, pacientes e usuários do hospital. O dinheiro economizado permitiu várias benfeitorias: reforma dos vestuários do centro cirúrgico, das calçadas de acesso ao instituto, do centro cirúrgico, dos cinco elevadores e do sistema de segurança; construção de rampa na porta principal do 5º andar do ICHC; aquisição de novos assentos para os pacientes, de cadeiras de roda para atender doentes ambulatoriais e de arcos cirúrgicos (raio X utilizado em centro cirúrgico); e ampliação de 18 leitos da UTI de Pronto-Socorro e de 13 nas unidades de geriatria e cirurgia vascular.
Recorde de cirurgias
A sintonia entre as equipes pôde ser sentida diretamente pelos pacientes. Em março, o ICHC bateu recorde de cirurgias. Foram 2.176 procedimentos cirúrgicos, enquanto a média mensal é de 1,8 mil. O desempenho de cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, aliado ao programa de mutirões intensificado aos sábados, foi decisivo. O mutirão de cirurgia realizado pela Clínica Urológica, por exemplo, zerou a fila de espera dos enfermos com câncer de bexiga. Os procedimentos ocorreram, simultaneamente, em dez salas cirúrgicas e mobilizaram cem profissionais, direta e indiretamente.
No mês de março, os funcionários do ICHC passaram a ter noções básicas para uso, tradução e interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras). O curso, com duração de 60 horas, visa a facilitar a comunicação, reduzir a desigualdade e garantir às pessoas deficiência auditiva serviço adequado. Para conseguir ensinar melhor a linguagem, os servidores foram divididos em turmas de 25 alunos. Enfermeiros, atendentes de farmácia, porteiros, recepcionistas, secretárias, ascensoristas e seguranças foram os primeiros a aprender a Libras.
Relações harmoniosas
A conquista do prêmio não foi surpresa para a diretora administrativa do Prédio de Ambulatórios (Pamb), Rita de Cássia Siqueira. “Trabalhamos em harmonia, como uma orquestra. As mudanças que ocorreram nos departamentos e na instituição foram positivas, todos ganharam. Funcionários melhoraram sua auto-estima e os pacientes sentiram isso diretamente”, afirma. Segundo Rita, várias ações foram importantes para a mudança na cultura organizacional do ICHC. A primeira foi o Programa Fale com o Diretor. Todas as quartas-feiras, no período da tarde, Rezende recebe qualquer funcionário para ouvir os problemas que, porventura, ocorrem nos departamentos. “É uma porta aberta ao diálogo”. Sem identificar o servidor, Rezende reúne-se em seguida com os diretores e chefes de departamentos e discute as questões. “Muitas delas foram solucionadas, e, o mais importante, sem o medo de retaliação das chefias sobre os funcionários.” No início, Rezende recebia entre oito e dez servidores por semana. Atualmente, a demanda reduziu e passou para três casos, em média.
A instalação de caixas de sugestões nos relógios de ponto foi outra ação. Funcionários e pacientes podem participar. Todas as sextas-feiras, o Grupo da Hospitalidade recolhe as propostas e as direciona para os canais competentes. Segundo Rita, algumas foram aprovadas: mictório para anões, curso de Libras para funcionários, bebedouro com duas alturas e um fraldário para as mães que levam seus filhos para consultas. A terceira ação que beneficiou diretamente todos os funcionários e pacientes foi a criação do posto Posso Ajudar? O serviço é formado por cinco unidades, distribuídas entre o 4º e o 6º andar do prédio. Foi criado para atender as cerca de 10 mil pessoas que passam diariamente pelo Pamb. A média de atendimento nos postos é de 5 mil pessoas/mês.
Os funcionários selecionados para prestar serviço aos usuários da unidade hospitalar são os mais experientes e têm treinamento em primeiros socorros. Alguns que estavam desestimulados com a rotina do trabalho, ao passarem para esse departamento viram novo sentido em suas vidas profissionais: ajudar ao próximo.
O que é o PNGS
Desde a criação do Programa de Controle da Qualidade Hospitalar (CQH), em 1991, houve grande amadurecimento da gestão dos hospitais participantes. Hoje, mais de 170 hospitais participam do CQH, com representação superior a 10% do universo de hospitais/leitos do Estado de São Paulo, além de estabelecimentos localizados em outros Estados. O Prêmio Nacional da Gestão em Saúde (PNGS) foi instituído em 200 3 para estimular organizações do setor a buscar a excelência em seus sistemas de gestão, reconhecendo as que se destacam pela utilização de boas práticas e desempenho. Os critérios de avaliação do PNGS são liderança, estratégia e planos, clientes, sociedade, informações e conhecimento, pessoas, processos e resultados. Estão alinhados aos critérios de excelência do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ).
67 mil consultas por mês
O Instituto Central do Hospital das Clínicas atende mensalmente 67 mil pacientes em tratamento ambulatorial, que exige a dispensa de cerca de 70 mil receitas. O hospital dispõe de 998 leitos operacionais, 128 leitos de UTI e mais de 250 consultórios médicos. No atendimento de emergência, são recebidos diariamente 700 novos pacientes. Em 2005, foram internadas 40.267 pessoas, realizadas 23.518 cirurgias, 518 transplantes, 3,6 milhões de exames laboratoriais e preparadas 1,5 milhão de refeições. As práticas bem-sucedidas têm norteado os avanços na qualidade do atend
06/14/2006
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