Saúde: Três hospitais públicos de São Paulo estão entre os melhores do País



Hospital Geral de Pirajussara e hospitais estaduais de Sumaré e de Diadema receberam certificação máxima

O Hospital Geral de Pirajussara (no município de Taboão da Serra, na Grande São Paulo) e os hospitais estaduais de Diadema (também na Grande São Paulo) e Sumaré (no interior), todos vinculados à Secretaria da Saúde, estão entre os melhores do Brasil. Administrados pelo modelo de Organizações Sociais de Saúde (OSS), foram os primeiros da rede pública brasileira a receber a certificação nível 3 conferida pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), entidade do Ministério da Saúde. Considerado o mais alto padrão de certificação, o nível 3 (chamado de acreditação com excelência) assegura que essas unidades mantêm qualidade de assistência à saúde e de gestão. Apenas cinco hospitais brasileiros têm esse título, todos particulares. O único no Estado de São Paulo é o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Os demais são o Hospital Dia e Maternidade Unimed BH e o Mater Dei (ambos em Belo Horizonte), o Biocor Hospital de Doenças Cardiovasculares (Nova Lima, Minas Gerais) e o Hospital Vita Volta Redonda (Rio de Janeiro).

Para alcançar a certificação máxima, os estabelecimentos foram avaliados durante um ano por técnicos do Instituto Qualisa de Gestão, uma das empresas que realizam esse tipo de análise para a ONA. Todos os setores das unidades de saúde passaram por vistoria. No berçário, por exemplo, essa avaliação determina equipamentos específicos, médicos qualificados e demais quesitos. A acreditação não é obtida pelo destaque da instituição em algum tipo de serviço, mas por um conjunto de fatores, conforme explica Ricardo Tardelli, assistente técnico da Coordenadoria de Serviços de Saúde da secretaria. “Não é o fato de o hospital ter um serviço de excelência em neurocirurgia, por exemplo”, afirma. Depende, segundo ele, se isso está em conformidade com o que a ONA preconiza.

“A avaliação se fundamenta basicamente em rotinas e protocolos”, destaca Tardelli. “Para a população, esse tipo de certificação se traduz em qualidade e confiabilidade. Qualquer profissional da instituição vai ser treinado para desenvolver determinada ação da mesma forma. Qualquer um vai fazer curativo, administrar um medicamento de maneira similar.” Isso representa redução de risco de erro. “Significa que cada procedimento da instituição foi previamente estudado por especialistas e treinado por todos”, completa o assistente técnico.

Agilidade administrativa – Além do Pirajussara e os hospitais estaduais de Diadema e Sumaré, há outras 18 unidades da pasta administradas por OSS. No caso das duas primeiras, o gerenciamento está a cargo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A administração da unidade de Sumaré cabe à Unicamp. Desenvolvida desde 1998, essa alternativa de gestão – inspirada em modelo europeu – é pioneira no País. As unidades, construídas pelo governo paulista, mantêm vínculo com o Estado por meio de contrato de gestão de cinco anos, com possibilidade de prorrogação, que estabelece direitos e deveres a ambas as partes. O Estado tem a responsabilidade da manutenção financeira dos hospitais e controla onde e como é investido o dinheiro público. As OSS, por outro lado, devem cumprir as metas exigidas em contrato, como as relativas à qualidade dos serviços e à satisfação da população atendida.

“A maior vantagem desse modelo é a agilidade da administração”, explica Tardelli. A abertura de uma nova unidade hospitalar, por exemplo, depende de decreto (que cria a estrutura da instituição) e da aprovação de cargos. “Como o hospital é gerido com a lógica de uma instituição privada, pode contratar, compor seu quadro mais rapidamente”, ressalta. Nessas organizações é possível também administrar o dinheiro conforme a necessidade de cada setor, negociando o melhor preço que o mercado pode oferecer, sem depender de licitações.

Paralelamente, o Estado participa de tudo o que é realizado pelas administrações dos hospitais. A secretaria recebe relatório mensal de cada unidade, especificando todos os gastos, além de indicadores de produção e satisfação da população com o atendimento. Depois, esse relatório é repassado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), os representantes do Conselho Estadual de Saúde de cada região e a Assembléia Legislativa.

Balanço comparativo da Saúde revela que as unidades gerenciadas por OSS tiveram, em 2004, custo médio de internação 25,1% mais baixo do que as unidades de administração direta, embora tenham internado 43,2% mais pacientes. O levantamento reuniu 13 hospitais gerenciados por organizações sociais e outros 13 da administração direta, com perfis, níveis de complexidade, número de leitos, plantas físicas e orçamentos semelhantes. O valor médio de cada internação nas unidades baseadas em OSS foi de R$ 2.589, contra R$ 3.455 nos hospitais gerenciados diretamente pelo governo do Estado. As unidades geridas por essas entidades internaram 159 mil doentes no período analisado, ante 111 mil nas instituições de administração direta.

 No Pirajussara capacitação foi determinante

Antes de fazer parte do quadro de funcionários do Hospital Geral de Pirajussara, Deusvaldo de Souza, 36 anos, nunca tinha trabalhado em hospital. O ingresso coincidiu com o início do funcionamento da unidade, em 1999. Na época havia concluído apenas o ensino médio, e começou como auxiliar de almoxarifado. Com o incentivo à qualificação oferecida peloPrograma Proboles (bolsa de estudos do hospital), concluiu o ensino superior. Atualmente, é gerente de almoxarifado e cursa MBA. O aprimoramento profissional de Souza e de grande parte dos funcionários do Hospital Pirajussara – inclusive de seus diretores – foi um dos fatores determinantes para que a unidade alcançasse a certificação máxima concedida pela ONA. Esse preparo ocorreu graças à disposição da superintendência de buscar qualidade nos trabalhos realizados pela instituição e ao interesse dos funcionários nesse propósito.

O reflexo dessa capacitação na melhoria da gestão e dos serviços prestados se deu de várias maneiras, segundo Jorge Márcio Salomão, diretor-executivo do hospital. O setor de clínicas cirúrgicas, por exemplo, que engloba especialidades como ginecologia e ortopedia, passou a fornecer outro tipo de cuidado aos pacientes. Além de contar com um cirurgiãohabilitado numa especialidade, são monitorados por um clínico, que faz acompanhamento global, observando demais problemas, como hipertensão e diabete. Outro setor influenciado pela qualificação do quadro funcional foi o serviço de farmácia. Avaliado pela ONA como modelo, é bem diferenciado do que existe normalmente no País, observa Carlos Alessandro Lopes, gerente da farmácia do hospital. A divisão realiza, por exemplo, o fracionamento (diluição) de antibióticos em área limpa. Para desenvolver esse tipo de trabalho, conta exclusivamente com farmacêuticos e técnicos –muitos dos quais chegaram a essa condição pelas oportunidades de cursos oferecidos pelo hospital.

Referência – Maria de Fátima Santos, coordenadora administrativa da instituição, acredita que, sem profissionais habilitados, seria difícil a adoção das melhorias na instituição. “Como explicar a uma pessoa com pouca formação escolar que vamos fazer unitarização (individualização e identificação do medicamento), que ela tem de utilizar a informática, que precisa usar código de barras?”, indaga. Considerado referência em Taboão da Serra e Embu, regiões que, juntas, têm 450 mil habitantes, o hospital atende a 100% de pacientes do SUS. Para algumas especialidades (como neurocirurgia, oftalmologia e cirurgia cardíaca), chega a ser referência para 2,7 milhões de pessoas de 15 municípios, entre os quais Barueri, Cotia e Osasco.

Diferencial – Com 282 leitos, a unidade realiza 16 mil consultas por mês, em quase todas as especialidades, mais de 1,4 mil internações e 85 mil exames de patologia clínica. Tem 44 especialidades ambulatoriais, além de áreas para auxiliar no diagnóstico de doenças, como banco de sangue e setor de imagem (para tomografia, mamografia e outros exames). Uma de suas preocupações é com a humanização do atendimento e tratamento, dispondo para isso brinquedoteca e outros recursos. Além disso, a instituição elabora programas ambientais (como as oficinas de reciclagem) e sociais (como o de reforço escolar, para filhos de funcionários e crianças da comunidade). O seu grande diferencial é buscar resolver os casos. “Não que outros locais não façam isso. Mas é difícil encontrar algo assim. Recebemos o paciente em consulta e o liberamos com a resolução do problema, seja cirúrgico, de internação ou só acompanhamento”, explica Maria de Fátima.

A costureira Auta Alves de Novais, 61, não conseguia locomover-se por causa de uma hérnia de disco. Submetida à cirurgia em maio de 2005, em quatro dias estava andando. “É maravilhoso o tratamento aqui”, observa a costureira, que atualmente faz fisioterapia no local. Ivone Andrade Góes Terraz, 38, também realizou a operação de hérnia de disco. Antes disso, fez a mesma intervenção numa unidade particular. “Comparando, o Hospital Pirajussara nada deixou a desejar em relação ao outro”, afirma.

Humanização contribuiu para certificação do Sumaré

A qualidade dos serviços e o avanço em termos de padronização dos procedimentos foram fatores essenciais para o recebimento da certificação máxima pelo Hospital Estadual de Sumaré (HES), segundo o assistente técnico Ricardo Tardelli. Outro aspecto determinante foi o forte trabalho de humanização, com a permissão de acesso e permanência de familiares com alguns doentes, o treinamento dos funcionários para uma atitude mais adequada em relação ao paciente, a decoração de determinados ambientes e a criação da brinquedoteca. Direcionado para atendimentos de nível secundário (média complexidade), e eventualmente terciário (alta complexidade), o HES abrange cinco municípios: Hortolândia, Monte Mor, Nova Odessa, Santa Bárbara D’Oeste e Sumaré, com mais de 600 mil habitantes. Tem como uma de suas principais finalidades o ensino, que proporciona treinamento e estágio para graduandos e residentes das faculdades de Ciências Médicas (FCM) e Odontologia da Unicamp. Considerado referência em politrauma e UTI infantil, a unidade atende a 100% dos pacientes pelo SUS. Dispõe de 274 leitos, dos quais 28 são de UTI neonatal e 16 de UTI adulto, e 33 especialidades. Mensalmente, o hospital realiza 1,5 mil internações.

Hospital de Diadema aprimorou processos funcionais

O aprimoramento dos processos de trabalho foi uma das ações que permitiram ao Hospital Estadual de Diadema (HED) receber a certificação máxima da ONA, de acordo com Nacime Salomão Mansur, diretor-superintendente da instituição. Contribuíram para isso a constituição de comissão de qualidade com integrantes da diretoria, a qualificação dos funcionários e o compromisso da unidade com a população. Atende casos de alta complexidade na região do ABC, compreendendo sete municípios. Antes de entrar em funcionamento, em 2000, parte dos moradores da região tinha de se deslocar até a capital para receber atendimento médico especializado. Em 1999, por exemplo, quando suas obras ainda estavam em andamento, 78,9% das solicitações da região ao Plantão Controlador Regional (PCR), órgão estadual responsável pela busca de vagas para atendimentos de urgência e emergência, foram atendidas por hospitais paulistanos. No ano seguinte, esse índice caiu para 70,5% e, a partir de 2001, pela primeira vez o número de casos encaminhados para a capital passou a ser menor que os atendidos na própria região. Com 33 especialidades médicas (alergologia pediátrica, cardiogeriatria, cirurgia vascular, entre outras), o hospital realiza, em média, 11 mil atendimentos ambulatoriais, mil internações e cerca de 700 cirurgias por mês. Dispõe de 230 leitos operacionais e 33 de UTI (18 de adulto, cinco de pediátrica e 10 de neonatal).

Paulo H

08/16/2006


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