Segurança: Papai-Noel da PM distribui presentes para crianças carentes em Jundiaí
Sargento do 49º BPM/I dá exemplo de cidadania e solidariedade tornando mais feliz o Natal das crianças há mais de 25 anos
Sargento do 49º BPM/I dá exemplo de cidadania e solidariedade tornando mais feliz o Natal das crianças há mais de 25 anos
Há 37 anos, em São José do Rio Pardo - no norte do Estado, a 266 quilômetros da capital - um menino brincava com uma lata de sardinha transformada em caminhãozinho. Era Natal. Um senhor se aproximou e lhe entregou um caminhãozinho de verdade, de madeira. Encantado, o garoto nem olhou para o senhor. Pegou o presente e foi correndo até sua casa, contar a novidade para a avó.
O menino, que tem hoje 48 anos de idade e é o sargento João Aparecido de Moraes, do 49º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), repete todo ano o gesto daquele senhor que foi o seu Papai Noel, distribuindo presentes para crianças carentes de Jundiaí. São bonecas, carrinhos e caminhões de plástico, bolas de futebol, jogos... "No interior, você vê criança brincando com tampinha de refrigerante, usando a imaginação. Eu não sou a favor de brinquedo eletrônico. Eu quero brincar com o brinquedo, e não que o brinquedo brinque comigo", diz o sargento Moraes.Natal completo - Foi em 1979 que sua campanha começou. Morando havia dois anos em Jundiaí, ele e alguns amigos abriram uma caderneta de poupança para, ao longo do ano, guardar dinheiro para o Natal. Na época, distribuía os presentes em entidades. Depois, começou a arrecadar brinquedos usados, que, com a ajuda da família, limpava e consertava antes de doar.
A partir de 1996, quando apareceu em jornais e ficou mais conhecido na cidade, mudou o esquema. Foi então que começou a receber doações mais volumosas - de brinquedos novos e de dinheiro. Em 1997, Moraes e sua mulher, Maria da Glória, receberam 700 pares de patins de uma locadora que só podia utilizá-los por três meses. "Quase ficamos intoxicados", conta o sargento. "Comprei querosene, silicone e começamos a limpar para deixar tudo novo."
Este ano, Moraes já conseguiu cinco mil brinquedos. Ainda é pouco - o ideal seria poder distribuir de oito a dez mil. Um empresário, que não quer se identificar, doou R$ 1.300. "A gente sempre foi pobre. Agora que estamos bem, com duas lojas, o que eu puder fazer, eu faço", diz o doador. Com essa quantia, o sargento consegue presentear cerca de 1,5 mil crianças.
A distribuição acontece nos dias 24 e 25 de dezembro, na região dos bairros Morada das Vinhas, Parque Cecap, Terra da Uva, Parque dos Ingás, Centenário, Jardim São Vicente, Vila Parque Renato e sítios adjacentes. Na véspera do Natal, o sargento Moraes e sua família organizam uma festa para as crianças. Lá, eles não distribuem presentes. Mas tem comida, música e apresentações dos pequenos.
Quando virou notícia, Moraes recebeu uma carta de um presidiário, que cumpria pena, por roubo, na Penitenciária de Votorantim. Ele pedia para o sargento ajudar os filhos de outros presos - era uma forma de compensar a falta que sentia da filha, que não encontrava havia nove anos.
Foram arrecadados 800 brinquedos. O detento estava ajudando Moraes a fazer a entrega, quando sua filha agarrou sua perna. A equipe de reportagem que cobria a história havia localizado a menina. "Aquilo foi de arrebentar. Não teve repórter, o cara que estava filmando - ninguém agüentou. Você via a felicidade dele. Eu não esqueço até hoje. Meu Natal ficou completo", emociona-se o sargento.Garotos do Amanhã - O sargento Moraes conta que recebe críticas por seu trabalho. Desde pessoas que dizem que ele está presenteando 'trombadinhas' a outras que acreditam que a ação deveria ser por alimentos e roupas, e não brinquedos. "Para mim, quando se é criança, é criança. E criança, no Natal, quer ganhar brinquedo", diz ele.
O sargento conta que sua infância durou até os 17 anos. Para seus três filhos - Alex, de 24 anos; Luciana, de 22; e Juliana, de 16 - nunca faltou presente. Ele espera poder proporcionar a essas crianças a mesma sensação que aquele senhor lhe deu aos 11 anos. "A gente vê que o vizinho ganha presente e você não. Aí vêm o seu pai, sua mãe falar no seu ouvido daquele jeitinho - não adianta, criança não tem discernimento", explica o sargento.
"Se não dermos atenção especial para essas crianças, seremos nós as próximas vítimas delas", justifica Moraes. É por acreditar nisso que ele fundou uma associação: Garotos do Amanhã (Gama). A idéia é "ocupar o tempo máximo dessas crianças para elas ficarem longe das drogas e das oficinas da marginalidade", em uma região onde o risco social é elevado.
Cerca de 1,2 mil crianças e adolescentes participam do projeto, jogando futebol, fazendo teatro, recebendo aulas de espanhol. Ele se queixa da falta de voluntários. Computadores foram doados pela Fiesp, mas, por não conseguir professores, teve que devolver as máquinas.
De acordo com Moraes, seu objetivo é "fazer o que fizeram para mim quando eu era criança". Sua esperança: encontrar um sucessor. "Eu quero ter a alegria de uma criança falar: "Estou copiando a campanha do sargento Moraes"."Luisa Destri
SERVIÇO
Interessados em colaborar com o projeto devem procurar o 49º BPM/I - (11) 4587-5000 - ou o 11º BPM/I - (11) 4521-2333. Brinquedos, alimentos ou contribuições podem ser entregues no 49º Batalhão: Avenida Barão do Rio Branco, 318 - Vila
12/22/2005
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