Sem presença da Anfavea, críticas aos preços dos carros no país dominam debate na CAE



VEJA MAIS

A ausência de um representante das montadoras prejudicou o debate sobre o preço dos veículos automotores no país, realizado nesta quarta-feira pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), atendendo a requerimento da senadora Ana Amélia (PP-RS). A parlamentar e o senador Lobão Filho (PMDB-MA), que presidiu a reunião, lembraram que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), convidada para a audiência, é protagonista do debate.

Ana Amélia destacou, na audiência, a diferença de preços entre os veículos vendidos no Brasil e em outros países. A maioria dos participantes do debate concordou com a crítica da senadora à situação atual do mercado brasileiro.

O jornalista Joel Silveira Leite, da Agência Autoinforme, apresentou dados da própria agência segundo os quais o preço médio do carro no Brasil subiu 39% nos últimos 10 anos.

- Nada justifica o preço do carro brasileiro em relação ao resto do mundo - disse.

O aumento, de acordo com o representante do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Luiz Carlos Mandelli, não pode ser atribuído aos componentes. Ele explicou que desde 2007 as montadoras passaram a importar autopeças do mercado asiático, com resultados nefastos para a indústria nacional.

- Até 2007, o Brasil exportava autopeças. De 2008 pra cá, saímos do balanço positivo. Este ano, estamos negativos em US$ 6 bi e perdemos 14 mil empregos - disse Mandelli.

Mudanças

Para alterar esse cenário, Luiz Carlos Mandelli cobrou do governo uma política de nacionalização de peças no âmbito do Inovar-Auto, programa de incentivo ao setor automotivo para o período 2013-2017.

O Inovar-Auto foi objeto da exposição da representante da Secretaria do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Margarete Mandini, durante a audiência pública. Segundo ela, o programa pretende conferir aos carros fabricados no país mais competitividade, tecnologia e segurança, além de maior eficiência energética.

- A adesão das empresas é voluntária. Todas as empresas que quiserem produzir veículos no país podem se habilitar - disse.

Atualmente, de acordo com Margarete, o Brasil é o 7º maior fabricante mundial de automóveis. Com a ampliação da capacidade produtiva instalada, ou seja, mais fabricantes instalados e concorrendo, a expectativa é a queda nos preços ao consumidor.

Lei Ferrari

O brasileiro em busca de um carro novo está “comprando mal” em relação ao resto do mundo, ressaltou o senador Lobão Filho. Um exemplo apresentado por mais de um dos convidados para o debate é o modelo Corolla, da Toyota. O veículo é vendido nos Estados Unidos por US$ 16,2 mil; na Argentina, sai por US$ 21,6 mil. Já no mercado brasileiro, o Toyota Corolla custa US$ 28,6 mil.

Para explicar parte da discrepância, Luiz Carlos Mandelli, do Sindipeças, afirmou que, enquanto a carga tributária no Brasil é muito mais elevada que a dos Estados Unidos – 36% aqui contra cerca de 9% lá –, os custos de produção norte-americanos chegam a 88% do preço do carro  – no Brasil, ficam em torno de 58%. A margem de lucro das montadoras aqui, porém, atinge 10%, enquanto nos nos Estados Unidos não passa de 3%.

Já para Antônio Carlos Fonseca, subprocurador da 3ª Câmara do Ministério Público Federal (Consumidor e Ordem Econômica), a explicação tem relação com o marco regulatório do setor. Ele sugeriu a imediata revogação da chamada Lei Ferrari (Lei 6.729/1979), que, a seu ver, "amarra a competição, levando ao aumento dos preços".

A Lei Ferrari determinou que a distribuição de veículos automotores passasse a ser feita por meio de concessão comercial entre produtores e distribuidores. A concessão inclui, por exemplo, a prestação de assistência técnica aos produtos, sendo vedada a comercialização de veículos automotores novos fabricados ou fornecidos por outro produtor.

Para Fonseca, a lei de 1979 veio para tornar mais dinâmico o setor, mas acabou criando uma quantidade excessiva de regras de comercialização.

- A capacidade produtiva não tem aumentado na proporção da demanda. A lei é ruim para a liberdade de mercado - disse.

A senadora Ana Amélia concordou com a avaliação do representante do Ministério Público. Ela lembrou que é autora de um projeto (PLS 402/2012) com sugestões de alterações na Lei Ferrari, para promover a concorrência de preços e condições de atendimento pós-venda.

- Penso que o primeiro passo seja a mudança parcial - disse.

Andrei Goldman, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ministério da Fazenda, ressaltou que, apesar das críticas à política de preços das montadoras, não há indícios de ações anticompetitivas no mercado.



05/12/2012

Agência Senado


Artigos Relacionados


Ana Amélia cobra explicação para altos preços dos carros no país

CE debate presença de pais nas escolas e segurança para Copa

Concorrência deve inibir alta dos preços de veículos nacionais, prevê Anfavea

Programas de transferência de renda dominam debate sobre pobreza

CAE cancela reunião deliberativa, mas mantém audiência sobre preços dos carros

Cidadãos poderão participar de audiência pública que discutirá preços de carros no Brasil