Seminário aborda presença do modernismo na era Vargas



O envolvimento de expoentes da intelectualidade modernista, como Mário de Andrade, Villa-Lobos e Portinari, nos dois governos Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) constituiu o pano de fundo da mesa-redonda Getúlio Vargas e o Imaginário Político Republicano, debate de encerramento do seminário "Vargas e o Desenvolvimento Nacional Brasileiro", nesta quinta-feira (2), no Senado Federal. Outra questão abordada no evento, organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Senado e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi a cobertura conferida ao trabalhador rural pela legislação trabalhista instituída na era Vargas.

Capital da República nos anos 30, o Rio de Janeiro sobressai nessa época, segundo a professora Piedade Epstein Grinberg, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), como pólo gerador de cultura do país. É naquela década que um grupo de intelectuais foi convidado a participar do governo Vargas, de quem recebe encomendas para execução de obras artísticas e a incumbência de elaborar uma política cultural marcada pelo sentimento de nacionalismo e brasilidade.

- Devemos a arte moderna e contemporânea aos artistas dos anos 30 e 40. Apesar do controle exercido pelo Estado, esses artistas e literatos tiveram a coragem de levar adiante um projeto cultural sério e que deu certo – destacou Grinberg. A construção de uma identidade cultural para o país perseguida pelo governo Vargas não se valeu apenas da influência modernista sobre as artes plásticas e a literatura, alcançando também a música.

De acordo com a professora Santuza Cambraia Naves, da Universidade Cândido Mendes, buscou-se uma convergência entre o projeto político varguista e o projeto cultural do modernismo. Ao mesclar a erudição de Villa-Lobos com a veia popular de Pixinguinha e Lamartine Babo, observou Naves, Getúlio se mostrou hábil na conciliação do eruditismo modernista com as manifestações cultuadas pelo povo.

- Vargas construiu seu carisma ao tentar conciliar a alta cultura com a de massa  - assinalou.

Questão agrária

Embora se costume associar o legado de Vargas à industrialização, disse o professor Francisco Carlos Teixeira da Silva, da UFRJ, seu projeto nacional não excluía o homem do campo dos benefícios da legislação trabalhista. Três decretos editados pelo ex-presidente, entre 1937 e 1945, derrubariam a tese de abandono do trabalhador rural. As medidas tratavam da exigência de apresentação de título de propriedade pelos donos de terra, o que configuraria uma guerra às oligarquias agrárias, sustentou; a distribuição de terra para colonização nas áreas de fronteira do Centro-Oeste; e a extensão das regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ao trabalhador rural, iniciativa derrubada antes de sua implementação com a deposição de Getúlio, em 1945.

Se o fim da era Vargas havia sido anunciado, em 1995, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo recordou o consultor legislativo Eurico Antônio dos Santos, moderador da mesa-redonda, o atual governo tem oscilado entre um discurso presidencial marcado pela defesa de valores “varguistas” e uma política econômica de inclinação liberal, distante, portanto, do nacional-desenvolvimentismo. Para o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, Vargas se notabilizou não apenas como criador de um projeto nacional para o país, mas da própria idéia de povo brasileiro.

- Ele foi o primeiro político a buscar respaldo ao seu discurso no discurso do povo - comentou.



02/09/2004

Agência Senado


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