Senadores exaltam vida e obra de Dom Eugênio
A trajetória religiosa do cardeal Dom Eugênio Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, foi apontada pelos senadores como influenciadora de diversos setores da sociedade, entre eles a política. O senador João Faustino (PSDB-RN), autor do requerimento da homenagem prestada a Dom Eugênio pelo Senado, pelos seus 90 anos, disse que o cardeal foi seu símbolo de luta na juventude, um exemplo de líder e modelo de sacerdote.
Faustino lembrou que, no Rio Grande do Norte, foi designado por Dom Eugênio para presidir assembléias de trabalhadores rurais e viu, em cada uma delas, nascer um sindicato rural. O senador também recordou as aulas de matemática que gravava nas escolas radiofônicas criadas pelo cardeal.
- Graças a Dom Eugênio, quantas e quantas pessoas descobriram, através das escolas radiofônicas, que não eram escravas de ninguém, que tinham uma vida dada por Deus e que essa vida somente tinha significado quando se via repleta de felicidade e de liberdade - afirmou.
O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) disse que Dom Eugênio é uma das fortes figuras surgidas no seio da Igreja Católica que marcaram a história recente do país. Ele ressaltou que o religioso participou, dos anos 1940 até o início do século 21, de todos os eventos importantes da Igreja e da política, orientado por sua vocação pastoral, pelo comprometimento com os valores cristãos e plena consciência da responsabilidade que cabe aos sacerdotes.
- Seu reconhecido talento de administrador e de organizador deixou uma marca definitiva na Igreja Católica brasileira e latino-americana. Sua força espiritual animou e anima ainda todos aqueles que se dedicam à missão pastoral própria da Igreja. Sua visão social está na direta linha dos princípios consagrados pelo Concílio Vaticano II. Sua moderação e equilíbrio tiveram um papel fundamental num momento especialmente delicado da vida nacional, contribuindo decisivamente para a paz e para a conciliação que superam as dificuldades e curam as feridas - assinalou.
O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) disse que Dom Eugênio viveu para a glória do Senhor e faz de sua vida um testemunho de fé, solidariedade, compreensão e opção pelo Evangelho. Gurgacz ressaltou a iniciativa do então arcebispo de Natal na criação do "Movimento de Natal", que teve repercussão internacional, e da Campanha da Fraternidade.
- Foi na cidade de Nísia Floresta que surgiu o embrião da Campanha da Fraternidade. Caminhadas a pé, de casa em casa, de rua em rua, de povoado em povoado, assim foi no início: semanas da fraternidade. Eram doados ovos, galinhas, hortaliças, frutas e o resultado comercializado num feira cuja renda tinha como finalidade a compra de colchões, redes, dentre outras coisas, para as famílias pobres espalhadas em 13 comunidades ligadas ao município - recordou.
Bastante emocionado, o senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA) destacou a amizade de seu pai, o senador Antonio Carlos Magalhães, com Dom Eugênio Sales. Ele falou sobre o período em que o cardeal esteve à frente da Arquidiocese de São Salvador da Bahia como arcebispo primaz do Brasil, de 1968 a 1971. O senador disse que Dom Eugênio sempre foi um homem e um religioso à frente do seu tempo.
- Sua passagem por Salvador, que coincide com um período bastante difícil do regime militar que então vigorava no país, é um exemplo de sua dedicação à Igreja, ao seu rebanho de fiéis, mas também de sua preocupação extremada, embora discreta, com todos os brasileiros, sem distinção de credo. Dom Eugênio sempre teve a sabedoria de fortalecer a Igreja, levar a palavra de Deus a todos os homens, mas também de cuidar dos problemas terrenos, da sua gente, envolver-se pessoalmente em questões espinhosas na defesa dos direitos do cidadão - afirmou.
O senador Marco Maciel (DEM-PE) disse que, sempre trajando preto e um crucifixo de prata, Dom Eugênio está sempre a serviço da sua comunidade e recebe quem o procure, sobre tudo aquelas pessoas necessitadas de alguma assistência eclesial ou ensinamento que pudesse aproximá-la da Igreja de Cristo.
Marco Maciel também ressaltou a capacidade empreendedora do religioso, fama alcançada na década de 1970, quando assumiu a Arquidiocese do Rio de Janeiro e mandou construir um prédio de dez andares no fundo do Palácio São Joaquim. O prédio reunia os serviços da Igreja espalhados pela cidade.
- Também criou dezenas de pastorais, entre elas a Pastoral Carcerária, a das Favelas e a do Menor. Sem contar que também foi graças à ele que pela primeira vez moradores de favela tiveram seu direito à casa garantido judicialmente - acrescentou.
O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) disse que, infelizmente, a vida de Dom Eugênio não será repetida por ninguém, pois "é única em seu brilhantismo, em sua devoção, em seu desapego e de entrega a Deus e ao outro".
Valadares lembrou que foi do pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugênio, que surgiram diversas iniciativas de sucesso, como a Campanha da Fraternidade, a primeira Regional da CNBB, o primeiro planejamento pastoral, a organização sistemática dos trabalhadores em sindicatos rurais e as escolas radiofônicas.
- E se a vida de Dom Eugênio é única, e por isso não pode ser repetida em si mesma, ela serve de paradigma para todos os crentes de Deus. É uma vida que induz um modelo de simplicidade e de prática de um dos maiores ensinamentos de Cristo: amai a Deus sobre todas as coisas e amai-vos uns aos outros - concluiu.
09/11/2010
Agência Senado
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