Serra associa Tancredo à Nova República e diz que é preciso fazer mais e melhor



Evocando os nomes de Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Leonel Brizola, Teotônio Vilela, José Richa, Mário Covas, Sobral Pinto, Raimundo Faoro e Celso Furtado, o governador de São Paulo, José Serra, associou Tancredo Neves à Nova República e sua herança. Ele lembrou a conclamação feita por Tancredo no discurso de posse que não pôde ler, quando apontou o rumo para o futuro:

"Deixemos para trás tudo que nos separa e trabalhemos sem descanso para recuperar os anos perdidos na ilusão e no confronto estéril. Estou certo de que não nos faltará a benevolência de Deus. Entendamos a força sagrada deste momento em que o povo retoma solenemente o seu próprio destino".

Serra assinalou que neste mês de março a Nova República também completa 25 anos, mais precisamente no dia 15, quando Tancredo deveria ter tomado posse, mas foi impedido pela doença que o levou à morte. Para Serra, esses 25 anos contiveram o maior número de conquistas de qualidade política e humana. Ele observou que o Brasil ainda não havia conhecido um quarto de século ininterrupto de democracia de massa.

- A Nova República foi muito além no tempo e na expansão, sem precedentes da cidadania, das liberdades civis e políticas e na eliminação das restrições ao direito de voto. Essa ampliação da participação das massas populares, longe de acarretar maior instabilidade, coincidiu com o período de completa ausência de conspirações, golpes militares, quarteladas, intervenções preventivas e epílogos políticos trágicos ou temerários - ressaltou.

O governador paulista lembrou que a Nova República teve seus momentos de crise nesses 25 anos, como a superinflação e as grandes crises financeiras mundiais, que se sucederam de 1994 a 2008. Serra disse que o país ainda ficou muitos anos sem crescimento econômico sustentado, mas apesar disso a Nova República fundada por Tancredo conseguiu completar com normalidade a alternância tranquila no poder de forças político-partidárias antagônicas, que se caracterizavam pelo antagonismo e pela radicalização.

- O resultado é ainda mais impressionante quando se observa que uma dessas alternâncias aparentemente mais contrastantes foi a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores, que encarnava, a principio, se não uma força desestabilizadora, ao menos um comportamento radical e deliberadamente à margem da política nacional - assinalou.

Serra observou que, por mais paradoxal que pareça, o PT acabou sendo um dos principais beneficiários da eleição do primeiro presidente civil e das conquistas sociais e culturais da Constituição de 1988. Ele acrescentou que o PT soube, posteriormente, ao longo dos governos Lula, colher bons frutos de mudanças institucionais e práticas promovidas pelos governos anteriores, como o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Serra lembrou que os governos militares fracassaram completamente em liquidar a herança da inflação, que vinha da segunda metade dos anos 50 e, mais remotamente, da Segunda Guerra Mundial. Ele salientou que a inflação acabou sendo agravada com a indexação da moeda e, ao mesmo tempo, a condução do país para a gravíssima crise da dívida externa, a partir de 1981 e 1982, dando início a uma quase uma década e meia de estagnação econômica.

- O período de um quarto de século da Nova República, sem repressão, sem poderes especiais, conseguiu finalmente derrubar a superinflação. Fez mais: resolveu o problema persistente da dívida externa, herdado, e até deu começo a uma retomada promissora do crescimento econômico e à expansão do acesso das camadas de rendimento modesto ao crédito e ao consumo, inclusive de bens duráveis.

Serra observou que as conquistas da segunda redemocratização (a primeira foi entre 1946 e 1964) não foram resultado de milagres instantâneos, custaram esforços enormes e, com freqüência, só se deram depois de muitas tentativas e erros. Por isso, acrescentou o governador, o período tem que ser analisado na sua integridade, êxitos e fracassos juntos, já que esses são partes inseparáveis do processo de aprendizagem coletiva, para o qual contribuíram numerosos dirigentes e cidadãos numa linha de continuidade, não de negação e de ruptura. Como exemplo, ele citou o Plano Real, que não teria acontecido não fossem as experiências com os planos anteriores.

O governador ainda disse que nenhuma conquista é definitiva e que nenhum progresso no Brasil ou no mundo é garantido e irreversível. Ele assinalou que não se deve acreditar que a eventual sabedoria dos acertos de ontem e de hoje se repetirá invariavelmente hoje e amanhã, a estabilidade, o crescimento, os ganhos de consumo ainda não têm garantidas as condições de sustentabilidade no médio e no longo prazo.

- O Brasil de hoje tem a cara e o espírito dos fundadores da Nova República: senso de equilíbrio e proporção, moderação construtiva na edificação de novo pacto social e político, apego à democracia, à liberdade e à tolerância, paixão infatigável pela promoção dos pobres e excluídos, pela eliminação da pobreza e pela redução das desigualdades. É na fidelidade a esse legado que haveremos de manter e superar o que até aqui se tem feito e realizar mais e melhor para o crescimento integral do povo brasileiro. Viva Tancredo Neves! Longa vida à Nova República! - concluiu.



03/03/2010

Agência Senado


Artigos Relacionados


Garibaldi: para honrar memória de Tancredo, Brasil deve fazer reforma política

Cristovam diz ser preciso "desmordomizar a República"

‘É preciso fazer uma Finlândia em cada cidade brasileira’, diz senador

Inácio Arruda diz que é preciso resolver agora o que fazer com o dinheiro do pré-sal

LANDO: É PRECISO DECISÃO POLÍTICA INABALÁVEL PARA FAZER REFORMA AGRÁRIA

Paim: Lula não pode fazer em três meses o que não se fez em cem anos de República