Sessão em homenagem aos 200 anos da imprensa foi proposta por Simon



A sessão especial destinada a celebrar os 200 anos da imprensa brasileira e a homenagear seu patrono, Hipólito José da Costa, foi solicitada em dois requerimentos encabeçados pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS). A proposta de Simon tem origem em manifestação da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que desenvolve projeto cultural sobre o tema, com o objetivo de destacar o papel desempenhado pelo jornalista, advogado e naturalista brasileiro que, em 1º de junho de 1808, criou em Londres, onde estava exilado, o Correio Braziliense, primeiro jornal em circulação no país.

O Correio Braziliense circulou até dezembro de 1822, ano da Independência do Brasil, da qual Hipólito era ferrenho partidário e cujo acontecimento festejou com entusiasmo. No penúltimo número do jornal, publicou artigo em que comemorava o fato de "se ter tornado o nosso país independente e unido". Nesse mesmo artigo, Hipólito afirma: "só a prosperidade do povo é que faz a prosperidade dos governos".

O jornal tinha circulação mensal e era distribuído no Brasil e em Portugal. A iniciativa de Hipólito de publicar um jornal independente, no qual comentava em tom crítico as decisões e políticas que a monarquia portuguesa desenvolvia no Brasil, ao mesmo tempo em que propagava idéias liberais que incomodavam a Coroa, "fez dele um exemplo de coragem para a imprensa livre brasileira", segundo Simon. O senador assinalou também que Hipólito é patrono da cadeira número 17 da Academia Brasileira de Letras, por escolha direta do seu fundador, o poeta Sílvio Romero.

Terezinha de Castro, autora do livro Hipólito da Costa, Idéias e Ideais, relata na obra que, ao ser questionado por escolher a Inglaterra para publicar seu veículo, o jornalista explicou que o motivo foi "a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, devido à censura prévia e ao perigo a que os redatores se exporiam falando livremente das ações dos homens poderosos". Hipólito sabia o risco que corria, pois havia fugido dos cárceres de Lisboa, onde ficou três anos e meio, processado pelo Santo Ofício sob a acusação de pertencer à maçonaria, organização considerada subversiva, relata a autora.

Posteriormente, o Correio Braziliense teve sua circulação proibida, bem como qualquer publicação que não fosse aprovada antes pelas autoridades. E essa proibição de circulação funcionava no Brasil e em Portugal. Mas, apesar das dificuldades e da violenta reação oficial contra o jornal e seu redator, a iniciativa obteve sucesso editorial, e entre seus leitores estava nada menos do que D. João, que se interessava pelos artigos do jornalista, segundo registra Adolfo Varnhagen, em História Geral do Brasil. O objetivo do monarca, segundo esse autor, era não apenas buscar informação, mas, também, "receber conselhos, e até para com isso tratar de conter seus próprios ministros".

- Aí está registrada a importância para uma sociedade de uma imprensa livre e independente, seja qual for o regime político. Tanto o cidadão comum como também os governantes podem tirar proveito. Ao longo da História, a liberdade de expressão e de imprensa, o direito do povo de ter livre acesso às informações para formação de opinião se constituíram nos principais pilares da democracia - disse Simon.

História

Nascido em 13 de agosto de 1774, na localidade de Colônia de Sacramento, fundada por Portugal e que hoje pertence ao Uruguai, Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça faleceu em Londres, no dia 11 de setembro de 1823. Era filho de mãe portuguesa e de um fazendeiro da Capitania do Rio de Janeiro, destacado para a região como alferes das tropas de Portugal.

Baseado em relatos históricos, Simon contou que a família foi obrigada a deixar a localidade no momento em que Sacramento passou para o controle definitivo da Espanha, quando os pais de Hipólito estabeleceram-se como estancieiros em Rio Grande de São Pedro, hoje cidade de Pelotas (RS). Nessa cidade, Hipólito viveu sua adolescência e fez os primeiros estudos, formando-se, em 1798, em Direito e Filosofia, além de Ciências Naturais, na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Posteriormente, Hipólito foi enviado aos Estados Unidos pelo ministro da Marinha e Ultramar de Portugal, dom Rodrigo Domingos de Souza, com o objetivo de observar e registrar tudo o que pudesse, desde as questões econômicas, modo de vida, novas técnicas para agricultura, estradas, rios, pesca, arquitetura e até o funcionamento dos presídios e hospitais. Essa viagem rendeu o livro Diário de minha viagem para Filadélfia, que traz comentários e descrições sobre a vida no país e sua gente envolvida na construção de uma Nação.

De volta a Portugal, Hipólito foi nomeado para a administração da Imprensa Real. Nessa época, já era ligado à maçonaria e estava impressionado com a liberdade de imprensa que encontrou nos Estados Unidos. Em nova viagem oficial, desta vez à Inglaterra e à França, aproximou-se ainda mais da maçonaria, atividade que chamou a atenção da Coroa Portuguesa. Ao retornar, em 1802, foi preso pela Inquisição, e sua permanência nos cárceres e os constantes interrogatórios que sofreu estão registrados no livro Narrativa da perseguição.

Hipólito conseguiu fugir e escolheu Londres para viver e trabalhar, dedicando-se a atividades comerciais. Foi professor de português, tradutor e escritor, até decidir fundar o Correio Braziliense. Admirador do liberalismo econômico inglês, Hipólito teve posições que "deram origem a uma escola de pensamento, se não protecionista e industrializante, pelo menos desconfiada do livre-cambismo e da abertura irrestrita, postura que influencia ainda hoje o universo doutrinal e político das elites brasileiras", opinou o diplomata Paulo Roberto de Almeida no livro Formação da Diplomacia Econômica no Brasil.

Falecido aos 49 anos, Hipólito marcou sua vida pelo envolvimento nas lutas políticas e na liberdade de imprensa. Segundo Simon, o jornalista "defendeu, com alto custo, sofrendo perseguições e sob a permanente ameaça de vingança da Inquisição, as idéias mais avançadas de sua época". Simon lembrou que, quando exilado, Hipólito viveu, como disse, "o perpétuo desgosto de se banir para sempre de sua pátria", pois tinha consciência de que jamais poderia voltar a Portugal ou ao Brasil.

Os restos mortais de Hipólito estão na Igreja de Santa Maria de Hurley, no Condado de Berckshire, Inglaterra. Uma placa, colocada pela Embaixada do Brasil, registra o seguinte: "Aqui jaz Hipólito José da Costa 1774/1823 - Patriota Brasileiro e fundador da Imprensa Brasileira. Através do Correio Braziliense, publicado de 1808 a 1822, teve participação decisiva no processo da Independência do Brasil."



30/05/2008

Agência Senado


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