Socorro a grandes frigoríficos divide setor produtor de carne bovina



Notícia veiculada no jornal Valor Econômico sobre ajuda governamental a grandes frigoríficos dividiu opiniões durante debate na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) nesta terça-feira (17). Em favor do socorro, Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), lembrou que uma retração nas exportações afetaria toda a cadeia da pecuária bovina. Já Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), defende que a ajuda chegue a pequenos e médios abatedouros. Para Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, o governo deve garantir que os pecuaristas recebam pelo gado que for entregue aos frigoríficos em dificuldades.

A audiência pública realizada na CRA foi motivada pela preocupação com pedidos de recuperação judicial feitos por grandes frigoríficos, como a rede Independência, e pelos riscos de impactos nos demais segmentos do setor. Conforme explicações do presidente da Abiec, os problemas das empresas exportadoras são resultado do agravamento da crise financeira internacional , principalmente devido à falta de crédito e à retração do mercado internacional de carnes.

- Se não vier ajuda para a exportação, todos os elos da cadeia serão afetados - disse, ao afirmar que o Brasil vende para 150 países, detendo hoje 33% das exportações mundiais de carne.

Questionado pelo senador Osmar Dias (PDT-PR), Fonseca disse não dispor dos dados sobre o total das dívidas dos 21 frigoríficos associados à Abiec. Na avaliação do senador, o diagnóstico sobre o problema dos frigoríficos é essencial para nortear a discussão sobre as medidas de apoio ao segmento.

- Como o governo vai trabalhar sem conhecer o tamanho do problema? Se não tivermos um diagnóstico, não poderemos resolver a crise - frisou Osmar Dias. Também o presidente da CRA, senador Valter Pereira (PMDB-MS), defendeu a necessidade de delimitação da crise enfrentada pelas indústrias do setor.

Impactos

No debate, Péricles Salazar enfatizou que a crise não atinge apenas os grandes frigoríficos. Conforme informou, já são 50 as unidades de abate paralisadas, considerando-se tanto os abatedouros com fechamento temporário como os que interromperam definitivamente suas atividades. Essas 50 unidades, disse, são responsáveis pelo abate de 30 mil cabeças de bovinos por mês, empregando 15 mil trabalhadores.

- Os anúncios de recuperação judicial dos frigoríficos resultaram no medo do pecuarista de vender o boi a prazo, o que tem efeito perverso sobre os pequenos frigoríficos, que não conseguem pagar à vista ao produtor e vender a prazo, como querem os supermercados. A crise hoje é comum a toda a cadeia produtiva - afirmou, ao criticar a injeção de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos frigoríficos em recuperação judicial.

Para Salazar, a medida representaria uma "elitização" da ajuda governamental ao setor. Ele também alertou para o fato de o governo estar aportando recursos públicos para socorro a empresas que "sabidamente cometeram erros de gestão".

- Injeção financeira às grande empresas que pediram recuperação judicial não é o remédio adequado para combater a crise - observou, sugerindo que o governo, como apoio a todo o setor, realize a desoneração dos impostos do PIS/Cofins sobre a carne bovina para todos os frigoríficos.

Dívidas

Os problemas dos pecuaristas que esperam o pagamento por animais entregues a frigoríficos em recuperação judicial foram apontados por Antenor Nogueira, que no debate representou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para ele, os produtores rurais representam o elo mais fraco da cadeia da carne, sendo os que mais sofrem com a inadimplência dos grandes frigoríficos.

- Se o processo de recuperação judicial conceder ao frigorífico vinte anos para saldar as dívidas, o produtor vai esperar vinte anos para receber pelos animais que entregou? Esse é o capital de giro dele. Sem receber, o pecuarista não pode pagar seus funcionários, não pode pagar o caminhoneiro que transporta os animais, os fabricantes de ração. Tem efeito em toda a cadeia - alertou ele.

Para Nogueira, a desoneração do PIS/Cofins não deve ser restrita aos frigoríficos, mas incidir também sobre outros segmentos da cadeia produtiva da carne, como, por exemplo, sobre a indústria produtora de ração, item essencial para a criação de animais. Ele também criticou a abertura de créditos do BNDES para grandes frigoríficos.

- Todos sabemos da voracidade dos grandes frigoríficos em comprar imobilizados, nos últimos dois anos, quando o crédito estava fácil. Houve uma falta de previsão do futuro, de colocar os pés no chão - opinou.



17/03/2009

Agência Senado


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