Técnica diminui mão-de-obra e aumenta rentabilidade do seringal



Estudo identifica sistemas de sangria no tronco que tornam processo de extração do látex mais rentável

Embora a seringueira seja uma árvore nativa da Amazônia e a primeira referência quando se fala em borracha natural, a liderança brasileira na produção é do Estado de São Paulo. O território paulista tem 45 mil hectares ocupados por seringueiras e detém 53% do total nacional, sendo o noroeste paulista a região de maior produtividade.

A heveicultura (como é chamada a plantação das seringueiras) poderá, em breve, ser beneficiada com tecnologia desenvolvida no curso de pós-graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

A nova técnica identifica nove sistemas de sangria no tronco da árvore que, aplicados em dez variedades específicas (clones), tornam o processo de extração do látex mais rentável. Aumenta a produtividade do seringal e reduz a mão-de-obra empregada. Em um dos procedimentos, o ganho econômico obtido foi de 61%.  

Mais rentabilidade – Segundo Juliano Quarteroli Silva, aluno responsável pela pesquisa, entre os nove sistemas estudados os que diminuíram a freqüência de realização da sangria em alguns clones foram os que apresentaram maior rentabilidade. “Há falta de pessoal qualificado para a atividade e a sangria é a parte mais onerosa. Representa 60% do custo total de borracha produzida e inclui não só a contratação de mão-de-obra”, explica.

A maior rentabilidade foi obtida com sangria a cada sete dias e aplicação de estimulante químico oito vezes ao ano. Dessa forma, obteve-se rendimento líquido da produção clone/hectare de R$ 3.920,25, ante R$ 2.437,43 clone/hectare sob o sistema tradicional com o mesmo tipo de corte, feito a cada dois dias e sem a estimulação química.

Outros sistemas cujos ganhos foram significativos, dependendo do clone e da concentração do produto aplicado, variaram de 21%, para cortes a cada sete dias, a 24%, com sangrias a cada cinco dias. Em termos de ganhos líquidos por clone/hectare, representa R$ 2.546,94 e R$ 2.481,92, respectivamente – valor superior à produtividade do sistema de sangria utilizado anteriormente, que era de R$ 2.047,85.

Alguns sistemas de sangria feitos em intervalos de tempo menores (três dias) também foram satisfatórios, com ganhos de 43% e 42%, dependendo do clone. No método tradicional, o rendimento líquido da produção por clone/hectare foi de R$ 3.119,92, enquanto nos dois sistemas propostos atingiu-se R$ R$ 4.455,60 para o que utilizou a menor concentração de estimulante e R$ 4.429,07 para a maior. 

Produção e preservação – A pesquisa avaliou, também, os aspectos fisiológicos, como maior produtividade e menor incidência de seca do painel, problema fisiológico que ocasiona seca total ou parcial das árvores, inviabilizando a extração de látex.

Juliano explica que, mesmo tendo alguns clones apresentado rendimento superior em termos de produção de látex, essa diferença em alguns casos não foi significativa quando associada aos custos de extração. "Não adianta um clone ter bom rendimento se apresentará baixa rentabilidade econômica, por isso é importante associar os dois fatores", esclarece.

Em relação à incidência da seca do painel, Juliano conclui que o sistema, que abrange cortes a cada sete dias e proporcionou acréscimo no rendimento do seringal de 21%, também contribuiu para a redução do problema.

"Ainda não se sabe quais são as reais causas da seca do painel, mas existem indícios de que ela é ocasionada pela alta freqüência de sangria e da concentração de estimulante aplicado. Esse sistema mostrou baixa incidência do distúrbio nos clones estudados, com exceção de um deles", explica. Num período de cinco anos, dois dos clones estudados e submetidos a esse sistema de sangria não apresentaram caso de seca do painel, total ou parcial. Em outro clone avaliado, o problema se manifestou em apenas 2,3% de 42 árvores sangradas. 

Igor Carvalho

Do Instituto Agronômico de Campinas