Troca de ataques marca disputa entre líderes









Troca de ataques marca disputa entre líderes
A troca de acusações virou moeda corrente nos programas de Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS), que disputam no Rio Grande do Sul uma das eleições mais polarizadas do país.

As pesquisas de vários institutos têm mostrado os dois candidatos próximos um do outro. Na maioria, Britto aparece em primeiro. Tarso, porém, tem reagido ontem o jornal "Correio do Povo" deu 32,5% ao petista, contra 31% do pepessista.

O petista tem mostrado no programa eleitoral os vínculos de Britto com seu ex-secretário de Minas, Energia e Comunicações, Assis Roberto de Souza, que responde a investigação pela sua atuação nas áreas onde coordenou as privatizações.

Britto responde criticando as ligações do PT com o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, que teria arrecadado recursos para o partido e utilizado dinheiro do jogo do bicho.


Tucano venceria pepebista no 2º turno por 47% a 41%
O levantamento do Datafolha feito na última segunda-feira indica que houve uma inversão de posições na simulação do segundo turno da eleição para governador entre Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Agora, Alckmin está na frente, com 47%, passando Maluf, que ficou com 41%. É a primeira vez que isso ocorre desde que o Datafolha passou a simular o segundo turno, em julho.

Tanto na pesquisa anterior, de meados de agosto, como na do começo de julho, Maluf vencia: tinha, respectivamente, 47% e 48%, contra 42%, em ambas, do governador Alckmin.

Além da simulação Maluf/Alckmin, os pesquisadores do Datafolha também sugeriram aos entrevistados que fizessem mais duas simulações de segundo turno.

A surpresa ficou por conta da situação em que se defrontavam hipoteticamente Maluf e José Genoino (PT). Houve empate técnico: Maluf, 44%, Genoino, 43%.

Na situação em que se propôs Alckmin e Genoino na disputa final para o governo do Estado, o primeiro ficou na frente, com 48%, e o petista obteve 36%.


Em ranking de imagem, Garotinho sobe e Ciro cai
Avaliação é feita por eleitores que têm telefone fixo; Lula e Serra estão na frente

A imagem positiva que o candidato Anthony Garotinho (PSB) passa na TV atingiu seu maior nível no ranking elaborado pelo Datafolha em seu rastreamento eleitoral. Ao mesmo tempo, a de Ciro Gomes (PPS) caiu a seu nível mais baixo.

De acordo com o instituto, o IIP (Índice de Imagem Positiva) de Garotinho era de 13,7% no início do horário eleitoral gratuito, foi a 13% na média de pesquisas feitas em 30 de agosto e 1º de setembro e atingiu 17% na semana passada. Está agora em 16,2%.

No caso de Ciro, seu IIP começou em 34,4% e caiu constantemente. Está agora em 22,4%.

Quanto mais perto de 100%, mais perto o candidato está da imagem considerada "ideal" pelos entrevistados.
No ranking do IIP, o líder continua sendo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 36,7%, seguido por José Serra (PSDB), com 27,8%.

Pelo modo como o IIP é calculado (veja quadro ao lado), é possível saber quais as prováveis causas das mudanças na imagem.

Desde o início do horário eleitoral, a taxa dos entrevistados que acreditam que Ciro é confiável caiu de 30% para 18%, e a dos que dizem que ele tem equilíbrio emocional, de 31% para 16%.

Já Garotinho tem taxas semelhantes entre suas qualidades, com destaque para a simpatia -27% o consideram simpático.

Se Garotinho conseguir repetir fenômeno verificado com José Serra (PSDB), ele tem espaço para crescer em seu índice de intenções de voto. Serra começou o rastreamento com um desempenho de imagem acima de sua taxa de intenção de voto. Aos poucos, a uma "colou" na outra.


Nizan Guanaes se filia ao PSDB
Publicitário diz que largará marketing político, mas nega pretensão política

"Eu tenho horror a marketing político." Foi com essa frase que o marqueteiro de José Serra, Nizan Guanaes, abriu seu discurso em evento no comitê do presidenciável tucano, durante o qual pediu sua filiação ao PSDB.
O publicitário aproveitou a ocasião para anunciar que vai "largar" o marketing político. Após assinar a ficha de inscrição do partido, apresentado pelo ex-ministro Clóvis Carvalho, Nizan negou que tivesse quaisquer pretensões políticas. "Não vou me candidatar a nada. Era só o que faltava. Vou largar o marketing político, mas quero simplesmente ser filiado."

Para uma platéia formada principalmente por jovens, que foram ao local ouvir sobre o projeto de Serra para a geração de empregos, o marqueteiro insistiu no que chamou de "um importante debate para o Brasil" entre o tucano e o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a consolidação de Serra no segundo lugar nas pesquisas, a estratégia tucana é polarizar o debate com Lula. Nizan negou, no entanto, que a campanha do PSDB fosse subir o tom nos ataques ao petista.

"Campanha não é desfile de primavera, mas vamos debater." Ele disse que considera Lula "bacana" e que o petista já estipulou um tom para o debate que deverá ser seguido pelos tucanos, "sem ataques".

Quando foi questionado sobre as críticas do PT ao desemprego, Nizan soltou uma farpa: "Por que a Prefeitura de São Paulo abriu a possibilidade de estrangeiros trabalharem em cargos públicos se a gente está precisando de emprego?". Ele se referia ao projeto da prefeitura que permite a contratação de estrangeiros pelo município.

O publicitário afirmou ser supersticioso e, por isso, não quis comentar se a candidatura Ciro Gomes (PPS) estava acabada. "A única queda fatal é a de avião. Temos de agir sem medo nem salto alto." Ele disse que trabalha com todos os cenários, inclusive com a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno.


Serra cobra clareza de Lula sobre o MST
Após subida nas pesquisas eleitorais, tucano reafirma estratégia de polarizar o debate com o presidenciável petista

O presidenciável José Serra (PSDB) cobrou ontem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "posições mais claras e transparentes em relação ao MST e às invasões".

A declaração, feita durante campanha em Cuiabá (MT), faz parte da estratégia tucana de polarizar o debate com o petista, após as ultimas avaliações positivas que Serra obteve nas pesquisas de intenção de voto.

"É interessante que ele [Lula] passe a mostrar como será seu programa e também sua opinião em relação ao MST e às invasões. Isso interessa para os eleitores e para o Brasil", disse Serra.

Segundo o tucano, ao fazer essas declarações, sua única intenção é propor um debate de alto nível. Serra evitou comentar o desempenho do candidato Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas.

Com relação a seu crescimento, o tucano disse que "isso já era esperado". "Tinha a perspectiva de crescer por causa de nossas propostas. Por exemplo, eu proponho criar oito milhões de empregos e mostro como isso será feito. Acho que Lula deveria fazer o mesmo. Mostrar como pretende criar os empregos", disse.

Serra comparou a estratégia de sua campanha à da seleção brasileira. "O jogo ainda está no começo, nós seguimos a estratégia da seleção brasileira. Vamos ganhar até o final do segundo tempo, de maneira firme e cautelosa", disse.

Estadual
Ao contrário da motivação tucana na eleição nacional, a situação na disputa estadual em Mato Grosso se inverteu: Blairo Maggi (PPS) ultrapassou Antero Paes de Barros (PSDB) na última semana. A virada provocou uma crise local no PSDB local.

A ida de José Serra ao Estado a terceira neste ano- foi interpretada pelos tucanos como uma força à candidatura local, que até 15 dias atrás ainda não tinha cartazes e faixas pela cidade.

A avaliação de coordenadores da campanha local é de que os tucanos haviam subestimado o potencial de crescimento do candidato do PPS.

Serra não economizou elogios ao Estado, dando destaque ao que chamou de "crescimento econômico motivado por duas gestões tucanas", do ex-governador Dante de Oliveira [candidato ao Senado], em aliança com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele sugeriu que isso poderia se repetir com ele na Presidência e Antero Paes no governo do Estado.

"Com a aliança de duas administrações, a local, de Dante de Oliveira, e a nacional, de Fernando Henrique Cardoso, aqui foi feito o projeto Pantanal e inúmeras rodovias. Mato Grosso não tem espelho retrovisor, é um Estado que só olha pra frente", afirmou.

Caminhada
Com cerca de uma hora e meia de atraso, Serra foi recepcionado no Aeroporto Marechal Rodon, em Cuiabá, por cerca de duzentas pessoas.

Durante caminhada pelo centro da cidade, o candidato do PSDB foi acompanhado por cerca de cinco mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.

"Foi a campanha mais calorosa desde o início da eleição", declarou o tucano.

De bom humor, Serra visitou lojas, comeu pastel , brincou com as pessoas nas ruas e ganhou elogios, principalmente das mulheres mais velhas.

"Daqui vou voar [para São Paulo] com o dobro da energia que cheguei", disse.

Mais tarde, o presidenciável deu entrevistas a três emissoras de TV locais e a duas rádios. "Tenho interesse em falar. Quero aproveitar o máximo de tempo para que as pessoas conheçam as minhas propostas", disse.
Durante as entrevistas, o candidato do PSDB procurou destacar principalmente as sucessões estaduais que envolvem o seu partido.

Antes de voltar para São Paulo, Serra teria uma conversa reservada com ex-governador Dante de Oliveira e o candidato Antero Paes de Barros.


Maluf cai para 35%; Genoino vai a 17%; Alckmin tem 25%
Um expressivo aumento das intenções de voto no candidato do PT, José Genoino, e a queda de cinco pontos percentuais do líder da disputa, Paulo Maluf (PPB), são os dados mais significativos da pesquisa do Datafolha sobre a sucessão para o governo do Estado de São Paulo.

Como no levantamento anterior (de 15 e 16 de agosto), Maluf aparece em primeiro, mas agora com 35% das intenções de voto (tinha 40%). Em seguida vem o atual governador Geraldo Alckmin (PSDB), que passou de 24% para 25%, e, depois, José Genoino, que subiu de 10% para 17%.

Realizada na última segunda-feira, a pesquisa recolheu a opinião de 1.196 eleitores de 67 cidades do Estado. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

O levantamento indica também que oscilou para cima o número de eleitores que ainda não escolheram um candidato: totalizavam 8% na pesquisa anterior, são 10% agora. Os eleitores que pretendem votar em branco, anular o voto ou não querem optar por nenhum dos candidatos em disputa permanecem no mesmo patamar da pesquisa anterior: 6%.

Com relação aos demais candidatos que concorrem ao governo estadual, o destaque fica por conta de Ciro Moura, do PTC: ele tinha 6% das intenções de voto no levantamento de 15 e 16 de agosto e caiu para 1% neste. Carlos Apolinário (PGT) continua com 2%, Cabrera (PTB), com 1%, e Lamartine Posella, que entrou no lugar de Fernando Morais, do PMDB, ficou com 1%. Os outros oito candidatos que estão registrados no Tribunal Regional Eleitoral ou não foram citados, ou não atingiram 1% de citações.

Espontânea
Os pesquisadores do Datafolha também pediram aos eleitores consultados que citassem espontaneamente em quem iriam votar para governador.

O resultado foi: Maluf com 20% (um ponto percentual a menos do que na pesquisa anterior), Alckmin com 15% (três pontos percentuais a mais) e José Genoino com 10% (o dobro do que tinha na pesquisa anterior). Os dados da pesquisa espontânea indicam que caiu o número de eleitores indecisos: de 52% para 44%.

Sobre a rejeição aos competidores, o presente levantamento revela que Maluf continua sendo o mais citado quando os pesquisadores perguntam em qual candidato o eleitor não votaria "de jeito nenhum": teve 38% das indicações, quatro pontos a mais do que no mês passado. Geraldo Alckmin, por sua vez, oscilou de 18% para 20%, e José Genoino foi de 22% para 19%.

Governo Alckmin
A atuação do governador Geraldo Alckmin à frente do Executivo paulista permanece sendo avaliada como regular pela maioria dos eleitores, segundo mostra a pesquisa do Datafolha. De zero a dez, a nota média dada ao governador tucano foi 5,5.

O levantamento revela que 44% dos entrevistados consideram a administração Alckmin regular (contra 48% registrados na pesquisa anterior).

A taxa de ruim/péssimo variou três pontos percentuais (de 15% para 18%) e a de ótimo/bom registrou uma ligeira oscilação positiva. Era de 32% na última pesquisa, agora está em 33%.


Artigos

Outro 11, outra infâmia
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Como a história é escrita, em geral, pelos vencedores, quase ninguém lembra que houve outro 11 de setembro negro na história.

Refiro-me ao 11 de setembro de 1973, o infame dia em que foi deposto o presidente constitucional do Chile, Salvador Allende Gossens.

Allende representava, a rigor, mais perigo para os interesses estabelecidos do que Fidel Castro. Afinal, Castro chegara ao poder à bala, um resultado que poucas revoluções conseguem, em especial na América Latina, pátio traseiro dos EUA.

Allende não. Não só foi eleito legitimamente como exerceu o poder nos marcos do que a esquerda chamava, depreciativamente, de "legalidade burguesa", conceito hoje virtualmente arquivado.

É verdade que houve intensa campanha da mídia chilena para provar o contrário, com financiamento da CIA, conforme comprovado posteriormente pelo próprio Congresso dos Estados Unidos.

O fato é que os interesses estabelecidos, com financiamento norte-americano, mostraram contra Allende e seu ensaio de socialismo democrático uma sanha maior até do que a dos terroristas da Al Qaeda contra os Estados Unidos.

Allende legou exemplo raro: preferiu a morte à infâmia. "Pagarei com minha vida a lealdade do povo", disse em sua última mensagem, pela rádio Magallanes, quando qualquer resistência era inútil.

E terminou pondo a esperança no horizonte, contra vento e maré: "Superarão outros homens este momento cinzento e amargo, no qual a traição pretende impor-se. Continuem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, se abrirão as grandes alamedas pelas quais passará o homem livre para construir uma sociedade melhor".

Será o incômodo do exemplo que explica o silêncio sobre Allende neste 11 de setembro?


Colunistas

PAINEL

Sinal de abalo
Brizola (PDT) praticamente jogou a toalha. Em conversas reservadas com aliados, o líder pedetista disse considerar quase impossível uma reviravolta pró-Ciro. Chega a discutir até se não seria melhor o presidenciável desistir para tentar ajudar Lula a se eleger no primeiro turno.

Culpa de ocasião
Aumentou a pressão sobre Ciro para que ele afaste o cunhado Einhart do comando do marketing da campanha. Além do PFL, PPS e PTB reforçaram o coro. Ontem, foi levado a ele o nome de Chico Santa Rita.

Raiva combinada
Os ataques de Garotinho ao TSE foram feitos após Ciro ter procurado o candidato do PSB e pedido apoio contra o que chama de complô pró-Serra.

Ônus governista
Caciques do PSDB estão preocupados com o aumento da taxa de rejeição de Serra (passou de 27% para 31% no Datafolha- Lula tem 30%). Acham que, na última semana, a oposição conseguiu desgastá-lo ao colar Serra a pontos fracos do governo.

Peso eleitoral
Para responder ao PT e tentar aumentar a rejeição a Lula já no primeiro turno, Serra irá identificar a imagem do presidenciável com os problemas das gestões do partido na cidade de SP (Marta) e nos governos de Zeca do PT (MS) e Olívio Dutra (RS).

Arte engajada
O cantor e compositor Chico Buarque gravou depoimento de apoio a Tilden Santiago (PT), que disputa uma vaga no Senado por MG. Seu assessor, João Tavares, joga bola com Chico.

Gosto duvidoso
O site Controle Público, que entrará hoje no ar, guarda curiosidade sobre o ex-senador Gilberto Miranda (PFL-AM): em sua declaração de bens de 98 diz ter 864 garrafas de vinho, avaliadas em R$ 35.515. Dá uma média de R$ 41,11 por garrafa.

Violência rural
Seminário organizado no TO pelo frei Xavier Plassat, coordenador da CPT contra o trabalho escravo, revelou denúncia de aliciamento de 135 lavradores. Parte teria sido perseguida por homens armados de metralhadoras, a mando de um suposto "coronel de Belo Horizonte".

Denúncia
O procurador da República Luiz Francisco formalizou ontem na Justiça denúncia de suposta improbidade administrativa contra o ministro do STF Gilmar Mendes. Na chefia da AGU, teria se beneficiado com 451 contratos informais com instituto à qual estaria ligado.

Própria segurança
A suspensão de Rainha no MST ocorreu porque ele teria desrespeitado um aviso da coordenação nacional, de que havia "pistoleiros" de prontidão na fazenda Santa Rita do Pontal. Rainha insistiu na invasão, em janeiro, e acabou baleado nas costas durante uma emboscada.

Buzinaço
A dupla ET e Rodolfo, que nos programas de Gugu Liberato invadia quartos de artistas em horas impróprias, foi contratada pelo candidato ao governo do CE, Sérgio Machado (PMDB), para "conhecer o verdadeiro Ceará", numa série de ataques no horário eleitoral ao governo de Tasso Jereissati (PSDB).

Quem diria
Fernando Collor passou a atacar de repórter em seu programa eleitoral. Com microfone na mão, o ex-presidente, candidato ao governo de Alagoas, "denuncia" a miséria e supostas irregularidades da gestão de seu adversário Ronaldo Lessa (PSB).

Visitas à Folha
Antonio Fernando Pinheiro Pedro, candidato a governador de SP pelo PV, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Vicente Rosolia, coordenador político da campanha, e de Victor Agostinho, coordenador de comunicação da campanha.

O deputado federal Marcos Cintra (PFL-SP) visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De Garotinho (PSB), ao ser elogiado por um eleitor por ter atacado José Serra (PSDB) no debate da TV Record:
- Vou pedir autorização ao Ibama para bater em tucanos.

CONTRAPONTO

Noite de humor
Logo após o debate entre os presidenciáveis na TV Record, na semana passada, José Serra (PSDB) contou para a jornalista Mônica Waldvogel, numa roda ainda no estúdio da emissora, que ficava nervoso quando surgia algum problema e suas gravações para o horário eleitoral tinham de ser refeitas.
- Eu tenho vontade de estrangular o produtor - brincou Serra.
A jornalista ironizou:
- Está vendo, senador? É por dizer essas coisas que o senhor tem fama de mal-humorado.
Serra não recuou:
- Ah, e tem também o rapaz do teleprompter. Então é assim: eu tenho vontade de estrangular o produtor e enforcar o rapaz do teleprompter...
Os que estavam em volta se entreolharam, sorrindo. Serra completou:
- Lá no estúdio todo mundo acha graça quando eu falo isso.


Editorial

11/09

A pergunta é óbvia, mas isso não a torna menos pertinente: O mundo mudou depois dos atentados de 11 de setembro? A resposta, como não poderia deixar de ser, é ambígua, um misto de sim e não.

Objetivamente, o mundo, em sua essência, permanece o mesmo. As estruturas produtivas não foram alteradas; os grandes movimentos demográficos seguem o seu curso; a esmagadora maioria da humanidade não foi afetada pelos trágicos acontecimentos do 11 de setembro. Ainda assim, o 11/09 é uma data a ser lembrada. Trata-se, afinal, do dia em que cerca de 3.000 inocentes foram covardemente assassinados, e os símbolos do poder econômico e militar dos EUA foram duramente golpeados por um grupo de fanáticos.

E os eventos que se seguiram aos atentados, embora não tenham alterado a natureza do planeta, produziram uma série de consequências. A mais notável delas é que os EUA, liderados por George W. Bush, se consideram agora numa cruzada contra o terrorismo e estão prestes a iniciar uma nova guerra contra o Iraque, ainda que contra a opinião da maioria de seus aliados.

Esse unilateralismo, que já se insinuava no início da gestão Bush, tornou-se a principal marca da política externa norte-americana após o 11/ 09. Por paradoxal que pareça, os atentados resgataram a administração Bush da mediocridade. O presidente da nação mais poderosa da Terra já assumira o cargo com sua legitimidade posta em dúvida pelo conturbado processo eleitoral de 2000. Seu futuro não se afigurava brilhante, principalmente se se considerar a queda registrada na atividade econômica dos EUA, para a qual os atentados contribuíram, mas nem de longe determinaram.

Nesse sentido, Osama bin Laden não apenas impediu que Bush sucumbisse a seu destino como ainda lhe propiciou elevadíssimos índices de popularidade. O trágico é que, para conservar essas taxas de aprovação, o presidente precisa manter abertos indefinidamente "fronts" externos. É aí que se encaixa o Iraque e sabe-se lá quais outros "Estados terroristas" que compõem a sua lista.

No plano interno, os EUA também se impuseram pesados reveses por causa do 11/09. Os direitos civis assistiram a um retrocesso como nunca antes verificado, e com o aval do Congresso e da maioria da população. Para reforçar a segurança, o Executivo revogou direitos e garantias fundamentais. Autorizou, por exemplo, que suspeitos de terrorismo fossem submetidos a julgamentos secretos em tribunais de exceção. Não são atitudes consonantes com a tradição democrática dos EUA.

Depois do 11 de setembro, a América se tornou mais unilateral, mais isolada e menos democrática. E alguns países se aproveitaram dessa nova situação para tentar resolver antigas pendências. Sob o pretexto de guerra ao terrorismo, velhos conflitos recrudesceram. Foi o que se verificou, por exemplo, entre israelenses e palestinos, indianos e paquistaneses, russos e tchetchenos.

O mundo em seu conjunto sobreviveu relativamente incólume aos atentados de 11 de setembro, mas é forçoso reconhecer que ele se tornou um lugar mais irracional.


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09/11/2002


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