Unesp cria sistema de classificação de agrotóxicos



Produtos foram avaliados quanto ao potencial de deixar excedentes na natureza

Uma equipe da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, Câmpus de Botucatu, desenvolveu um sistema de classificação de agrotóxicos quanto à redução de ‘deriva' na aplicação. Deriva é a porção do produto químico aplicado que não atinge o alvo desejado, podendo se depositar em áreas vizinhas, com potencial impacto ao ambiente.

Os pesquisadores analisaram não apenas os agrotóxicos, mas toda a técnica de aplicação de cada produto, o que inclui os adjuvantes (substâncias adicionadas ao defensivo agrícola para facilitar sua aplicação, aumentar a eficiência ou diminuir riscos) e também as pontas de pulverização (responsáveis por distribuir as gotas contendo os agrotóxicos nas lavouras).

Apesar de existir no mercado uma quantidade grande de agrotóxicos, adjuvantes e pontas de pulverização, os consumidores destes produtos têm dificuldade para escolher, segundo explica o autor do trabalho Fernando Kassis Carvalho, estudante de mestrado da FCA. "Não existe no Brasil uma classificação dos produtos em relação à redução de risco de deriva", diz. "O acesso a essas informações evitaria que o agricultor adquirisse produtos que não cumprem as funções esperadas."

Segundo o professor da FCA Ulisses Antuniassi, co-autor do estudo, o sistema de classificação vai além de transmitir ao produtor segurança na hora da escolher uma técnica de aplicação. "A classificação é uma ferramenta para aumentar a sustentabilidade e a responsabilidade no uso de produtos fitossanitários".

Além do professor e do pós-graduando, participaram do trabalho os pesquisadores Rodolfo Glauber Chechetto, Caroline Michels Vilela, Alisson Augusto Barbieri Mota, Anne Caroline Arruda e Silva e Rone Batista de Oliveira.

Classificação por ‘estrelas'

Os estudiosos analisaram a espessura das gotas geradas durante as pulverizações - quanto mais finas, mais sujeitas à deriva porque podem ser carregadas a grandes distâncias. A partir de testes feitos em um túnel de vento, os pesquisadores da FCA criaram uma escala que atribui estrelas a cada técnica de aplicação em função dos resultados obtidos.

"A quantidade de estrelas que uma técnica recebe indica a capacidade em reduzir deriva", explica Antuniassi. "Como exemplo, uma técnica classificada com três estrelas proporcionaria uma redução no risco de deriva maior do que 75% com relação a um método de aplicação padrão".

A expectativa dos pesquisadores é que essa classificação seja, no futuro, impressa no rótulo ou bula do agrotóxico, servindo como base para a tomada de decisão sobre o tipo de técnica que deverá ser empregada. "Se uma aplicação será feita em região próxima a uma área urbana ou a um curso d'água, a recomendação é o uso de um agrotóxico cujo rótulo indique uma técnica de três estrelas, e esta ressalva deverá constar da receita agronômica [prescrição e orientação técnica para o uso do produto]", exemplifica o professor.

Em locais mais distantes a regiões de maior sensibilidade aos impactos causados pelos agrotóxicos, o uso de técnicas de uma ou duas estrelas poderia até ser aceitável, dizem os estudiosos.

Prêmio

O trabalho foi destaque na quinta edição do Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos (Sintag), realizado em setembro, em Cuiabá (MT). Ele obteve o primeiro lugar na categoria "Melhores trabalhos sobre deriva na aplicação de agrotóxicos", concorrendo com 21 pesquisas.

Carvalho, primeiro autor, foi convidado a apresentar o trabalho aos líderes da área de pesquisa da empresa Dow Agroscience, patrocinadora do evento. Além do troféu, ele recebeu um prêmio de R$ 5 mil.

Ainda durante o Sintag, na mesma categoria, outro trabalho da FCA teve destaque: "Avaliação da deriva em aplicações de herbicidas em canas-de-açucar", de Caio Antonio Carbonari, Edivaldo Domingues Velini, Marcelo Boschiero e Weber Valério foi classificado em terceiro lugar.

Da Unesp



01/28/2012


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