USP e Unicamp no ranking das melhores universidades
Reitor comenta inclusão de Unicamp e USP em ranking
JOSÉ TADEU JORGE
A INCLUSÃO da USP (Universidade de São Paulo) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) no ranking das 200 melhores instituições de ensino superior do mundo, conforme divulgado pelo "The Times Higher Education Supplement" no início de novembro, é fato que merece atenção e análise. Se não pela posição que ambas ocupam entre milhares de universidades espalhadas pelo mundo, já em si honrosa, seguramente pelo salto que deram desde o surgimento dessa avaliação comparativa, há quatro anos.
----------
É relevante saber quais qualidades levaram as duas instituições brasileiras a figurar num círculo restrito de universidades de 1ª linha
----------
A USP, que, na lista anterior, aparecia em 284º lugar, surge neste ano no 175º posto, uma evolução de nada menos que 109 posições. Já a Unicamp saltou do 448º lugar para o 177º, um avanço tão notável a ponto de situá-la ao lado da Universidade de Dublin e à frente de instituições prestigiosas como as universidades de Leicester, Antuérpia, Canterbury, Oslo, Barcelona e Kobe. A Universidade Autônoma do México (192º colocada) é a única outra instituição latino-americana a constar do ranking. Para compor a lista, os organizadores ouviram 5.101 especialistas em todo o mundo, sobretudo acadêmicos, mas também empregadores e estudantes internacionais. E confrontaram publicações relevantes, visando detectar, no período, os textos científicos de maior impacto e influência.
Não chega a ser novidade que os dez primeiros lugares sejam dominados por universidades norte-americanas e inglesas, com Harvard na ponta, e que, fora desse âmbito, apenas quatro instituições -uma canadense, uma australiana, uma japonesa e outra de Hong Kong- apareçam entre as 20 melhores. Outros rankings têm sistematicamente confirmado essa polarização. A primeira universidade européia não anglófona a aparecer é a École Normale Supérieure, da França, no 26º posto. A lista completa se fecha em torno de 28 países, círculo do qual surpreendentemente se excluem, ao menos nessa edição do ranking, sistemas universitários tradicionais como os de Rússia, Índia e Argentina.
Ponto importante a ser considerado, no contexto de levantamentos comparativos dessa natureza, é que, se na Europa a idade das universidades se conta por séculos, no Brasil, ela ainda se conta por décadas. Embora o país tenha instalado suas primeiras escolas superiores isoladas a partir de 1808, com a chegada da corte portuguesa, somente no século 20 passou a haver aqui universidades congruentes, integradoras e capazes de traduzir a "unidade na diversidade".
As primeiras universidades norte-americanas, Harvard, Yale e Filadélfia, surgiram respectivamente em 1636, 1701 e 1755. Quando foi criada a antiga Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, já havia 78 universidades espalhadas pelos Estados Unidos e 20 pela América Latina, como as de São Domingos, fundada em 1538, São Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cusco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Em contrapartida, a USP, alma mater da universidade pública brasileira, surgiu apenas em 1934, e a Unicamp nem bem terminou de comemorar seu quadragésimo aniversário.
Por certo é relevante saber quais qualidades levaram as duas instituições brasileiras a figurar num círculo restrito de universidades de primeira linha. Os próprios critérios de avaliação dão pistas nesse sentido, bem como o processo de ausculta utilizado.
Pesaram fortemente na indicação, não há dúvida, a densidade de seus programas de pesquisa, a inserção internacional de seus pesquisadores, o impacto de seus "papers" no mundo científico, a capacidade de inovação e o cultivo de um modelo que faz da pesquisa e da extensão elementos qualificadores do ensino, com influxo na formação dos estudantes e na preparação de profissionais capazes de intervir nas frentes de desenvolvimento social, industrial, cultural etc.
Tem também seu significado o fato de que as duas instituições sejam de São Paulo, único Estado brasileiro em que as universidades públicas -USP, Unicamp e Unesp- contam com a prerrogativa da autonomia plena, inclusive de gestão financeira. Gerindo a si mesmas desde 1989 graças à vinculação de seus orçamentos à arrecadação do ICMS estadual, essas universidades puderam refinar suas escolhas de prioridades, estabelecer metas e acelerar a qualificação acadêmica de docentes e de gerações sucessivas de alunos.
Os resultados não tardaram a aparecer, com reflexos em praticamente todos os indicadores, como demonstrado em diversas ocasiões. Era natural que, cedo ou tarde, fossem percebidos aqui e além, para estímulo não só da USP e da Unicamp, mas da universidade brasileira como um todo.
JOSÉ TADEU JORGE, 54, doutor em ciências de alimentos, é reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas).
11/28/2007
Artigos Relacionados
USP é a 1ª do Brasil em ranking das melhores universidades de países emergentes
USP lidera ranking das melhores universidades da América Latina
USP aparece entre as 150 melhores universidades em ranking chinês
USP lidera ranking das melhores universidades da América Latina
USP é a primeira colocada no ranking das melhores universidades da América Latina
USP e Unicamp estão entre as 10 melhores universidades dos Brics