USP: Faculdade de Medicina inaugura laboratório para treino de procedimentos



Principais recursos do novo espaço são 30 bonecos, feitos de borracha e capazes de imitar as reações humanas

Os alunos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) passaram a contar com a ajuda de um grupo de pacientes que se sujeitam aos mais variados procedimentos clínicos, dolorosos e até errados, repetidas vezes, sem reclamar. Bem, nem todos. Um deles, Kid Vital Sim, reclama e às vezes chora, mas só se o professor mandar. Esses pacientes realmente pacientes são os manequins do recém-inaugurado Laboratório de Habilidades Clínicas, criado para possibilitar o treinamento de procedimentos médicos em situações que simulam quadro clínico real, com o auxílio dos bonecos.

No novo espaço tem 30 manequins, de origens americana e canadense, confeccionados em borracha especial que imita a textura da pele e de outros tecidos humanos. São 23 tipos diferentes, e cada um oferece o realismo anatômico e funcional necessário ao treinamento de manobras e exames clínicos específicos.

A variedade abrange faixas etárias e características diversas. Há desde modelos que imitam recém-nascido, crianças e adultos, com suas constituições físicas típicas, até partes específicas do corpo humano, como braços com veias aparentes e sangue artificial para a prática de exames, coluna vertebral e dorso para aplicação de anestesias e coleta de líquor, tórax para drenagem, entre outros.

Kid Vital Sim, por exemplo, integra o grupo elaborado especialmente para as simulações de procedimentos cardiológicos e de emergência. Tem organismo e aparência de criança e pode ser programado para tossir por falta de ar, chorar e gritar de dor se não for atendido adequadamente. Essas reações são programadas em computador.

Os modelos desenvolvidos para o treinamento de problemas cardiorrespiratórios são equipados para a ocorrência de todas as passagens comuns a esses casos. Podem ser entubados, precisar de drenagem de tórax e ressuscitação. "Usamos em aulas sobre atendimento de emergência", conta o diretor do laboratório, dr. Augusto Scalabrini Neto. "A evolução do caso é comandada pelo professor de acordo com a atuação do aluno. Como no fato real, se o médico não proceder corretamente, o paciente pode morrer", sugere. Os simuladores podem caracterizar o atendimento de emergência na rua (boneco com pulso comandado por uma bombinha) e no hospital (nesse caso os bonecos estão vinculados a equipamentos próprios, como desfibriladores).

Realismo

A prática obstétrica pode ser experimentada com a manequim Noelle. Nela, os alunos têm a chance de praticar o enfrentamento de um parto com dificuldades e a chamada "manobra de Leopold" (procedimento usado pelo obstetra para ajudar o nascimento do bebê). A boneca protagoniza o parto em detalhes. Um motor realiza a expulsão da criança, que enquanto está na barriga da mãe permite a audição do batimento cardíaco do bebê.

O dr. Scalabrini explica que os manequins provocam realismo ao treinamento. "Com eles, é possível simulação bem próxima da verdade de reações em situações de emergência e de manobras delicadas", diz. O professor titular do Departamento de Clínica Médica, doutor Mílton de Arruda Martins, também considera o uso desses bonecos um recurso de ensino importante na área da saúde. "Permite a redução do erro médico, em situações que exigem decisões rápidas, sensibilidade e habilidade técnica, além da humanização do atendimento", afirma.

Antes da inauguração do laboratório, a FMUSP dispunha somente de manequins para treinamento de ressuscitação. Entre os novos modelos adquiridos, alguns são destinados ao aprendizado de procedimentos clínicos invasivos, como a passagem de sondas e cateteres venosos e cuidados como traqueostomia e colostomia. Outros são indicados para a realização de exames ginecológicos, de mamas e urológicos, nos quais são treinados toques retais. Eles têm próstatas e testículos variados para troca, com características diferentes.

Simulação de consultas

O Laboratório de Habilidades Clínicas da FMUSP é o terceiro inaugurado em universidades brasileiras e o maior em área física, com 485 metros quadrados. Além dos manequins, dispõe de salas equipadas com computadores em rede e telas para projeção com luz inteligente. São seis salas dispostas em três andares. Os recintos destinados à operação de cadáveres e animais e à realização de autopsias ficam separados, em pavimentos diferentes. Sua estrutura permite, ainda, a transmissão de aulas por videoconferência.

Scalabrini Neto, afirma que o espaço será utilizado também para a simulação de consultas. "Vamos montar um consultório, com atores, no qual o aluno poderá treinar sua atitude", afirma. Segundo ele, a idéia é permitir ao futuro médico a preparação para a revelação de diagnósticos e notícias não-favoráveis aos pacientes e seus familiares. Os atores serão treinados para reagir de diversas maneiras e as cenas poderão ser gravadas para análise posterior da conduta, a ser feita pelo próprio aluno participante, com o grupo e o professor. As instruções e os treinos no laboratório são realizados desde o início do

09/04/2006


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