USP: Museu de Arte tem acervo que pontua a história da arte contemporânea



São quase 10 mil obras, entre óleos, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais

Os grandes mestres da arte do século 20 estão presentes no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. São quase 10 mil obras, entre óleos, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais. O único auto-retrato pintado por Amedeo Modigliani, em 1919, a Natureza Morta de Henri Matisse, a Composição Clara, de Wassily Kandinsky, e a litogravura sem título, assinada em 1949 por Marc Chagall são algumas das obras que fazem do MAC um museu conhecido internacionalmente, e um dos mais conceituados entre os que reúnem arte moderna e contemporânea da América Latina.

 

Há também trabalhos de Pablo Picasso, Alexander Calder, Geoges Braque, Henry Moore, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Anita Mafaltti, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, Alfredo Volpi e Victor Brecheret. Importante lembrar também a participação da instituição na trajetória de artistas como Evandro Carlos Jardim, Maria Bonomi, Cláudio Tozzi e Regina Silveira. “Podemos contar a história da arte contemporânea a partir das obras da nossa coleção”, lembra a professora Lisbeth Rebollo Gonçalves, nova diretora do museu.

“O MAC tem incentivado a formação de jovens artistas. Estímulo que vem desde meados da década de 60, com as programações da Jovem Arte Contemporânea, as famosas JACs, que acabaram revelando diversos talentos”, afirma Lisbeth, que inicia a sua segunda administração no MAC. A primeira foi de janeiro de 1994 a março de 1998.

 

Sonhos e lutas – A história do Museu de Arte Contemporânea é pontuada por convicções e idealismo, como o de Walter Zanini, que enfrentou, em 1963, o desafio de criar um museu a partir da coleção doada à USP pelo Museu de Arte Moderna (MAM). Além desse acervo, o então presidente do MAM, Francisco Matarazzo Sobrinho (Ciccillo Matarazzo), e sua mulher, Yolanda Penteado, doaram as suas coleções particulares. Com verba mínima, dez funcionários e a colaboração de estudantes e especialistas foram organizados o MAC, abrindo-se na época um espaço único no Brasil para os artistas e compondo a história da arte contemporânea nacional.

 

Durante 15 anos, Zanini esteve à frente da instituição. Ressalta como significativo aspecto de sua política cultural a constante preocupação em complementar o acervo e mantê-lo atualizado. Defendia: “A tarefa do museu, na sua complexidade crescente, assume novas responsabilidades. Entre as suas funções está a constituição de acervos documentários que abranjam as formas audiovisuais”. A gestão seguinte, iniciada em 1978 por Wolfgang Pfeiffer, ficou marcada pela convicção de que um museu é espaço para acolher a arte consagrada, e não ser um núcleo de experimentações. Para ele, um museu só deveria dar seu aval a obras consagradas pela crítica.

 

As prioridades estabelecidas por cada gestão fizeram o MAC crescer, pela atuação no sentido de estruturá-lo em bases museológicas modernas, a meta de abrir cada vez mais suas portas ao grande público, a programação de exposições integrando o acervo com o cotidiano da cidade ou a atuação como grande sala de aula.

 

Acervo de mestres – Além das exposições, oferece, nos três edifícios que ocupa – um no Parque Ibirapuera e dois na Cidade Universitária –, diversas atividades e serviços, como disciplinas optativas para cursos de extensão cultural, atividades e ateliês, visitas orientadas e biblioteca, além do site www.mac.usp.br que dispõe exposições virtuais. Na exposição Ciccillo – Acervo MAC USP, com 121 obras, o público tem uma mostra dessa coleção de dimensões internacionais. A programação homenageia Francisco Matarazzo Sobrinho, que deixou marcas expressivas no MAC. De um lado, Ciccillo assinala seu viés moderno por meio das obras que apresentam as principais vanguardas do século 20. De outro, busca as surpresas e aberturas para novas plataformas estéticas contemporâneas e emergentes.

Essa perspectiva está presente nos três eixos da exposição: Coleção Inicial, Questões Estéticas e Desdobramentos da Coleção, num percurso que mostra momentos importantes do acervo, com trabalhos de Kandinsky, De Chirico, Boccioni, Tarsila, Anita Mafaltti e Portinari, entre outros, ao lado de obras incorporadas ao acervo nas últimas décadas, como Henry Moore, Christo, Rauschenberg, Hélio Oiticica, Waldemar Cordeiro, Cláudio Tozzi, Regina Silveira, Julio Plaza, Arcângelo Ianelli, Leda Catunda, Sérgio Romagnolo e Marco Gianotti.

 

Novo tempo – Na direção, Lisbeth Rebollo Gonçalves tem a proposta de reforçar a identidade do MAC da USP como um museu do século passado. “Procuramos promover ações para pôr em evidência a sua dimensão contemporânea, por meio de ciclos de debates, fóruns, congressos e exposições nacionais e internacionais”, explica. Além das novidades, a diretora manteve na programação as exposições previstas, como a mostra de Alfredo Volpi e, no segundo semestre, a de Aldo Bonadei. A pesquisadora Lisbeth sempre esteve presente no MAC. Como professora titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, acompanha de perto os rumos da arte contemporânea. Foi eleita, também, há poucos meses, vice-presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte, função que propicia o seu relacionamento com museus e institutos culturais de todo o mundo.

 

“Pretendemos trazer curadores de diversos países. Assim, os estudantes de artes, pesquisadores e o público poderão se inteirar do que está acontecendo com a arte contemporânea do planeta”, planeja Lisbeth. O trabalho, afirma, será em equipe: “O MAC conta com a competência de 105 funcionários, 34 deles são vigilantes e foram especialmente treinados para garantir a segurança do local. Reunimos docentes e pesquisadores que têm experiência, conhecimento e competência para atuar nessa gestão compartilhada. Todos têm um projeto e uma linha de trabalho”.

 

A paulistana Lisbeth nasceu no meio da arte. Cresceu vendo o pai, o pintor Francisco Rebolo (1902-1980), trabalhando em seu ateliê. E se divertia mexendo num baú repleto de catálogos e recortes. “Naquela época, eu já fazia pesquisa. Queria saber que pintor era esse, aquele. Observava as cores, as formas”, conta. Quando chegou o momento de escolher a profissão, o crítico de arte Sérgio Milliet sugeriu o curso de Ciências Sociais na USP. Um conselho que, muitos anos depois, ela retribuiu ao escrever o livro Sérgio Milliet, Crítico de Arte. Quando foi fazer pós-graduação, o antropólogo Ruy Coelho, que seria o seu orientador, rasgou o seu projeto de sociologia para incentivar a sua vocação de menina.

Assim, passou a se dedicar à arte. Começou como pesquisadora no MAC e, há 20 anos, atua como professora da ECA. Experiência que registrou em diversos livros, como Aldo Bonadei – O Percurso de um Pintor, e Entre Cenografias – O Museu e a Exposição de Arte n

06/14/2006


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