USP promove interação com danças de roda e contos



Universidade vai abrir inscrições para 2º semestre; para saber mais, acesse o endereço: www.ip.usp.br/laboratorios/lep

Eles mal se conhecem, mas encontram-se semanalmente, identificam-se pelo primeiro nome e umas palavras reveladoras do seu estado de espírito naquele dia, dão as mãos, olham-se com cuidado e dançam juntos, em roda. Uma das participantes desse ritual, a aposentada Regina Helena Santos Silva, de 61 anos, foi movida pela curiosidade ao Laboratório de Estudos da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, para se inscrever no grupo de Danças Circulares e Contos, iniciativa oferecida gratuitamente no local pelo quinto semestre consecutivo.

E a motivação para participar há mais de um ano é o bem que a atividade lhe faz. “Venho feliz porque adoro, me energiza. Nem me lembro dos meus problemas quando estou aqui,” conta ela, que diz não sentir estranhamento ao dançar de mãos dadas com pessoas das quais nada sabe. “Ocorre um entrosamento natural. Quem nunca dançou, dança legal”, avalia Regina. Segundo a coordenadora do grupo, a psicóloga Tânia Pessoa de Lima, o principal objetivo da iniciativa é justamente o resgate do dom da convivência humana positiva por meio da vivência das danças em roda e o mergulho na fonte de sabedoria dos contos de tradição oral.

O contato de Tânia com os contos tradicionais orais e as danças circulares ocorreu quase simultaneamente: ao desenvolver pesquisa de mestrado sobre contos de fadas e alquimia, a professora foi apresentada por um amigo a um grupo de contadores de história para buscar material para o trabalho e passou a praticar danças circulares para relaxar.

“Ambos fazem parte do mesmo universo. Não têm autor conhecido e são compostos de elementos simbólicos que apresentam o inconsciente coletivo de um povo. Trata-se de um material riquíssimo de sabedoria”, julga Tânia. Daí a idéia de juntar as duas práticas numa oficina, com vistas a integrar o projeto de pesquisa A Psicologia Analítica de Jung Aplicada a Contextos Diversos, da professora Laura Villares, desenvolvido no laboratório. “Durante o processo, os participantes têm a oportunidade de realizar uma prática terapêutica, que abrange vários sentidos”, ressalta. Mas faz questão de distinguir o processo da oficina do realizado no atendimento individual de psicoterapia: “Aqui a proposta é coletiva e minha função não é de levar à cura de um problema específico, mas de orientar uma prática que propicie bem-estar”, observa. 

Danças sagradas – As danças circulares foram criadas em diversas partes do mundo e períodos, geralmente para integrar rituais de celebração ou saudação. Por isso são chamadas também de sagradas. Caracterizam-se ainda pela proposta de compartilhamento, por serem praticadas em roda e de mãos dadas. Passadas de geração para geração, mantiveram-se vivas e representam os traços culturais de cada povo, tais quais os contos orais.

Tânia Pessoa conserva a tradição em sua oficina. E como uma fiel focalizadora das danças (nome dado a quem orienta essa prática), obedece a um ritual específico, tanto inicial como final para a realização. O ambiente é cuidadosamente preparado por ela antes de cada oficina. “A primeira coisa que faço ao entrar na sala é marcar o centro, além de tentar me desligar da agitação de fora”, diz. Nesse local, há livros sobre os temas da oficina em círculo e, no meio, acende uma vela. A composição lembra uma mandala. É em torno dela que será organizada a roda dos participantes.

Estes seguem sempre os procedimentos descritos no início desta reportagem. São orientados também a fechar os olhos para sentir o corpo e a fazer três respirações profundas para se concentrar, antes de iniciar as atividades específicas de danças e histórias. Para selecionar o material usado com cada grupo, a psicóloga o observa e a sua necessidade. Explica preferir “contos com ensinamento subliminar e completude, ou seja, que fecham um pensamento”. A finalização de cada atividade da oficina segue a mesma trajetória da abertura, fechando o ciclo. “Acaba sendo uma coisa sagrada”, define a também psicóloga Lucélia Elizabeth Paiva, 48 anos. Para ela, a participação na atividade é uma maneira de a pessoa resgatar o seu centro, o seu eixo. “Nos leva à concentração, tanto que, quando a pessoa perde o foco na história, ocorre uma quebra do contexto”, afirma. Conta ter procurado a iniciativa para conhecer o trabalho de Tânia porque também atua com contos.  

Experiência diferente – O grupo do qual está participando, iniciado neste semestre, tem mulheres em sua maioria. Entre os 32 integrantes, só cinco são homens. “É assim em muitas coisas”, tenta explicar Regina Helena. Tânia relata que, desde o início, realmente há um número maior de integrantes do sexo feminino. Mas o pós-graduando em engenharia Valdinei Freire da Silva, de 29 anos, não se incomoda com isso. Mesmo tendo ido ao primeiro encontro com uma idéia totalmente diferente sobre o que seria, gostou e resolveu continuar. “Achei que era um curso. Como faço capoeira, me interessei em saber mais sobre a questão da interação das pessoas em roda”, conta.

“Porém, além de não ser um curso, e sim uma vivência, a roda também não tem a ver com a da capoeira, porque ninguém fica no meio”, explica. “Olhar nos olhos das pessoas e participar do momento que acontece aqui é uma coisa bem distante da nossa realidade numa cidade como São Paulo. Vir aqui me faz bem”, completa. Lucélia Elizabeth concorda: “É uma maneira de se viver coisas que a gente não tem mais no dia-a-dia. A troca com pessoas que não se conhece, gratuitamente”.

A educadora Jany Elizabeth Pereira, de 36 anos, exerce o lado lúdico em seu trabalho, no Museu do Brinquedo da Faculdade de Educação da USP. Informa que isso a fez querer ter contato com várias manifestações lúdicas, de linguagens diferentes. “Achei que a oficina era uma oportunidade”, afirma. Mas conta que descobriu ser mais: “Na verdade, não consegui analisar direito o que acontece aqui. Só sei que dançar de mãos dadas, em roda, ativa um lado muito interessante da gente. Permite a expressão de afeto e ajuda a diminuir a timidez na demonstração de sentimentos”, avalia. 

SERVIÇO

Novas vagas para o grupo de Danças Circulares e Contos só serão abertas no segundo semestre de 2008. Divulgação e mais informações no endereço: www.ip.usp.br/laboratorios/lep 

Simone de Marco

Da Agência Imprensa Oficial  



04/29/2008


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