Vestibular Unicamp: Ritual de brincadeira descontrai candidatos
Grupo de alunos gritam para extravasar a ansiedade pré-exame
E quem disse que o Vestibular Unicamp é somente para gente grande? O 'pequeno treineiro' Eduardo Ferreira, 16 anos, morador de Serra Negra, mostrou o contrário. Hoje, último dia da segunda fase, ele se agigantou ao protagonizar uma cena hilária no Ciclo Básico 2. Um grupo de alunos de Amparo realizava um ritual para ajudar obter uma boa performance nas provas de Matemática e Inglês. Brincadeira sem maiores proporções, o ritual envolvia gritos e uivos para extravasar a ansiedade pré-exame. Eduardo era o 'amuleto da sorte'. No meio da roda, ele dançava, abria o guarda-chuva e abençoava as pessoas. Nada egoísta, ele desejava sorte a todos.
Como vestibulando, particularmente, esta é a primeira experiência de Eduardo, para a qual não se acovarda. Ele disse que gostaria de conhecer as provas do Vestibular para se inteirar sobre o conteúdo para tentar ingressar na Unicamp no ano que vem. Escolheu o curso de Engenharia Mecânica. "Achei as provas muito fáceis e tenho certeza de que vou conseguir entrar aqui", disparou. A escolha do curso tem a ver com sua admiração pela vertente automobilística. Ao falar do tema, ele demonstra ter uma idéia muito bem-formada a respeito. "Também pretendo morar na Alemanha e lá fazer uma pós-graduação. Lá estão instaladas as melhores indústrias automobilísticas do mundo."
Os motivos que trouxeram Rodrigo Amâncio, 23 anos, para o Vestibular Unicamp foram bem outros. Ele já havia passado na Universidade no curso de Tecnologia em Construção Civil. Sua vontade era outra.
Neste 2008, está prestando Ciências Econômicas por uma razão muito simples para ele: pretende estudar em uma instituição cuja tradição acadêmica alinhe-se com as suas idéias. "Pendo para os pensadores de esquerda", abordou. Rodrigo achou as provas do Vestibular bem-pensadas e acredita que sua abordagem põe mesmo o candidato para pensar. De Amparo, deve mudar para Campinas e seguir carreira docente, depois de se formar.
Observando o ritual, Lídia Raizer, 17 anos, é outra 'treineira' a participar deste Vestibular. Quieta e compenetrada, ela está prestando Letras. Mais com o pé-no-chão, prefere esperar o resultado final. Adianta, porém, que se passar no Vestibular ficará muito triste. Ela ainda cursa o segundo colegial.
Por outro lado, entende que terá mais preparo para encarar o próximo Vestibular. Contou ainda que um curso de Cinema para ela não é descartado. Aprecia muito filmes alternativos, inclusive os brasileiros, e tem como diretor predileto Pedro Almodóvar.
Retomando o tempo perdido - Michele Cerchiaro, 28 anos, é de Campinas. Sua estória é desconsertante. Ela já estudou na Unicamp. Era convicta de sua escolha ter sido a mais apropriada. Aprovada no curso de Educação Física, cursou três anos da Graduação. Foi obrigada a parar por força de uma razão do cotidiano: a falta de recursos financeiros para se manter no Ensino Superior, ainda que estudando no Estado. Ao expirar a validade de sua bolsa-trabalho, não teve como continuar, apesar de não desistir de seu ideal.
"Reli temas de conhecimento geral, não somente do Ensino Médio. Agora, tenho condições de prosseguir com os estudos sem depender da bolsa. Vou pedir convalidação de algumas disciplinas e encarar outras. Planejo trabalhar em academia de ginástica, ministrando treinamentos", relatou. Michele elogiou o Vestibular Unicamp e disse que é um dos únicos que realmente avaliam o raciocínio lógico de seus controlar a ansiedade, fazendo as provas com tranqüilidade para as questões mais fáceis e com maior atenção para as mais complexas.
Campeão de Olimpíada - Felipe Rosa, 18 anos, é aluno do Objetivo Campinas. Vai tentar Engenharia da Computação, decisão que tomou no início do Ensino Médio. Tem uma certa experiência na área de computação pois, além de fazer cursos básicos, também trabalhou em Laboratório de Informática. Ganhou uma bolsa de estudos a partir de um concurso. Ele foi medalha de ouro da Olimpíada Paulista de Informática de 2002. Estava então na sexta série. Recebeu por isso ajuda de custo da Academia de Ciências por dois anos.
A lição que Felipe tirou desta situação factual, no entanto, é que não se deve ter excessiva confiança em provas que envolvem muitos cérebros. "Não podemos menosprezá-los. Em anos posteriores, também concorri em outras olimpíadas, sem sucesso. Portanto neste Vestibular, mesmo estando confiante, não vou me precipitar para declarar vitória antes que ela venha", sentenciou. A aluna de Medicina da Unicamp, Juliana Sanchez, 21 anos, parou para perguntar sobre o Vestibular e acabou por incentivar Felipe. "Boa sorte. Você está estudando e merece passar. Eu levei três anos para conseguir e consegui."
A poucos metros dali, um concorrente de Felipe, o Rafael Capretz, 18 anos, aguardava a ordem de entrada nas salas. Também quer fazer Engenharia da Computação, por influência de seu irmão, que estudou na Unesp. Pretende atuar na área de hardware e comentou que estudou muito. "Somente parei de estudar quando iniciou a segunda fase do Vestibular. Agora é confiar no meu trabalho de base", desabafou. Assim como com Felipe, ele também achou a prova de História a mais difícil. Hoje, depois das provas, ele volta para Rio Claro, onde reside. Se passar na Unicamp, muda-se para Campinas.
Um dos fenômenos extra-oficiais mais observados pela Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) nesta edição é que os filhos vêm para o campus sempre acompanhados pelos pais. Para Amanda Contieri, 17 anos, que participa de seu primeiro vestibular, a presença dos pais somente tem a colaborar com os filhos. Seu pai, Anderson, e seu irmão de cinco anos, Artur, vieram com ela, deixando Valinhos para trás.
"Vou ficar aqui esperando minha filha terminar as provas. Assim, me sentirei mais próximo dela", afirmou. Amanda retribui o carinho. "Ele me passa muita confiança neste momento tão importante que deve influenciar o resto de minha vida." Com ou sem ritual, nas provas os candidatos terão que demonstrar o que aprenderam.
Da Unicamp
01/17/2008
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