Bom Crioulo
(Adolfo Caminha)
Ainda num tempo em que a Abolição não fora proclamada, Amaro , aos dezoito anos, ingressa na Marinha. Não queria voltar à fazenda como escravo e embarcou na corveta, onde foi aceito como marinheiro. Sentia saudades do cafezal, dos amigos e de mãe Sabina. Os oficiais o estimavam pelo caráter bom e modos ingênuos, por isso é que recebeu o apelido de Bom-Crioulo. Ganhou fama , na Marinha, de negro forte, resoluto, puro músculos, embora de caráter ameno. E esteve pelo mundo afora, embarcado a serviço. Aos poucos, no entanto, durante uma viagem em que fora nomeado gajeiro ( encarregado) de proa, pôs-se em contato com a cachaça e ficava violento de tal forma que os demais o temiam. Foi nessa viagem que conheceu o grumete Aleixo. Passou a dar conselhos ao rapaz sobre a vida de marinheiro: que não se metesse em brigas. Aleixo não saía de sua cabeça. E, aproxima-se de Aleixo. Tornam-se amantes. Ao aportarem no Rio de Janeiro, Amaro vai procurar sua amiga Dona Carolina e ali encontra para ele e Aleixo um quartinho aconchegante... Estava feliz o Bom-Crioulo. Durante todo este tempo, levou uma vida absolutamente em ordem. Até os oficiais estranhavam a modificação nos modos dóceis do negro. Com Aleixo também a vida ia certa e boa, exceto os caprichos libertinos do outro. Dona Carolina dava-lhe carinhos, cuidando bem dele, admirando-lhe a aparência sempre limpa e perfumado. Com o navio atracado, podiam descer a terra sempre e estavam sempre no quartinho. Os três, Amaro, dona Carolina e Aleixo, passavam a formar uma família. Dona Carolina gracejava sobre o romance deles. Mas Bom-Crioulo começou, de repente, a emagrecer, a achar-se fraco e com dor no peito, esquisitamente sonolento após qualquer esforço. Seu afeto ao menino já não era lúbrico nem tão ardente: confiava que Aleixo jamais se entregaria a outro homem, afinal, há um ano estavam juntos. A corveta em que trabalhava, finalmente, saiu do dique. E Amaro foi nomeado para servir em outro lugar, um navio. Amaro não gosta da notícia: iria ter de separar-se do grumete. Mas se despediu do amante, deixando junto com ele a alma, uma parte de si mesmo. Dona Carolina chega ao quarto e ambos começam a conversar. Aleixo lhe diz do desgosto que anda sentindo em relação ao negro, aos abusos sexuais dele. Esta declaração acende as esperanças de Dona Carolina que há uns dias vinha já pensando nisso. Aqui está formado o triângulo amoroso que culminará na morte de Aleixo. Uns dias antes, o rapaz tinha visto a portuguesa em camisas ( roupas íntimas) pela porta entreaberta do quarto dela. E ao voltar do passeio daquela noite em que Amaro não viera para a terra, Aleixo foi surpreendido com a declaração de que dona Carolina queria tê-lo na cama, para si. Enquanto isso , o Bom-Crioulo não estava feliz no couraçado, que ele julgava ser uma prisão de aço. Estava infeliz longe de Aleixo, a quem amava e desejava e de quem sentia extrema falta. Amaro foge no escaler das compras e vai à pensão. Depois de esperar inutilmente por Amaro, sai, bebe, briga e tenta voltar ao escaler e é preso. E aceita os castigos da chibata, pensando em Aleixo. O rapaz, em dia de folga, vai ver dona Carolina, louco de desejo pela portuguesa. Acabam por brincar , ironizando Amaro e sua bestialidade. Toda a noite passaram como dois bichos , se amando. O que ambos não sabiam é que Amaro, depois de sofrer uma terrível surra de chibata, tivera que ser hospitalizado. Passava os dias tristemente a pensar em Aleixo, a recordar os dias felizes que estivera ao lado dele, a ver-lhe as formas e os olhos azuis, as carnes brancas. E então, pediu a um funcionário do hospital que escrevesse um bilhete ao rapaz, dizendo que estava ali há cerca de um mês, que viesse vê-lo. Magro e desesperado, pensou em fugir do hospital atrás do rapaz. Aleixo estava menos inquieto agora, certo de que Aleixo não o alcançaria e sequer o pegaria numa vingança. Amigara-se com dona Carolina, dormia com ela na cama larga e exigia que ela acabasse com seus casos com outros homens. O bilhete de Amaro tinha sido recebido em dia que Aleixo estava embarcado: dona Carolina o fizera aos pedaços. Mas conta do bilhete e dos receios. Para espairecer, foram ao passeio público tomar sorvete. No hospital, sem ter seu bilhete respondido, imaginando que tinha sido trocado por outro, Amaro definhava insone, desesperado . E numa noite de obsessão e desespero, fuge depois de ter recebido notícias de que Aleixo estava muito amigo dos oficiais e que estaria amigado com uma rapariga , em terra. Levou consigo uma navalha. Em meio à fuga, enquanto imaginava com quem estaria Aleixo, lembrou-se, de repente, de Dona Carolina. Mas concluiu que isso nem seria possível. Seguiu direto pra rua da Misericórdia. Foi à padaria perguntar por dona Carolina e por Aleixo, uma vez que o sobradinho permanecia fechado ; e soube pelo português que dona Carolina e o Aleixo saíam à noite, lavantavam-se tarde todos os dias. Foi quando viu Aleixo sair. Precipitou-se sobre ele, xingando-o, agarrando-lhe o braço de maneira desafiadora. Houve um tumulto, gritos. E quando dona Carolina chegou à janela do dobrado, viu o rapazinho ensangüentado. Enquanto Aleixo era levado nos braços por dois marinheiros, já morto à navalhadas, o Bom-Crioulo seguia rua abaixo, preso pelos guardas.
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