A hora da colheita









A hora da colheita
Jarbas inicia caminho à reeleição com imagem consolidada por investimento em marketing superior a R$ 88 milhões. Legislação eleitoral proíbe nova propaganda do Governo, mas Palácio conseguiu fixar slogans e símbolos da candidatura oficial

DA EQUIPE DO DIARIO
Depois de três anos e meio utilizando uma mídia considerada por especialistas como eficiente, o Governo do Estado está proibido de veicular novas mensagens institucionais. Conforme determina o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir deste sábado nenhum agente público cujo cargo esteja em disputa nas eleições poderá autorizar propagandas de atos, programas, obras e serviços. Candidato à reeleição, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) terá que mudar o perfil de sua publicidade. A propaganda partidária e institucional dará lugar à política e eleitoral. A proibição, entretanto, não provoca inquietação no staff do governador. Enquanto a legislação permitiu, o Estado se utilizou o quanto pôde das mensagens institucionais. Consolidou sua marca. Durante a gestão Jarbas Vasconcelos, já foram investidos R$ 67 milhões em propaganda via administração direta (as 17 secretarias) e pelo menos R$ 21 milhões para divulgar ações da Empetur, Detran e Compesa. Somente nos últimos seis meses, as duas esferas da administração investiram cerca de R$ 20 milhões em mídia.

"Eles foram extremamente inteligentes. Souberam divulgar o que está sendo feito e conseguiram resgatar símbolos como a bandeira e o hino do Estado", analisa a cientista política Christianne Alcântara, autora da tese "O Pai do Real na Mídia: Discurso Político e Legitimação". Naturalmente, quando começar a propaganda eleitoral em rádio e TV, sempre que a bandeira e o hino de Pernambuco forem reverenciados - o que não será proibido pela Justiça Eleitoral - a figura do candidato e governador Jarbas Vasconcelos virá automaticamente à mente das pessoas. É o que no jargão publicitário se chama de recall. Quanto à utilização do slogan "Pernambuco no rumo da mudança" e o gesto de um braço direito indicando um caminho, o juiz eleitoral em Pernambuco, Fernando Martins, diz que, em princípio, será proibido. "Mas ainda vamos analisar com mais calma", ressalva.

No decorrer do Governo Jarbas, além de inserções esporádicas e dos filmes da administração indireta, houve quatrograndes "prestações de contas" feitas na grande mídia. Nos três primeiros anos, os filmes e anúncios em rádio foram veiculados no final do ano. Cantores de expressão nacional como Dominguinhos, Lenine, Geraldo Azevedo e Alceu Valença ajudaram a consolidar a imagem de que Jarbas, além de "arrumar a casa" transformou Pernambuco num canteiro de obras.

Neste ano eleitoral - por conta da legislação - a prestação de contas em mídia foi antecipada em mais de seis meses. Em vez dos cantores, entrou em cena o ator Antônio Fagundes, maior estrela da Rede Globo. Segundo o diretor de Comunicação da Secretaria estadual de Imprensa, Fernando Veloso, toda a campanha com o artista global custou algo entre R$ 800 e R$ 900 mil. Os filmes ficaram no ar durante quinze dias. Foram três inserções diárias. Nos intervalos de todos os jogos da Seleção Brasileira houve a veiculação de pelo menos um dos quatro filmes gravados pelo ator.

Nas partidas do Brasil na Copa do Mundo, a Globo registrou a maior audiência da sua história. Estima-se que nove em cada dez TVs ligadas estavam sintonizadas no canal.


Coligações definem suas estratégias de campanha
A partir deste sábado está oficialmente autorizada a campanha de rua dos candidatos.

Embora livres de limitações legais impostas até a última sexta-feira pela Justiça Eleitoral, a expectativa é que o clima de eleição só deverá contagiar a população a partir de 20 de agosto, quando estarão liberadas as propagandas em rádio e TV. Até lá, partidos e candidatos, além de trocarem acusações, vão preparar suas agendas e definir estratégias e prioridades.

O candidato da Frente de Esquerda (PT/PCdoB/PCB/PST/PMN), Humberto Costa (PT), já definiu qual será o foco de sua campanha nos primeiros quinze dias. Vai participar da inaugurações dos comitês dos candidatos proporcionais da coligação e da implantação dos comitês setoriais do PT. Paralelamente a isso, a Frente fará caminhadas na Região Metropolitana do Recife (RMR) e visitas a cidades de pequeno e médio porte no Interior do Estado.

O lançamento oficial da candidatura de Humberto Costa aconteceu neste sábado, com uma passeata e um comício no Centro do Recife. O outro grande evento do mês será uma caminhada - também pelas ruas do Centro - no próximo dia 18, com a presença do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva.

Pelo menos por enquanto, a estratégia das caminhadas não será usada pelo candidato Ilo Jorge, da Frente Trabalhista (PDT e PTB). "O clima ainda é de Copa do Mundo e o tempo não ajuda. Caminhada e comício na chuva, ninguém vai", diz. Até ontem, sua equipe ainda definia os nomes que vão ocupar as coordenações temáticas de campanha.

De certo na campanha de Ilo Jorge já existe um comício no próximo dia 12 (referência ao número do candidato) em Camaragibe. "Vou fazer como Ciro Gomes e iniciar a campanha na minha cidade natal". Humberto Barradas, candidato ao Governo pela Frente das Oposições (PSB/PRTB/PTdoB/PRP) prepara viagens para o Interior do Estado e deverá, já na próxima semana, inaugurar seu comitê central, no Recife.

Material de propaganda, como adesivos, santinhos, camisetas e panfletos, só daqui a uma semana.

A estratégia da candidata Ana Lins (PSTU) será a de aproveitar todos as manifestações populares e sindicais. Na próxima quarta-feira, sua militância participa da paralisação que será realizada pelo Sindicato dos Professores da Rede Municipal. O grupo também vai fazer campanha política durante as eleições para o Sindicato dos Servidores das Universidades Federal e Rural. No próximo final de semana, Ana Lins marca posição em debates e discussões contrárias à Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

"Vamos vincular nossa campanha à nacional", diz.

A estratégia dos outros dois nanicos também é a de ocupar todos os espaços possíveis.

"Estaremos em feiras e nas fábricas fazendo corpo a corpo junto aos trabalhadores", adianta, empolgado, o professor de matemática Maurílio Silva, candidato do Partido da Causa Operária (PCO). No próximo dia 15, ele lança oficialmente sua campanha. Já o economista José Carlos Neves de Andrade, que vai disputar o Governo estadual pelo Partido Geral dos Trabalhadores (PGT), afirma que vai priorizar as visitas às usinas de açúcar da Zona da Mata e, claro, às fábricas. O início da campanha do PGT será na próxima terça-feira com uma manifestação no distrito industrial do Curado.


Candidatos usam a beleza para conquistar os votos
Mulheres e homens bonitos adotam estilo diferente na corrida para atrair eleitores

Mulheres bonitas, sorridentes e jovens. Homens simpáticos e igualmente belos. Gente que nega o estereótipo dos coronéis, que dominaram o poder durante décadas no Estado. O mundo da política já não é mais o mesmo. Casacudos se submetem a plásticas, lipoaspirações, pintam e implantam cabelos e se curvam à vaidade. Sapatos altos e estilosos, ternos ou gravatas de grife, como as italianas Armani ou as francesas Hermès, preferidas do ex-presidente Fernando Collor, também são objetos de consumo de muitos candidatos que estão prestes a enfrentar esta eleição.

Ana Carla Lapa, 25 anos, é um exemplo dessa nova geração. Filha mais velha do deputado estadual Carlos Lapa (ambos do PSB), Ana Carla tentará uma vaga da Assembléia Legislativa pela primeira vez. Vice-prefeita do município de Carpina (Mata Norte do Estado), o seu jeito meigo e aparentemente frágil destoa do estilo da maioria dos parlamentares e candidatos que disputarão uma das 49 cadeiras do Legislativo. Em questão de estilo, o dela é oposto ao do incorporado pelo seu pai, que espera chegar à Câmara dos Deputados. Carlos Lapa ficou conhecido pela agressividade com que ataca seus adversário, seja na tribuna da AL ou nos seus discursos nos palanques afora. "Temos princípios muito parecidos, mas o modo como fazemos política é diferente. A forma como ela age, eu reconheço, acaba atraindo as pessoas. Quando saímos juntos tem muita gente que pede para tirar foto dela e não de mim", resignou-se Carlos Lapa, ainda que orgulhoso.

A visita de Ana Carla ao plenário da Assembléia há duas semanas serviu como termômetro para se medir a influência da beleza de um candidato ou do seu comportamento diante de eleitores "potenciais". Os marmanjos se deram conta de que "a filha de Lapa" estava lá. Ela circulava diante de uma platéia majoritariamente masculina, que desconhecia a sua formação acadêmica (graduada em Direito) e a sua situação civil de solteira (ela é noiva) - o que poderia aumentar a cobiça. "Acho que as coisas mudaram muito. As mulheres não precisam mais vestir comohomem e falar como eles. Isso acabou. Falo as coisas que preciso, sem precisar ser agressiva", comentou Ana Carla.

Ana Carla Lapa aumenta a fileira das belas da política. Rita Camata, a vice da chapa presidencial do senador José Serra (PSDB), arremata dezenas de flashes por onde passa.

Típica capixaba (loira), jornalista, atuante, deputada federal no quarto mandato, independentemente da sua filiação partidária - ela é do PMDB - e das posturas adotadas por ela, sua imagem chama a atenção do eleitorado. Isso até os petistas admitem. A imagem forte no vídeo, destacada numa peça publicitária que ressaltava ainda sua condição de mulher, mãe frágil e política combatente, também serviu como trunfo para a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), quando candidata à Presidência.

Após suas aparições na TV, as pesquisas de intenções de votos a apontaram como segunda colocada, abaixo apenas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até que Roseana desistiu de concorrer, após uma avalanche de denúncias que comprometeram asua imagem.


Bilhetes das eleitoras mais atrevidas
Políticos mais "bem-aparentados" fisicamente tentam evitar o assédio e os ciúmes das esposas

A pompa e os títulos dos poderosos atraem, mas não é só isso. O vice-governador Mendonça Filho (PFL); os deputados Augusto Coutinho (PFL); André Campos(PTB); Eduardo Campos (PSB); e o pré-candidato e ex-secretário de Educação e Cultura do Estado, Raul Henry, sabem bem. Nos palanques, enquanto falam, os mais "bem-aparentados" são alvos dos olhos vidrados de muitas espectadoras. Alguns já receberam bilhetes amorosos, uns atrevidos, e posaram para fotos que, posteriormente, foram coladas na porta de um guarda-roupa. Eles evitam falar em primeira pessoa, mas sempre há quem conte um causo para ratificar a importância da beleza diante de uma daquelas eleitoras, ou eleitor, que pouco se importa com as ideologias partidárias.

Não é difícil ouvir o burburinho de mulheres na chegada de Eduardo Campos - e de seus olhos azuis - a um desses municípios do Interior, assim como não é estranho vê-las correndo para acompanhá-lo, ainda que seja para ficar do lado por um minuto. "Aí ele trata logo de dizer que é casado, quandoobserva que está passando dos limites", disse um dos seus assessores. "Mas ficam admirando e acho que ganha votos por isso", confidenciou a mesma fonte.

Já o ex-radialista e deputado estadual José Queiroz (PDT) fala com naturalidade sobre os comentários que provoca quando abre a boca. Por causa do seu vozeirão, por exemplo, vários funcionários da Assembléia Legislativa aumentam o som para ouvi-lo quando ele resolve discursar na tribuna. Augusto Coutinho também é vítima das eleitoras. Seus assessores contam que, por mais de uma vez, o gabinete recebeu telefonemas de mulheres tentando demonstrar intimidade - chamando-o por Guga, Guguinha - ou que presenciaram o recorte de fotos dele publicadas nos jornais. "Cuido do meu corpo mas não só por uma questão de estética. Acho que pela saúde", pontuou.

O deputado Lula Cabral (PMDB) refuta o título de "vaidoso". Garante que seu único hábito é praticar exercícios, mas segundo os companheiros do Legislativo, Lula possui não só um professor para orientá-lo numa ginástica personalizada, como um estilista individual, com a função de indicar-lhe as melhores combinações de paletós, gravatas e sapatos.

incômodo - Cabral não o único que nega essa característica. O deputado estadual Sebastião Rufino (PFL), o coronel Rufino, diz que não se incomoda, mas disfarça ao falar no assunto: ele fez um implante de cabelos há poucos meses e passou por uma cirurgia plástica (nas pálpebras), mas faz questão de afirmar que "foi apenas uma correção recomendada pelo médico". "Não me acho vaidoso. Me cuido porque sou de origem militar. Me acostumei", justificou-se.

Já Carlos Lapa tem uma coleção de gravatas e sapatos, assim como o deputado Pedro Eurico (PSDB). Ambos preferem esconder o "jogo" e mudam de assunto quando questionados sobre quantas estão nos seus armários. A vaidade de Lapa foi além: ele também fez lipoaspirações - de acordo com informações dos "colegas" -, e plástica no rosto. Sem falar no zelo com a manutenção da cor do cabelo. (S.B)


Juízes por correspondência
Magistrados do Recife são indicados para zonas eleitorais do Interior e recebem R$ 2,6 mil, mas poucas vezes vão lá. Funcionários das zonas eleitorais enviam documentos de cidades como Trindade, a mais de 600 Km, para serem assinados na capital

Que tal acrescentar R$ 2,6 mil ao seu salário? E se essa gratificação fosse para trabalhar só um dia a cada duas ou três semanas? Melhor ainda: se você nem precisasse ir ao local combinado, apenas recebesse pelo correio os documentos para despachar? Mas não adianta se animar, pois essa oportunidade é para poucos pernambucanos. Mais precisamente, é apenas para alguns juízes eleitorais que respondem por zonas do Interior do Estado e que despacham efetivamente em varas e juizados da Justiça Comum, na Região Metropolitana do Recife.

Os juízes eleitorais são escolhidos dentre o universo de magistrados do Estado (cerca de 350). A escolha é feita pelo pleno do Tribunal Regional Eleitoral. Ao todo, temos cerca de 140 juízes eleitorais em Pernambuco, responsáveis pelas 146 zonas de votação.

Todos recebem a referida gratificação de R$ 2,6 mil, que se soma a salários que variam entre R$ 9,2 mil e R$ 11,4 mil - já incluído o aumento de 20% recebido pelos magistrados no mês passado.

SUBSTITUIÇÃO - Desses juízes eleitorais, um grupo seleto de 10 pertence a comarcas da Região Metropolitana do Recife e responde por zonas localizadas a até 660 quilômetros de distância (ver quadro abaixo). Alguns mantêm uma regularidade nas visitas, outros, não.

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Antônio Camarotti, reconhece o problema. Camarotti diz que ele próprio chegou a substituir um juiz que nunca comparecia à zona de sua responsabilidade. "Determinei que a diretoria geral do Tribunal fiscalizasse os casos. Estou propenso a substituir todos os juízes que atuam em comarcas distantes, para resolver de vez a questão", promete.

Camarotti admite que há disputa entre os magistrados para obter uma vaga de juiz eleitoral. "A gratificação é bem atraente. Um juiz de 2ª entrância, por exemplo, passa a ganhar mais que um desembargador quando assume uma zona eleitoral", destaca.

ASSOCIAÇÃO - Acontece, porém, que o caso é alvo de denúncias há tempo. No ano passado, a ex-diretoria da Associação dos Magistrados de Pernambuco (Amepe)chegou a publicar um manifesto. "A designação de juízes eleitorais foi utilizada como moeda de troca nas eleições da Amepe", ataca o ex-presidente da entidade, Mozart Valadares.

Ele cita o caso do município de Moreilândia, no qual o juiz Robinson José de Albuquerque Lima teria tido o privilégio de ser substituído pelo irmão Agenor Ferreira de Lima Filho, quando saiu de férias, em agosto último. "Isto é uma afronta direta ao que manda o Tribunal Superior Eleitoral", reclama. De fato, a resolução número 21.009, do TSE, determina que "nas faltas, férias ou impedimentos do titular, a jurisdição eleitoral será exercida pelo substituto, de acordo com a tabela do Judiciário estadual".

A reportagem do DIARIO tentou localizar os juízes citados na reportagem. Eles não foram encontrados nem em suas respectivas varas ou juizados nem nos cartórios eleitorais pelos quais são responsáveis, já que o Judiciário estadual se encontra em recesso. O TRE e o Tribunal de Justiça também não consentiram em repassar os telefones pessoais dos magistrados para que a reportagem efetuasse o contato.


As contradições do candidato tucano
Senador esquece o que escreveu em 1989, na 1ª eleição direta após mais de 20 anos de ditadura

A crise não muda. As opiniões, sim. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, jogou no colo dos adversários a responsabilidade pelo nervosismo do mercado financeiro e pela disparada do dólar. Mas Serra, que acusa o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de incoerência por ter mudado de opinião em relação a alguns temas de economia, também mudou.

Em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 10 de outubro de 1989, o hoje candidato à sucessão de Fer nando Henrique Cardoso fez questão de separar a campanha eleitoral e o crescimento das candidaturas de esquerda da então crise econômica.

No texto A Progressão da crise, Serra dizia que as explicações sobre o agravamento do quadro econômico eram equivocadas e desencontradas. Naquela época, o termômetro da crise era, como hoje, a disparada do dólar. Naquele ano, Lula perdeu as eleições para Fernando Collor de Mello. Treze anos depois, Serra critica os candidatos da oposição por sugerirem a reestruturação da dívida externa, discurso que alteraria o humor do mercado e aumentaria a crise.

"Todas as vezes que se fala em sentar à mesa para reestruturar a dívida, isso é calote", repete. Serra elogiou a decisão do Banco Central de vender US$ 100 milhões diariamente para conter a alta do dólar.

Segundo ele, os vencimentos dos títulos da dívida (emitidos pelo Governo) são distantes o suficiente para permitir honrar os compromissos.

NO LIMITE - O único candidato a falar colocar o endividamente nesses termos foi o presidenciável da Frente Trabalhista, Ciro Gomes. Ele ta mbém defendeu claramente a reestruturação da dívida pública. Segundo o candidato, a dívida ultrapassou os limites do manejável e tornou a reestruturação imperativa.

Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ficou a um passo de endossar a proposta de Ciro Gomes. O petista garantiu que irá honrar os compromissos do atual Governo, mas afirmou que a dívida pública passou dos limites aceitáveis. Lula tem sido chamado de incoerente por integrantes do PSDB que dizem que ele mudou radicalmente de posição em relação a assuntos econômicos. Mas esse não é privilégio de Lula.

Segundo economistas, Serra está com a razão ao apontar um exagero nos números usados por Ciro. Em valores absolutos a dívida pública cresceu, sim, onze vezes. Mas incluem compromissos de governos anteriores e também a inflação acumulada do período. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas, a dívida "apenas" dobrou.

Serra também acerta ao atribuir parte das agruras brasileiras aos problemas da economia norte-americana, segundo os analistas. Grandes empresas dos Estados Unidos deram o calote em seus acionistas e fornecedores e provocaram o pânico nos investidores. A queda nas bolsas reduziu o patrimônio dos grandes aplicadores. As empresas tiveram sua margem de manobra reduzida e fogem de negócios arriscados. O investimento em mercados emergentes como o do Brasil são sempre menos garantidos do que a aplicação em e conomias desenvolvidas como a dos EUA.

O candidato do governo escorrega, porém, ao comemorar os resultados do comércio exterior. É verdade que as exportações superaram as importações no acumulado dos últimos seis meses, em US$ 2,6 bilhões. Mas o desempenho não está ligado a um crescimento das vendas brasileiras, e sim a uma queda nas importações. Um comportamento preocupante porque a desvalorização do real barateou os produtos nacionais sem, entretanto, aumentar de forma significativa as vendas externas.


Artigos

Bom-dia, Recife
Ronildo Maia Leite

Conheço algumas São João. Morava em Garanhuns, faz tempo, inda era menino, e perto lá de casa tinha uma onde tio Dedé criava boi e vaca e plantava café, na época em que os cafezais pernambucanos conquistavam prêmios internacionais de qualidade. Depois, já crescidinho, desemboquei em São João da Várzea, no tempo em que as terras dos Brennand eram só um engenho, hoje cidade-arte com engenho e arte inventada por Francisco - grande Brennand esse Chico a botar xoxotinhas de acrílico em calcinhas de barro.

Maior fui ficando, sentei praça em jornal, caminhei mundo afora. Quase cinqüenta anos de crônica e reportagem, caminhei outras São João, entre elas São João Nepomuceno, São Paulo, uma das cinco melhores do Brasil em qualidade de vida. São João d'Aliança, Goiás, ganhou esse nome por causa de que, nos anos 30, acoitou os revolucionários da Aliança Liberal na Chapada dos Veadeiros, parede-meia com a Vila de São João da Capetinga. São João Batista da Glória é tipicamente mineira, onde, nuinho da silva, tomei banhode cachoeira. São João do Polêsine eram montanhas e vales de Manoel Py. População de maioria italiana, religiosa que só, come o que produz, arroz que só a peste. Paragem do Rio São João virou Paragem de São João Acima por causa de que o português Manoel Pinto Moreira foi lá e tomou conta de tudo. São João del-Rei fica no interior de Minas, todo mundo sabe. Andei no Maria Fumaça, um trenzinho histórico a deslizar em trilhos de ferro faz mais de 100 anos.

Andei mais e soube: o primeiro cidadão a chegar em São João do Rio Preto foi logo apontando as terras conquistadas, matas virgens onde os índios conviviam em paz com as aves e os bichos. A propósito, via Internet conheci outro dia um quadro-denúncia, não me lembro de quem, antecipando o que depois aconteceria com mais intensidade: João Bernardino de Seixas Ribeiro derrubando uma árvore "só para ver o tombo".

Tem ainda outra história e que é a seguinte: livres da perseguição dos bandeirante, os jesuítas retornaram ao Rio Grande do Sul, fundando os chamadosSete Povos, entre eles São João Batista.

Falar em João, entre os 2.740 santos beatificados até 1977 o mais jovem é Domingos Sávio, aluno de São João Bosco e morto aos 15 anos, tadinho. Outro João Batista, o de La Salle, está no Missal Romano como um dos 180 grandes santos universais. La Salle é aquele da frase bíblica "Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso."

No fundo, no fundo só não conheci a ilha de Patmos, onde o apóstolo João se exilou para escrever o Apocalipse. Dele as sete revelações, inclusive as três que segredou à Virgem de Fátima. Lasqueira de segredo, escutem esse, camaradas:

"Vai minha filha e prega ao mundo as coisas que vão acontecer entre os anos de 1950-2000. O demônio reina no Mundo e põe-vos a odiar um aos outros. Estão a fazer armas capazes de destruir o Mundo em poucos minutos. (...) O mal permanecerá entre os homens e o demônio lançará a semente da discórdia entre eles.

Muitos perderão a fé. A metade da Humanidade será destruída e dias difíceis virãopara a Igreja: farão guerra à Roma e às Ordens Religiosas vão ficar umas contra as outras. Deus irá deixar que os elementos materiais, tais como carvão, fumo, água, saraiva, fogo, chuva, mau tempo, invernos muito frios e tremores de terras, pouco a pouco destruam a vida no Mundo. Milhões destes morrerão dentro de poucos segundos. Os que sobreviverem desejarão estar também mortos com eles."

Ele previu isso tudo pro ano 2000. O que está acontecendo tudo mundo sabe. Está em todos os jornais do Mundo e é assunto constante no noticiário da tevê. Disse mais o Santo sábio:

"(...) Um homem de alta posição será assassinado, isso dará asas à guerra e à revolução. Será chamado um exército poderoso que marchará pela Europa adentro, e a guerra atômica começará e destruirá tudo. Grandes nuvens após a explosão irão matar tudo. Haverá escuridão na terra durante 72 horas. Numa noite fria, dez minutos antes da meia-noite, um grande terremoto estremecerá a terra por oito horas. Um terço da Humanidade que irá escapar às 72horas de escuridão irá viver numa nova era, serão gente boa."

Sabem do mais, vou embora para São João de Garanhuns. Lá, sou amigo do santo, gente boa quem nem tio Dedé, camaradas.


Colunistas

DIARIO POLÍTICO - Vandeck Santiago

O fator Carlos Wilson
Do ponto de vista do pragmatismo eleitoral, o senador Carlos Wilson (PTB) adotou uma estratégia que, pelo menos em 1994, quando disputou pela primeira vez o Senado, deu certo. Ninguém espere dele ataques diretos contra os concorrentes (supostamente mais fortes) Marco Maciel (PFL) e Sérgio Guerra (PSDB). Não fará isso. É quase improvável, também, que assuma posição ofensiva contra o governador Jarbas Vasconcelos. O próprio Wilson lembra que, quando partiu para os ataques (nas eleições municipais de 2000, em que seu alvo foi Roberto Magalhães), não teve um bom desempenho eleitoral. Sua estratégia visa - sem ataques e mostrando o que já fez em sua trajetória política - credenciá-lo como "o segundo candidato ao Senado" de todos os eleitores. Em 1994 Wilson estava no PSDB e disputou a eleição no palanque do candidato a governador Gustavo Krause, do PFL. O outro nome da aliança na disputa pelo Senado era Maurílio Ferreira Lima (PMDB) - cujo discurso (feito sempre em tom exaltado) era uma artilharia só contra o palanque adversário, de Miguel Arraes. Wilson sempre discursava após Maurílio - pegava uma platéia com os ouvidos repletos de bordoadas verbais e, falando manso como um seminarista, fazia um discurso completamente diferente, sem o menor sinal de crítica. Nessa pisada, acabou elegendo-se como o primeiro mais votado (Maurílio foi o quarto). Hoje ele já conseguiu a adesão do PT à sua candidatura e está agora com a mira voltada para o PSB. Habilidoso, e sabedor que a eleição para o Senado por enquanto está cheia de variáveis e incógnitas, Carlos Wilson trabalha para entrar na disputa com chances reais de vitória.

O presidente estadual do PFL, André de Paula, defende "um permanente exercício de maturidade" dentro da aliança, para não deixar que "as questões municipais se sobreponham às nacionais"

Arroz integral
Em campanha todo político deve ter cuidado com o que come, principalmente se o que lhe oferecem é maionese. Mas o ex-presidente do Cremepe e da Cooperativa dos Cardiologistas, Roberto Tenório, candidato a deputado estadual pelo PT, e com atuação lá pras bandas de Arcoverde, radicalizou.

Arroz integral II
O homem não come carne, passa longe de prato que tenha gordura, de doce não gosta nem do cheiro e não toma refrigerante nem como remédio. Tem mais: faz meditação diariamente e gosta de dormir cedo. Se vai ter votos para se eleger, só Deus sabe, mas que vai chegar às eleições com uma saúde de ferro, ah, isso vai.

Sem zoada, por favor
Um lembrete para o pessoal que organiza comícios, liberados desde ontem pela justiça eleitoral: eles não podem passar da meia-noite. E os alto-falantes - aquela jeringonça que, se houvesse concurso para a invenção mais chata do mundo, teria grandes chances de ficar em primeiro lugar - têm que ficar a pelo menos 200 metros de escolas, hospitais, casas de saúde, igrejas e teatros.

Eu creio em duendes
Para o ministro Paulo Jobim (Trabalho), que esteve sexta-feira no Recife, "não há catástrofe que tire de Fernando Henrique o crédito de ter sido o presidente que mais criou empregos no País".

Majoritário
Futuro presidente da CNI, o deputado federal peemedebista Armando Monteiro Neto deve ser reeleito com uma das três maiores votações do Estado, segundo projeções de partidos da situação e da oposição. Cogitado como um dos nomes fortes para as próximas disputas majoritárias no Estado, uma boa votação pode deixá-lo ainda mais fortalecido.

Tremei, capitalistas
Se vocês pensavam que o PSTU era radical, preparem-se. Está vindo aí o PCO (Partido da Causa Operária), de orientação trotskista. Terá candidato a presidente e a governador em vários Estados, inclusive Pernambuco. O slogan deles: "Quem bate cartão, não vota em patrão".

Lembrança dos camaradas
O primeiro prefeito comunista da América Latina será relembrado hoje. Chamava-se Manoel Rodrigues Calheiros, foi prefeito de Jaboatão (na década de 30) e se vivo fosse estaria completando 100 anos neste domingo. A lembrança acontece durante lançamento de livro de poesias da filha dele, Marília Calheiros Guerra, a partir das 17h, no restaurante Kwetú (na Praça do Jacaré, em Olinda).

Dobradinha geográfica
Na disputa pelo mesmo cargo (deputado federal), Miguel Arraes e o neto, Eduardo Campos, do PSB, já traçaram o caminho das pedras para chegar a Brasília. A campanha do primeiro dará prioridade ao interior. O segundo centra fogo na Região Metropolitana do Recife.


Editorial

A ARMADILHA

As possibilidades de ação da política do ministro da Fazenda, Pedro Malan, esgotaram-se. O País exibe uma vulnerabilidade que contrasta com a retórica apresentada pelo ministro. A realidade econômica foi mais forte do que o seu discurso e a sua atuação. Depois de mais de sete anos de uma gestão que parecia ter êxito, o ministro da Fazenda não consegue conter a sangria de divisas do Tesouro nacional para estancar a desvalorização do real frente ao dólar.

Na verdade, o ministro Pedro Malan parece ter armado uma armadilha para si próprio, porque fixou diretriz caracterizadamente monotemática. Ele praticou uma política defensiva que buscou exclusivamente a estabilidade a qualquer preço. Para isso, executou uma linha de aperto monetário com juros elevados e superávits fiscais.

Tudo bem. A responsabilidade fiscal, com superávits primários além dos 3% e 4% do PIB, constituem hoje um bem coletivo. Mas o ministro deixou de considerar um aspecto importante na formulação do Governo: ser ofensivo na execução de umprograma firme de apoio à exportação, estrategicamente defendido pelos especialistas do Itamaraty, baseado prioritariamente em financiamento de bancos oficiais e reconhecido pelo setor privado como escolha política unindo esforços público e particular. Foi isso que fizeram coreanos, japoneses, malaios. E agora chineses.

Para usar imagem do esporte no qual acabamos de triunfar, o ministro da Fazenda cuidou só e unicamente da defesa. Ou seja, do binômio da política monetária e fiscal para garantir a estabilidade. Esqueceu do meio-campo que distribui os recursos para cumprir as metas de conquista do jogo. E não viabilizou o ataque que, no final de contas, é quem decide a partida. Isto é, não promoveu o suporte estratégico que asseguraria o ingresso adicional de dólares na receita cambial brasileira por meio do incremento das expor tações.

A via da exportação é o caminho único que resta ao Governo brasileiro para reduzir a vulnerabilidade a que está exposto o País. Porque é por intermédio da produção voltada àexportação que se consegue gerar níveis de investimento que concretizam receitas suplementares em divisas cambiais capazes de financiar o pagamento das obrigações da dívida externa. Esse é o modelo de países mais desenvolvidos. A Bélgica, por exemplo, apresenta um sexto do PIB brasileiro e exporta mercadorias e serviços em volume semelhante ao nosso.

O ministro da Fazenda se permitiu uma política defensiva que enfraqueceu o setor externo do Brasil. E deixou de fortalecer a exportação como opção viável de política econômica para gerar recursos que, a essa altura, seriam oportunamente utilizados para diminuir a percepção do risco-país por parte do mercado. Por isso, ele precisa correr mundo para explicar e defender a posição brasileira com a perícia que lhe é reconhecida. Teria sido mais fácil e produtivo ter formulado um programa ofensivo, construindo recursos cambiais por meio da exportação, caminho percorrido pelos países que atualmente não sofrem as pressões externas que atingem a economia nacional.


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07/07/2002


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