ABDIAS DEFENDE POLÍTICAS QUE BENEFICIEM O NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO
Ao pregar igualdade de oportunidades e de tratamento entre negros e brancos no mercado de trabalho, o senador Abdias Nascimento (PDT-RJ) defendeu hoje (28) a adoção de políticas públicas para compensar os afro-brasileiros pelos efeitos acumulados da discriminação de que são vítimas.
Como exemplo do engajamento do setor sindical na luta contra a exclusão do homem negro no trabalho, ele citou o artigo União contra o Racismo, de autoria do sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, publicado dia 13 de maio no jornal Folha de S. Paulo. Segundo Abdias, a posição de Vicentinho abre espaço para aqueles que combatem a discriminação e o racismo.
O senador afirmou que o "processo de alijamento e exclusão sofrido pelos afro-brasileiros tem tido, ao longo do tempo, a função perversa de constituir um exército de reserva de mão-de-obra barata, à disposição de um empresariado ávido de lucros e totalmente divorciado de sua responsabilidade social".
Para ele , a questão fundiária, as favelas, os meninos de rua e a violência urbana, somados à exclusão do afro-brasileiro no mercado de trabalho produtivo, são as causas dos graves problemas que afligem a sociedade brasileira, acrescentando que todos eles estão relacionados ao racismo e à discriminação racial.
Abdias Nascimento informou que no mercado de trabalho os afro-brasileiros ganham, em média, 50% dos salários pagos aos brancos e que, de acordo com as estatísticas, é maior o percentual de afro-brasileiros no setor informal da economia, onde não existe a proteção oferecida pela legislação trabalhista.
- A cidade de Salvador - considerada uma espécie de África no Brasil - é, dentre as capitais brasileiras, aquela em que é maior a diferença de salários entre negros e brancos. Mas em toda parte são as mulheres negras as mais prejudicadas pela discriminação, acumulando os prejuízos de raça e de gênero - alertou o senador. Ele assegurou que o Brasil foi recentemente denunciado pela Organização Internacional do Trabalho por estar descumprindo a Convenção 111, que trata da discriminação de emprego e profissão.
Segundo Abdias Nascimento, um dos legados mais terríveis da abolição da escravatura no Brasil "foi confinar a população afro-brasileira aos estratos inferiores da força de trabalho, quando não excluí-la, pura e simplesmente". Passada a breve euforia da libertação, explicou o senador, os antigos escravos acordaram para a dura realidade de um mercado de trabalho em que o único patrimônio de que dispunham - a força de seus braços - estava agora longe de ser valioso.
28/05/1998
Agência Senado
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