ABDIAS: NÃO É FREQÜENTE O SURGIMENTO DE UM GÊNIO DESSA GRANDEZA
"Axé, João da Cruz e Sousa!", saudou hoje (19) o senador Abdias Nascimento (PDT-RJ), na homenagem que o Senado prestou por ocasião do centenário da morte do poeta catarinense. Antes de traçar um perfil biográfico de Cruz e Sousa, o senador disse que não é freqüente o surgimento de um gênio dessa grandeza na história de um povo.
Abdias mencionou o difícil período de paz interna e relativa liberdade enfrentado pelo Brasil na época do nascimento do poeta (1861), apontando como contradição da época as difíceis relações entre o Estado e a Igreja. Ele destacou que o catolicismo era religião oficial, enquanto os não-católicos eram segregados como cidadãos de segunda-classe, impedidos de professar livremente suas crenças.
"Era um impasse que a sociedade imperial jamais conseguiria resolver", afirmou o senador, para concluir que contradição maior no início da década de 1860 era a representada por uma sociedade que se pretendia liberal, mas abrigava ao mesmo tempo a escravidão.
Em sua opinião, nesse contexto não parecia muito promissor o destino de um menino nascido escravo na vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Ele disse que Cruz e Sousa tornou-se um paladino da abolição e vítima da hostilidade branca que o impeliu a deixar sua terra natal e migrar para o Rio de Janeiro.
O senador afirmou que, dois anos depois do nascimento do simbolismo, o poeta lançou os livros Missal e Broquéis, que marcariam a concretização desse movimento literário no Brasil. "O simbolismo de Cruz e Sousa é, além de atitude estética, uma necessidade superior de atingir as verdades essenciais", observou ainda Abdias Nascimento.
O parlamentar lembrou que o prêmio Cruz e Sousa de Monografia, criado por iniciativa do próprio Abdias e de Esperidião Amin (PPB-SC), está previsto para ser entregue no mês de junho. "Espera-se com isso reverenciar a memória desse grande escritor", disse Abdias.
19/03/1998
Agência Senado
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