Adequação do modelo agrícola brasileiro à segurança alimentar divide debatedores
Entre o desafio de aumentar a produção agrícola do Brasil e a necessidade de preservação do meio ambiente, as opiniões se dividiram no debate "Alimento: como produzir para atender as necessidades", promovido nesta quinta-feira (2) pela Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas.
Silvio Porto, diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), alertou para o aumento da insegurança alimentar no mundo, argumentando que a demanda por alimentos aumentou e a subnutrição "passa novamente a ser uma das grandes preocupações". No caso brasileiro, Porto acredita que se deva repensar a matriz energética, que leva a irracionalidade da produção e do consumo. Ele pediu mais verbas para a Embrapa desenvolver e manter projetos para a agricultura familiar.
- Milhões de hectares com duas ou três variedades idênticas não é um modelo que dialogue com a questão ambiental - disse o diretor da Conab.
Werner Fuchs, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), defendeu a agricultura ecológica e ressaltou a necessidade da autossustentabilidade, não somente nacional, mas também em nível de produção e consumo locais. Segundo Fuchs, as grandes corporações quebram as cadeias de produção, o que onera desnecessariamente o transporte de produtos.
Por sua vez, André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), apesar de ser contra uma agricultura "extrativista" e o desmatamento, denunciou a "visão maniqueísta" contra o agronegócio, que considera um caminho errado que vem ganhando força na burocracia brasileira. Além disso, mostrou-se cético quanto à ação do Estado para garantir a segurança alimentar e quanto à eficácia do uso de estoques reguladores para combater a volatilidade dos preços.
- O modelo [da agricultura no Brasil] não está falido. O modelo está melhorando. É claro que há problemas, mas o modelo é bom - declarou.
O diplomata Milton Rondó Filho, coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do Itamaraty, declarou que o problema da fome não é de produção, mas da garantia de acesso do alimento a 1 bilhão de pessoas. Rondó celebrou a mudança de paradigma do Brasil, que hoje estaria priorizando o mercado interno, depois de 500 anos de um modelo exportador.
- É fundamental que o Congresso discuta a questão da democracia da terra. Com esse aumento de produtividade, como nós justificamos que a gente ainda trabalhe com a produtividade dos anos 70 para a desapropriação de terras no Brasil? - indagou.
O debate na subcomissão, que funciona na Comissão de Relações Exteriores (CRE), faz parte de preparação para o encontro de chefes de Estado a ser realizado em 2012, durante a conferência Rio+20, no Rio de Janeiro.
02/06/2011
Agência Senado
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