Aécio censura atitude de serristas







Aécio censura atitude de serristas
O presidente da Câmara, o tucano mineiro Aécio Neves, bateu duro ontem no grupo do presidenciável José Serra, que cobra mais apoio do PSDB e uma ação agressiva em relação à governadora Roseana Sarney (PFL-MA).
"Não podemos partir, antes do lançamento da candidatura [Serra", para uma política de agressão a aliados. Política é conta de somar, não de subtrair", diz.
Aécio, que nega pretender ser o "plano B" tucano para disputar o Planalto caso o ministro da Saúde não decole, afirma que os serristas devem entender que não há candidatura natural no PSDB: "O Fernando Henrique [Cardoso" era candidato natural. O Mário Covas também. O Serra e o Tasso, não. Logo, é preciso construir a candidatura atraindo aliados e não os afastando".

Em telefonema anteontem a Roseana, Aécio fez questão de dizer que desaprova os ataques a ela. Os dois ficaram de se reunir pessoalmente nos próximos dias.
O presidente da Câmara deseja manter um bom diálogo com a governadora porque não afasta "a construção da unidade entre PSDB, PFL e PMDB" para disputar o Planalto. "Não vamos nos atrapalhar com precipitações."
O gesto de Aécio, no dia em que o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) lançou-se candidato pelo PMDB com ataques ao PFL, teve o objetivo de deixar claro que ele não apoiará o recurso a "laranjas" para atacar Roseana. A candidatura Jungmann foi vista pela cúpula do PMDB e por Aécio como um lance estimulado pelo entorno de Serra -o grupo mais próximo do ministro e que tem criticado Roseana. Expoentes desse grupo: o prefeito de Vitória, Luiz Paulo Veloso Lucas, e o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA).

Para Aécio, a crise do PSDB é fruto de "afobação" e de "exagero enorme". Como exemplo, citou o fato de tucanos já darem como certo que o governador Tasso Jereissati (CE) ficará contra Serra.
Segundo ele, "é um erro considerar que o Tasso já esteja na conta do débito e que não vá dar apoio ao candidato do partido".
O deputado diz que o primeiro governo Tasso no Ceará, entre 1986 e 1990, "deu visibilidade ao PSDB no seu começo" (o partido nasceu em 1988). "Para ganhar a eleição, o PSDB vai precisar do Tasso porque não se faz política quebrando o retrovisor", declara ele, que transmitiria sua avaliação a FHC em jantar ontem.
Aécio diz considerar "um avanço que o PSDB só tenha um pré-candidato". Para ele, o partidários de Serra deveriam comemorar isso e agir "com mais calma para costurar a unidade no partido". Serra deve ser lançado candidato na pré-convenção do PSDB de 24 de fevereiro.


PSDB força o candidato Serra a conquistar o apoio de Tasso
Pressionado pelo Planalto e pelo PSDB, o ministro José Serra (Saúde) tomará a iniciativa de procurar o governador do Ceará, Tasso Jereissati, a fim de tentar uma recomposição que permita aos tucanos chegar unidos à eleição presidencial de outubro.
Independentemente do sucesso da iniciativa, que ele próprio considera difícil, Serra será lançado pré-candidato tucano à Presidência República na próxima semana, em reunião inicialmente prevista para a quarta-feira, 16.

A decisão foi tomada ontem em almoço de Serra com integrantes da Executiva do PSDB, realizado no apartamento do deputado Márcio Fortes (RJ), secretário-executivo da sigla.
A proposta para que Serra procurasse Tasso partiu do presidente da legenda, José Aníbal (SP), e do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações). Ambos eram partidários da candidatura do governador cearense.
"Não tenho dúvida nenhuma de que o Tasso se engajará [na campanha de Serra"", afirmou José Aníbal, na reunião.

Engajamento total
Para não transformar as divergências com Tasso na "questão central" da discussão, os serristas saíram com uma fórmula intermediária: o ministro procuraria "engajar todo o partido" na sua candidatura, "para que ninguém diga depois que não ficou porque não foi procurado", disse um participante do almoço.
Pura retórica. Independentemente da fórmula, o fato é que o PSDB deixou nas mãos de Serra a solução do impasse com Tasso. O presidente Fernando Henrique Cardoso também defendeu, em conversa com tucanos, que Serra é quem deve aparar pessoalmente as arestas com Tasso.

Para não agravar ainda mais a situação, Serra evita comentar o contencioso com o governador cearense, mas é certo que não conta mais com o engajamento de Tasso em sua campanha. No QG serrista, dá-se como certo que Tasso apoiará a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL).
Ainda assim, após alguma hesitação, Serra se dispôs a telefonar para Tasso, o que ainda não havia feito até o início da noite de ontem. A interlocutores, o ministro manifesta surpresa com o afastamento de Tasso, progressivo desde que o governador Mário Covas, morto ano passado, demonstrou preferência pela candidatura do governador.

"Mágoa"
Paralelamente, outros tucanos tentam apaziguar as relações entre Serra e Tasso. Ontem mesmo José Aníbal seguiu para Fortaleza para encontrar Tasso. Ao deixar Brasília, pretendia inclusive dizer ao governador que Covas não gostaria nada de ver a atual divisão do partido. "A mágoa e a amargura não movem ninguém, pelo menos no sentido de construir", disse Aníbal, depois da reunião com Serra, ao ser questionado se Tasso continuava magoado pelo fato de o Planalto ter favorecido Serra.

Amanhã, é a vez de o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), também jantar com Tasso no Palácio do Cambeba (sede do governo cearense). "O Tasso terá papel vital no processo interno do PSDB na sucessão", afirma Aécio. "Ele de forma alguma pode desempenhar um papel secundário."
Na reunião de ontem, ficou também definido que José Aníbal e Márcio Fortes acertarão diretamente com Serra os detalhes e a data para o lançamento da pré-candidatura. Serra ainda não decidiu quando deixa o ministério, mas está sendo aconselhado a antecipar sua saída para antes da convenção no fim de fevereiro.


Governador diz que mantém a pré-candidatura
O presidente do PSDB, José Aníbal, antecipou sua ida a Fortaleza, inicialmente prevista para o fim de semana, e foi ontem mesmo encontrar com o governador Tasso Jereissati.
Na noite de ontem, Aníbal foi surpreendido por Tasso que, ao seu lado, declarou que ainda é pré-candidato à Presidência pelo partido. "Se ele for candidato, vai participar da prévia", disse o presidente tucano.
Momentos antes, sem a presença do governador, Aníbal havia reafirmado à imprensa que o único pré-candidato tucano hoje é o ministro José Serra.

Aníbal chegou na tarde de ontem à Fortaleza, sem anunciar, para tentar amenizar a insatisfação de Tasso com a cúpula do partido. Para ele, Tasso "com certeza" poderia se engajar na campanha de Serra.
Tasso afirmou que, quando o PSDB decidir seu candidato, irá aceitar a decisão majoritária do partido.
"É a hora e o espaço de o ministro José Serra, para ele crescer. Vamos esperar que ele cresça. Eu sou partidário", disse Tasso.

O descontentamento do governador foi agravado pela pecha de "coronel moderno" que o presidente Fernando Henrique Cardoso estaria usando em conversas privadas para se referir a ele.
Segundo o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), um de seus interlocutores mais próximos, Tasso considerou "fraco" o desmentido do presidente, que afirmou, tão logo foram publicadas as conversas, que não teria dito nada daquilo.


PFL admite divisão de aliados na sucessão
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), admitiu ontem que a fragmentação da base governista para a eleição presidencial de outubro é um cenário concreto. Apesar disso, disse ainda acreditar na possibilidade de reeditar a aliança que sustenta Fernando Henrique Cardoso.
"É evidente que há a possibilidade de a b ase governista não sair com candidato único, mas é o meu desejo manter os partidos unidos", declarou o pefelista, após participar de reunião no escritório do publicitário Mauro Salles, em São Paulo.

Do encontro, em que se discutiu a campanha de Roseana Sarney ao Planalto, também participaram o prefeito do Rio, Cesar Maia, o presidente do PFL-SP, Claudio Lembo, o publicitário Nizan Guanaes e o sociólogo Antônio Lavareda, entre outros.
Bornhausen afirmou que, "para manter a aliança, é preciso conversar". Ele disse nutrir esperanças ainda de reunir PFL, PSDB, PMDB, PPB e PTB -este último apóia Ciro Gomes (PPS), mas tem sofrido assédio de governistas.

Nos próximos meses, de acordo com o pefelista, cada partido buscará viabilizar seus pré-candidatos. Está definido que em maio os líderes partidários, analisando as pesquisas de opinião, farão uma última tentativa de fechar a união.
"Se ficar demonstrado que um candidato de outro partido tem condições melhores que as de nossa candidata, o PFL pode apoiá-lo. Sou um racional. Política se faz com racionalidade. Mas, até o momento, não há dúvida de que a nossa pré-candidata apresenta as melhores condições."
Dentro da estratégia de manter o diálogo com os outros partidos governistas, Bornhausen almoça hoje em São Paulo com os presidente do PMDB, Michel Temer, e do PSDB, José Aníbal, em mais um dos encontros periódicos acertados entre os líderes.

O almoço, segundo o senador, não serve para aparar arestas surgidas nos últimos dias. Entre elas, a tentativa do PSDB, com aval de FHC, de retirar Nizan Guanaes do PFL e o lançamento, supostamente articulado pelo Planalto, da candidatura de Raul Jungmann como linha auxiliar dos tucanos.
"Estamos conversando sem agressões, sem disputa, sem querer um ser melhor que o outro", disse. Segundo Bornhausen, Nizan continuará com o PFL. "Não tenho conhecimento sobre este episódio [assédio dos tucanos]."

Silvio Santos
Bornhausen disse ainda que, pelas informações de que dispõe, o empresário Silvio Santos teria pedido desfiliação do partido.
As informações sobre a permanência do empresário e apresentador de televisão nos quadros do PFL são desencontradas desde domingo, quando o Datafolha apontou que Santos aparece com 15% ou 16% das intenções de voto como candidato a presidente.
O senador lembrou que, na tentativa de ser candidato em 1989, Santos trocou o PFL pelo PMB. Mas se esqueceu de que o empresário voltou ao partido em março de 1992 para tentar ser candidato a prefeito de São Paulo. No domingo passado, o próprio Bornhausen afirmara que o empresário ainda integrava o PFL.

Consultada pela Folha anteontem, a assessoria jurídica do PFL nacional informou que dispõe da ficha de filiação de Silvio Santos datada de março de 1992. Não havia sido informada de desfiliação, mas sugeriu que a zona eleitoral do empresário em São Paulo fosse ouvida. Os dados do cadastro de eleitores são sigilosos, mas a Folha apurou que, no cadastro de eleitor de Santos, ele não aparece como filiado a partido político.
O empresário está fora do país. Sua assessoria não soube responder se ele permanece filiado. Um dos seus executivos disse que, até onde foi informado, Santos não havia deixado o PFL.


Partido usa Jungmann contra Serra
O PFL pretende usar o factóide da pré-candidatura de Raul Jungmann ao Planalto pelo PMDB para criar um outro factóide, contra José Serra, ministro da Saúde e presidenciável tucano.
O discurso dos pefelistas será o de que o lançamento de Jungmann, ministro do Desenvolvimento Agrário, mostraria que o presidente Fernando Henrique Cardoso não crê mais na chance de Serra e, por isso, estaria recorrendo a outro auxiliar próximo a ele para tentar emplacar um candidato na eleição de 6 de outubro.
Isso não é verdade. FHC prefere Serra, vai continuar tentando viabilizar o tucano nos bastidores e não apóia Jungmann. O presidente, porém, não se suicidará politicamente se Serra não demonstrar chance concreta de ganhar a eleição, como descreve à perfeição a "teoria Giannotti".

Em entrevista à Folha, o filósofo José Arthur Giannotti, amigo de FHC desde a juventude, afirmou que o presidente "não vai se suicidar em nome de lealdades que não sejam políticas". Ou seja, se Serra não decolar, FHC poderá abandoná-lo.
O PFL sabe que o presidente, ainda que não pretenda se matar pelo ministro da Saúde, está tentando ajudá-lo. No entanto, os pefelistas acreditam que pode colar entre a opinião pública menos politizada o discurso de que um ministro entrou na disputa porque o outro não estaria indo bem.
Na avaliação do partido, que lançou a governadora Roseana Sarney (MA) na corrida pelo Palácio do Planalto, os políticos e os formadores de opinião já perceberam que Jungmann, que se lançou atacando a pefelista, estaria prestando serviço ao PSDB.

A direção do PMDB, por exemplo, reprovou duramente os ataques do ministro do Desenvolvimento Agrário à pefelista e considerou natimorta sua pré-candidatura. O PFL, assim como os dirigentes peemedebistas, também crêem que Jungmann é um "laranja" de Serra. Os ministros da Saúde e do Desenvolvimento Agrário negam ter um jogo casado para prejudicar Roseana.
A dura reação da cúpula do PMDB contra Jungmann teve o objetivo de reprovar uma eventual combinação a favor de Serra. O presidente da legenda, Michel Temer, diz que "o PMDB não é um partido de aluguel".
Enquanto tenta usar o "factóide Jungmann" contra Serra, o PFL se empenhará para se aproximar mais do PMDB.

O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, tem almoço marcado hoje em São Paulo com os colegas que dirigem o PSDB e o PMDB -respectivamente, os deputados federais paulistas José Aníbal e Michel Temer.
Bornhausen não dá um centavo pela postulação do ministro do Desenvolvimento Agrário: "Quando o Jungmann vencer a prévia do PMDB, comentarei a sua candidatura". O presidente do PFL sabe que é remota a possibilidade de vitória de Jungmann na prévia peemedebista, marcada para 17 de março.
A direção do PMDB não quer que o governador Itamar Franco (MG) seja o candidato do partido nem acredita na viabilidade do outro presidenciável peemedebista, o senador Pedro Simon (RS).
Se for mantido o quadro no qual Roseana ganha de Serra nas pesquisas por larga vantagem, a tendência do partido será fechar com a pefelista na eleição presidencial.


Ministro afirma que não recua
Em seu primeiro dia de "campanha" a candidato do PMDB à Presidência, o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) afirmou que não recuaria de uma disputa direta com o ministro José Serra (Saúde).
Jungmann passou o dia tentando reverter o "compreensível mal estar do partido" e pretende anunciar seu conselho de campanha na próxima semana.

O ministro negou novamente que sua iniciativa tenha sido uma articulação "maquiavélica" do Palácio do Planalto e disse que a má repercussão de seu anúncio desrespeitou sua história política.
"Vou disputar com o Serra, se o partido escolher a candidatura única. E faço um apelo ao senador Pedro Simon e ao governador Itamar Franco disputarem as prévias do partido comigo", disse.
Apesar de insistir que desistiria em nome de um peemedebista capaz de barrar eventual liderança do PFL na aliança, Jungmann disse já estar preparando as diretrizes do seu plano de governo.

Afastamento
O ministro acertou seu afastamento do cargo hoje em conversa com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pede licença em 17 de fevereiro, após completar projetos de confisco de terras griladas, do seguro-safra e de instalação de agências de crédito rural.
"O rechaço do PMDB a gente muda com o tempo", afirmou o pré-candidato, que admite apenas ter errado no "método", mas não na "tese". Segundo ele, o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, concordou com essa afirmativa.
Jungmann, que pensa em ab rir diálogo com outros partidos -PPS, PTB, PL e PSB-, já arrisca palpites para os concorrentes. Para o ministro, o PT faria bem se tentasse garantir uma ampla aliança desde já, aproximando-se, inclusive, do PMDB. "Eu chamaria o PT para governar conosco."


Itamar desiste de pedir prévias
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, disse ontem que não fará mais campanha pela prévia do PMDB, que escolherá o candidato do partido à Presidência da República. Demonstrando desânimo, Itamar disse, no entanto, que continua inscrito até 17 de março, data da eventual escolha.
"Não vou fazer campanha. Posso dizer que não vou mais percorrer o Brasil", afirmou, sem dar os motivos da desistência. Quando questionado, respondeu: "Porque tenho outras coisas para fazer".
O governador pode disputar a prévia contra o senador Pedro Simon (RS) e o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário). "Estou inscrito e estarei no dia em que as prévias forem realizadas. Vou aguardar o resultado tranquilamente aqui [no palácio], na minha casa ou onde for."
Sobre a inscrição de Jungmann e o efeito que ela teve na cúpula nacional do PMDB, Itamar disse que não vê "novidade alguma" e ironizou: "Quando tiver mais de 20 [inscritos para a prévia], voltamos a conversar".
Sobre as chances de Jungmann, Itamar disse: "Todos têm chances, não vê a atleta Maria Zeferina [vencedora da corrida de São Silvestre". É preciso ter garra".


Artigos

Lá e cá
CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Entrevista coletiva dos candidatos presidenciais em 1994 para a sucessão de Itamar Franco. Uma rede de TV conseguiu juntar quase todos. O ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso começava a aparecer como favorito e explicava aos demais o Plano Real, que a equipe do seu ministério havia implantado meses antes.
Acusava-se o plano de ser eleitoreiro, feito para eleger a ele e ao grupo que gravitava em torno dele. Paridade com o dólar, duas moedas por tempo determinado, congelamento de salários, diminuição nos investimentos básicos -tudo parecia formar um gigantesco cabo eleitoral para consagrar o candidato do governo.

Ao se defender da acusação, o ex-ministro negou que o plano tivesse tão mesquinho propósito. Era um plano de salvação nacional -e que vinha de longe. Esse ""que vinha de longe" queria dizer que a equipe econômica passara noites e noites insones, estudando com afinco e seriedade as alternativas e as contingências.
Nisso, um outro candidato, que já não tinha muitas chances de ser eleito, aparteou: ""Sim, o plano veio de longe. Veio da Argentina!".

Todos riram, inclusive o ex-ministro da Fazenda, que reconheceu a ""boutade" do rival. A mídia destacou o bom humor provocado com aquele aparte, que era afinal verdadeiro e estava dando certo, tanto na Argentina como no Brasil.
Deu certo nos primeiros quatro anos de FHC, que o manteve até ser reeleito para um segundo período. Logo em seguida, as coisas desandaram, e aí começaram a dizer que o Brasil era diferente da Argentina, que os problemas de lá não eram os mesmos, que tínhamos reservas e calorias para evitar o desastre da moeda.
Continuam dizendo isso. Não entendo nada de economia para desmentir os deslumbrados com a realidade brasileira. Alguma coisa me diz que os milagres duram algum tempo, uns mais, outros menos, mas um dia acabam.


Colunistas

PAINEL

Cabo-de-guerra
A cúpula tucana tenta convencer Tasso Jereissati a comparecer ao ato de lançamento da candidatura de José Serra à Presidência, na próxima semana. Seria uma demonstração pública de união do partido. Mas o governador está irredutível e já avisou que não deixará o Ceará.

Oposição interna
Tasso deixou claro aos tucanos que não considera o ministro a melhor opção governista para a sucessão de FHC. Para ele, o PSDB não pode fechar as portas para Roseana, "a única com chances de derrotar Lula".

Linha cruzada
Um aliado de Tasso Jereissati diz que Serra perderá seu tempo se telefonar hoje para o governador, como previsto. "Duvido que ele atenda. Vai mandar dizer que está na esquina e deixará o Serra esperando na linha", aposta um tassista.

Pagar para ver
O marqueteiro Nizan Guanaes afirmou ontem à cúpula do PFL que ficará na campanha de Roseana Sarney, apesar da pressão do Planalto. "O PSDB quer tirar o Nizan da gente, mas o que o Serra precisa para decolar, na verdade, é tirar os eleitores da Roseana", ironiza um pefelista.

Imagem é tudo
A cúpula do PFL decidiu ontem, em reunião realizada em SP, continuar destacando apenas a imagem de Roseana Sarney nos próximos programas de TV do partido. As propostas políticas e "de conteúdo" ficam para o futuro. Segundo ironizam tucanos, a governadora do Maranhão ainda nem as formulou.

Campanha estruturada
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), que se diz pré-candidato do PMDB à Presidência, poderá a partir de hoje contratar pelo menos cinco pessoas em cada cidade brasileira para estruturar o Banco da Terra. A resolução foi publicada ontem no "Diário Oficial".

Plano B
O PMDB de São Paulo marcou para daqui a uma semana um ato público para receber Pedro Simon (RS), pré-candidato do partido à Presidência. Quércia está cada vez mais desconfiado da intenção de Itamar Franco de disputar a sucessão de FHC.

Mineiro mudo
Itamar (MG) ficou de ligar logo após o Natal para aliados peemedebistas de outros Estados a fim de tratar das prévias do PMDB para a Presidência. Até agora, o telefone não tocou.

Especialista em negócios
Dois meses após as denúncias de caixa dois na campanha de Cassio Taniguchi, o PFL saiu em defesa do prefeito de Curitiba. Espalhou outdoors na cidade com a seguinte mensagem: "Curitiba: a melhor cidade para se fazer negócios, segundo a revista Exame. Obrigado, Cassio".

Pé no barro
FHC disse a interlocutor ontem que Serra deve sair a campo, dentro e fora do partido, "articular, articular e articular", para tentar fazer sua candidatura decolar. "Tem certas coisas que um presidente não pode fazer. São específicas do candidato."

Palavra de honra
O PTB de SP comprometeu-se com Geraldo Alckmin a apoiá-lo na sucessão paulista. Mas a cúpula nacional do partido, no entanto, diz que não é bem assim. Na surdina, mantém contatos até com Paulo Maluf (PPB).

Visitas à Folha
Cesar Maia (PFL), prefeito do Rio de Janeiro, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado do deputado federal Gilberto Kassab (SP), secretário nacional do PFL, e de Agata Messina, secretária especial de Comunicação Social da Prefeitura do Rio.


TIROTEIO

De João Pedro Stedile (MST), sobre a pré-candidatura de Raul Jungmann (PMDB):
- Uma de suas primeiras declarações como candidato será a de que vencerá as prévias do PMDB com 110% dos votos dos delegados, da mesma forma que costuma mentir com relação à reforma agrária.

CONTRAPONTO

Jogo duro
Em 1983, o recém-eleito deputado Dante de Oliveira (MT) procurou o senador conservador Saldanha Derzi (MS), pecuarista e apoiador do regime militar, para que ele subscrevesse a emenda das "Diretas-Já".
- Eu vim aqui pedir sua ajuda para levar uma emenda à votação - começou Dante.
- Tudo bem, meu filho. Do que se trata essa emenda? - perguntou Derzi.
- Ela restabelece as eleições diretas no país.
O senador deu um pulo:
- O quê? Eleições diretas? Você quer acabar comigo, guri?
A conversa durou mais uma hora. E o senador não cedia.
Quase sem argumentos, Dante acabou lembrando que era filho do "doutor Paraná", ex-deputado e antigo colega do senador. Derzi refletiu e disse:
- Eu gosto do doutor Paraná. Vou assinar. Mas é só em homenagem ao seu pai, viu?


Editorial

O PESO CAI NA REAL

Mark Twain dizia que a falta de dinheiro é a raiz de todo o mal. No caso da Argentina, no entanto, o fim do peso conversível ao dólar faz o país "cair na realidade".
O ajuste será duríssimo, mas ter a oportunidade de negociar a distribuição de custos é bem melhor do que sacrificar toda a população por uma política que garantiu a uma elite a sensação de que tudo vai bem.
Essas elites e o setor financeiro foram beneficiados pela conversibilidade. Cair na real significa, agora, dar atenção aos impactos sociais e políticos do ajuste fiscal.
Muito didática é a explicação dada pelo presidente da Comissão de Orçamento e Fazenda da Câmara de Deputados, Jorge Matzkin. Ao comentar o corte de gastos no orçamento deste ano da ordem de R$ 8 bilhões, ele disse que, na falta de recursos, "será preciso viver exclusivamente com o que se arrecada". É a retórica convencional e se afina com os ouvidos do FMI e dos credores.

Entretanto Matzkin acrescenta que o corte de gastos mais significativo é com os juros da dívida. É a moratória dessa dívida que abre o espaço para a renegociação interna.
Resta saber o que ocorrerá a outros "cortes", feitos numa hora desesperada pelo governo De la Rúa, como a redução de 13% em aposentadorias. Será seguida a máxima "Wall Street quer sangue", que teria sido usada pelo ministro Pedro Parente, segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros?

O aspecto extraordinário do caso argentino é colocar essas questões distributivas no centro das decisões mais importantes da política econômica. Em outros países, sob crises menos agudas ou durante os períodos de bonança, as elites e os tecnocratas costumam ir bem longe para manter seus modelos econômicos.
A sangria de todo um sistema produtivo pela acumulação financeira é um mal e sair dele só pode ser um bem. Quantos estarão bem, no entanto, será ainda objeto da mais encarniçada das negociações. Espera-se que sem sangue.


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01/10/2002


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