Aécio Neves recorda influência de Covas e Tancredo




Em sessão dedicada a reverenciar o 10º aniversário de morte do governador Mário Covas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) lembrou nesta terça-feira (29) que, quando governava Minas Gerais, mantinha na biblioteca do Palácio das Mangabeiras uma foto em que Mário Covas e ele se abraçam. Aécio assinalou que a foto ocupava o mesmo espaço destinado a lembranças de familiares.

- Eu posso dizer que Covas frequentou todos esses anos minha intimidade, no meu dia a dia, bem ao lado de uma foto do meu avô Tancredo, como inspiração permanente, não apenas a um modesto governador, mas ao homem público e cada uma das suas convicções. Em muitos momentos aflitivos no processo de governança em Minas, recorri a eles. Eu imaginava muitas vezes o que fariam se tivessem pela frente problemas grandiosos como os que enfrentamos, especialmente nos primeiros anos de mandato - afirmou.

Aécio Neves disse que nunca se frustrou ao buscar naquelas fotos, "algumas já amareladas pelo tempo", e na história viva de cada um, respostas seguras para as decisões difíceis que precisava tomar. Ele assinalou que o exemplo de Covas continua a influenciar a formação de novos políticos e de novos administradores públicos em todo o país.

- Covas nos ensinou, com a sua trajetória, que governar é exercer a autoridade sem autoritarismo, com base na legitimidade conferida pelo voto popular, com a credibilidade dos que conhecem o valor da palavra pública e o sagrado compromisso que ela envolve. Ele confiava no país e em nossa capacidade de decisão - salientou.

O senador disse que Covas foi um dos mais importantes artífices do processo social-democrata no Brasil, do projeto de governo e de partido, de onde partiu junto com outros para a construção da história do PSDB. Aécio disse que Covas se incomodava, entre os integrantes históricos do PMDB, com as contradições de militar em uma frente tão ampla, heterogênea e muitas vezes contraditória.

- Lembro-me bem do seu entusiasmo com o novo partido no turbilhão dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, chão fértil, onde foram plantadas as primeiras sementes e os primeiros valores do PSDB. Um partido tem que ter posição, dizia Covas, não pode ser condescendente com a corrupção; tem que ter propostas e responsabilidade ao fazê-las ou corre o risco de pregar ao vento, no vazio - recordou o senador.

Aécio Neves lembrou também que Mário Covas sonhava com um partido que refletisse na sua postura a indignação da população cansada da corrupção e da incompetência do governo federal. Ele disse que a presença de Covas sempre foi estimuladora, quando não crítica, dos passos coletivos e da direção que o PSDB seguia. "Sou um subversivo dentro do meu partido", dizia o governador paulista, conforme Aécio.

Aécio ressaltou a crença de Covas no debate das ideias e no contraditório como exercício para buscar as melhores soluções para os problemas e os impasses. Ele lembrou que, como político, Covas participou de todas as mais importantes articulações do Brasil contemporâneo.

O senador mencionou a rejeição, pelo Congresso Nacional, em 1968, da licença para que o então deputado Márcio Moreira Alves fosse processado, que resultou na adoção, pelo regime militar, do Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso e cassou mandatos, lembrando que Covas foi um dos parlamentares cassados - no dia 16 de janeiro de 1969.

Após uma década com os direitos políticos suspensos, Covas retornou à cena política, lutou pela redemocratização plena e se candidatou à Presidência da República em 1989.

- Não foi eleito, mas fez uma campanha memorável, clara, aberta, limpa entusiasmada, densa em questionamentos, rica em propostas inovadoras e corajosas - afirmou, acrescentando que as propostas assinadas por Covas naquele tempo são ainda atuais, em sua grande maioria.

Aécio Neves disse que dá tribuna do Senado Mário Covas posicionou-se nos instantes iniciais de sua candidatura pregando o enfrentamento dos problemas estruturais que aprisionavam o Brasil no subdesenvolvimento.

O senador disse que, para Covas, os potenciais do Brasil real eram contraditórios com a imobilidade e o desânimo que o cercavam. Covas assinalava que o país tinha um dos maiores parque industriais do mundo; uma infraestrutura considerável; tecnologia de ponta; uma agricultura em rápida expansão e terras abundantes; grandes reservas minerais; uma força de trabalho imensa e competente; um empresariado dinâmico e ousado; que o país era forte, mas vinha sendo agredido duplamente.

De um lado, dizia Covas, conforme lembrou Aécio, por crescente degradação da infraestrutura causada pelo esgotamento da capacidade de investimento do Estado e, de outro, pela escalada da inflação, que desorganiza a economia, concentra sempre mais a renda, premia a especulação, deprime salários reais e a receita pública.

- Nada mais atual, e ainda alertava: no mundo contemporâneo, que avança por grandes saltos tecnológicos e organizacionais, cada década representa um século a ser ganho ou a ser perdido. Na sua visão, estava nas mãos dessa geração promover esse salto. Ou faremos logo, alertava ele, ou retrocederemos irremediavelmente - afirmou o senador.



29/03/2011

Agência Senado


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