Aluno de escola estadual ganha Olimpíada de Matemática pela 3ª vez



Evento teve participação de escolas federais, estaduais e municipais de todo o País

Quase um patinho feio. Enquanto a maioria dos estudantes brasileiros sente calafrios só de pensar em Matemática e tira notas baixas, Gerson Tavares Câmara de Souza, 17 anos, resolve questões de álgebra, equações simples e compostas, trigonometria e frações com facilidade. Ganhador de medalha de ouro em todas as três edições da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), ele vai à escola até nas vésperas de feriado, presta atenção às aulas e faz as lições de casa concentrado, tarefas que muitos resistem em cumprir. Enquanto os outros adolescentes jogam futebol ou passam horas navegando na Internet e com videogames, o garoto está em casa lendo, ouvindo música ou visitando amigos e familiares.

Na conquista da medalha de 2007, Gerson concorreu com 17 milhões de alunos de mais de 98% dos municípios brasileiros. Por ter raciocínio lógico e  conseguir resolver cálculos, pode-se pensar que tenha dificuldade de se expressar. Longe disso. O menino sabe articular bem as palavras e se faz entender rapidamente. Suas notas nas demais disciplinas também são boas. Mas com seus colegas de classe, da Escola Estadual Professor Santos Amaro da Cruz (zona leste), não conversa muito por “falta de afinidade”. Diz que “entra mudo e sai calado”. Só depois da conquista da primeira medalha e com a divulgação de seu feito no quadro de avisos foi que alguns colegas começaram a falar com ele e a pedir ajuda.

Muitos passaram a “olhar estranho” quando circulava pelos corredores da escola. Lembra de uma menina fixar o olhar na foto dele no jornal e depois em seu rosto para ter certeza de que era ele mesmo. Diz que fez amizade mesmo foi com os colegas do curso de iniciação científica oferecido pela Obmep aos ganhadores da olimpíada. “Lá todos gostam de números, são esforçados e não desistem no primeiro obstáculo”. É com esses amigos que prefere passar o tempo livre e com quem se comunica pelo Orkut, já que há garotos do Brasil inteiro.

Portas abertas – Modesto, o vencedor não se considera um gênio em Matemática e diz não ter nada de excepcional.  “Todos têm capacidade”. Afirma que sempre teve facilidade com números e persiste até encontrar a solução de um problema. Não passa horas debruçado nos livros. Procura ficar concentrado durante as aulas e quando faz as lições. Desde 2005, concilia as aulas do colégio com as da iniciação científica. No ano passado, começou a trabalhar como estagiário de uma empresa indicada pelo Senai, onde foi o melhor aluno de aprendizagem industrial. Continua os estudos do curso de ensino médio (à noite) e os de iniciação científica (aos sábados). Conta que seu chefe o apresenta aos clientes como o “funcionário tricampeão”.

Embora seus pais tenham cursado somente até a 4ª série do ensino fundamental porque tiveram de trabalhar para ajudar no sustento da família, sempre foram “bem exigentes” e estimularam os filhos a estudar para ser “alguém na vida”. Caçula da família, Gerson também recebeu apoio da irmã mais velha que estuda na Universidade de São Paulo (USP). Foi a mãe quem ficou sabendo da olimpíada e estimulou o filho a participar já que os professores sempre falavam que ele era bom aluno, esforçado, inteligente e entendia de cálculos. 

Graças às medalhas conquistadas, Gerson viajou para Recife, em 2006, e para o Rio de Janeiro, no ano passado, para receber o prêmio. Em 2007, além da medalha ganhou um celular, em cerimônia realizada no Memorial da América Latina. Mais que os prêmios e as viagens, está feliz pela família: “Todos ficaram orgulhosos e muita coisa mudou na minha vida, inclusive várias portas se abriram. Agora dou mais valor ao meu conhecimento e sei que posso buscar algo melhor para o meu futuro”.

Vestibular X bolsa de estudo

O próximo passo do vencedor Gerson Tavares Câmera de Souza é conquistar uma vaga em Matemática, na USP, ou em Engenharia Elétrica na PUC ou no Mackenzie. O garoto já se prepara para o vestibular e estuda para o Pró-Uni para conseguir uma bolsa de estudo. Além de Gerson, mais 402 alunos da rede estadual paulista conquistaram medalhas na última edição (26 de ouro, 71 de prata e 304 de bronze). Voltada para alunos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e médio, a olimpíada tem a participação de escolas públicas federais, estaduais e municipais de todo o País. O evento é promovido pelo governo federal em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada e com a Sociedade Brasileira de Matemática.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



06/12/2008


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