Alunos da zona leste fazem visita ao mundo desconhecido de um museu



Na visita ao museu Lasar Segall, estudantes têm a oportunidade de conhecer vida e obra do pintor lituano

Embora ansiosos e eufóricos, os 33 alunos de 4ª série da Escola Estadual Reverendo José Borges dos Santos Júnior chegam ao Museu Lasar Segall em silêncio, observando tudo e com papel e caneta na mão. Moradores de Limoeiro, periferia da zona leste da capital onde está localizada a escola, a maioria nunca colocou os pés num museu. Gabriela Pereira Parré, 11 anos, trouxe caderno para “registrar tudo e celular para tirar foto. É a primeira vez que venho a um museu. Antes, só fui duas vezes ao cinema”. A garotada também não tinha nem ouvido falar do artista plástico lituano, naturalizado brasileiro em 1927.

Mal entrou no museu, Fernando Daiko Fraga, 10 anos, anotou informações sobre o pintor, desenhista, gravador e escultor. “Nasceu em 21 de julho de 1891, na comunidade judaica de Vilna, capital da Lituânia, sob o domínio da Rússia czarista; morreu por problemas cardíacos dia 2 de agosto de 1957 na casa dele”, escreveu o garoto. Antes do tão esperado dia, a garotada (entre 10 e 11 anos) recebeu preparação para a visita. O primeiro contato ocorreu com a exibição de um vídeo sobre a vida e a obra do pintor.

Depois, a professora da classe, Adriana Mendes dos Santos, esclareceu as dúvidas e respondeu a algumas perguntas. A maioria ficou impressionada com os quadros, o navio e desenhos mostrados no DVD. Os alunos queriam saber onde ele nasceu, quando morreu, por que quis ser pintor, onde estudou, conta Adriana. “Queriam até saber se podiam mexer na máquina de escrever”. Outros estavam curiosos para saber sobre os pincéis, tintas e o ateliê.

Conhecer mais – De frente para a escultura Três jovens, Beatriz Machado Mendes,10 anos, admira a obra e diz: “Nunca tinha visto uma escultura”. Anota o nome e escreve que foi feita em bronze. Depois, fala que está curiosa para ver o ateliê. A garota terá de esperar um pouco porque é o último local a ser visto na visita, que é acompanhada por quatro monitores do museu. A professora também explica como eles deveriam se comportar no local. As principais orientações: ficar em silêncio, não colocar o dedo nos desenhos e quadros, não fazer bagunça e prestar atenção às explicações do monitor.

O professor de artes da escola, Marcos Vicentini Tamberlini, faz breve relato sobre a trajetória de Segall e pede para as crianças desenharem um esboço seu a partir de um retrato. Orienta os alunos a apreciar as obras. A diretora da escola, Maria Celina Franchetti, diz que “é uma oportunidade para eles conhecerem outros lugares porque nem sempre os pais podem levar. Com certeza, trata-se de uma experiência que não vão esquecer mais”.

Giani Maria Moraes diz ter incentivado o filho a ir ao passeio, mesmo ficando preocupada. “Devia haver mais passeios para ele conhecer mais”, comenta.  Sobre o museu e o pintor lembra que “vi na televisão que roubaram um quadro dele da Pinacoteca”. Tento visitado somente o Museu do Ipiranga quando era estudante, Tatiane Silva Araújo também aprovou a idéia “porque não posso levar o meu filho a esses lugares”. Segundo as mães, os filhos desconheciam o pintor, nunca tinha ido a museus e ficaram entusiasmados com o passeio.


Navio de emigrantes – A escolha do lugar é baseada no conteúdo pedagógico e foi definida pela equipe do programa Cultura é Currículo, da Secretaria Estadual da Educação, que possibilita aos estudantes conhecer instituições culturais. No roteiro de visita há 26 instituições parceiras para atender aos estudantes de ensino fundamental e médio. Ao todo, um milhão de alunos da capital visitará museus, parques, monumentos históricos e centros culturais. As visitações começaram este mês (setembro) com as escolas da zona leste. Os vídeos sobre as instituições, os materiais de apoio, os ônibus e os lanches são fornecidos pelo executivo paulista.

Como os alunos das 3ª e 4ª séries desenvolvem o projeto didático Heranças Culturais, o passeio a uma instituição cultural deve discutir a origem dos nomes e sobrenomes, de onde vieram as pessoas (quais nações, navios, descendentes) que compõem a diversidade cultural do País, descreve o material de apoio distribuído aos professores pela pasta da Educação. Na visita ao museu Lasar Segall, os alunos ouviram uma apresentação da vida do artista, viram fotografias de sua cidade natal, imagens da Alemanha onde estudou artes e ficaram sabendo que ele veio ao Brasil de navio.

Foram alertados que o quadro Navio de Emigrantes não é o mesmo usado pelo pintor quando aportou em terras brasileiras. O navio do quadro é simples, pobre e inspirado em modelos de barcos de imigrantes, explica a monitoria. “Segall tinha posses, viajou em outro”. A monitora explica o que são emigrantes, pede aos alunos para observar as vestimentas das pessoas, como estavam, onde dormiam, de que se alimentam e olhassem os detalhes do quadro. 

Arte no ateliê – Quando uma monitora mostrou os primeiros quadros de Segall (imagens semelhantes a fotografias) e os mais recentes (sem detalhes, com formas geométricas, pinceladas rápidas e muitos ângulos), perguntou se o artista tinha desaprendido a pintar. Alguns disseram que os trabalhos iniciais pareciam de verdade e que ele tinha tirada a foto e depois pintado. “Só faltam as cores”.

João Victor Tigre, 10 anos, disse ter estranhado os desenhos. “Pareciam só rabiscos. Agora sei que ele fazia rápido para não perder a imagem”. Sobre o quadro Navio de Emigrante, explicado em detalhes, disse ter visto que as “pessoas tinham de dormir em cima das malas, ficavam vomitando e estavam tristes”. Ao mostrar a foto do bairro de Vila Mariana, onde está o museu, e perguntar de onde era a imagem, a maioria respondeu: “Amazônia”. Ficaram sabendo que a cidade já teve bondinho, cavalo e muita árvore.

Após ouvir explicações da exposição, foram convidados a inventar uma história a partir de algumas gravuras do artista distribuídas em grupos de cinco crianças. Depois, cada um recebeu um cartão com um detalhe da obra para encontrar o quadro ao qual pertencia. No final do passeio, os estudantes conheceram o ateliê do artista e foram convidados a observar uma figura e desenhar o que não dava para ver, o que estava faltando. Para fazer a arte, receberam lápis de cor, caneta e papel. No retorno à escola, a professora fará uma roda de conversa para esclarecer dúvidas e colher os resultados do passeio.

Além desse museu, a escola visitou o Memorial da América Latina e o Museu Afro-Brasil. Segundo a diretora, a maioria dos 610 alunos é carente, alguns vivem em áreas invadidas e os pais são participativos. Na escola há uma biblioteca (com cinco mil livros), sala de vídeo e de informática, uma quadra e um pátio. Apesar de desenvolver o projeto Ler e Escrever, a nota é muito baixa em Português; em Matemática, os alunos tiram nota melhor. No Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) obteve nota 2,57 (escala de 0 a 10). A meta é 7.

SERVIÇO

O Museu Lasar Segall fica na Rua Berta, 111, Vila Mariana
Visitas: de terça a domingo, das 14 às 19 horas. Grátis
Mais informações no site www.museusegall.org.br

Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



09/24/2008


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