Amorim: conflito entre Colômbia e Equador deve ser contido para não se alastrar



O ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim, admitiu no Senado, nesta quarta-feira (12), que o conflito entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela é "poroso e pode filtrar para outros países", razão pela qual "deve ser contido". De acordo com o ministro, a solução para as divergências, a longo prazo, está num esforço contínuo e sistêmico de diálogo. A curto prazo, entretanto, como destacou, o melhor seria apostar na vigilância do cumprimento de acordos e na investigação do ataque desferido contra integrantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) por militares colombianos em território equatoriano no dia 1º de março.

- O episódio do ataque em si foi superado, até da parte do Equador, embora tenham ficado cicatrizes que vão melhorando aos poucos. Mas não temos ilusões a respeito da solução para o conflito como um todo. As nuvens mais ameaçadoras se dissiparam no imediato. Agora precisamos de tempo, paciência e diálogo - aconselhou o chanceler brasileiro em reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), requerida pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Na visão de Celso Amorim, as grandes manifestações políticas sobre o assunto já foram feitas e estão contidas na resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) e na Declaração do Grupo do Rio, emitidas na semana seguinte ao episódio em que foram mortos Raul Reyes - até então o segundo homem na hierarquia da guerrilha - e mais 16 membros da organização.

- Não há muito no que inovar. Algo novo e positivo que se pode fazer é por meio de medidas práticas, como a criação de confiança, a verificação de compromissos e a maior facilidade de comunicação entre os governantes - detalhou Amorim.

Segundo o chanceler, a comissão de investigação nomeada pela OEA para apurar as circunstâncias do ataque tem trabalhado com liberdade e em breve apresentará resultados.

Questionado pelos senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Jefferson Péres (PDT-AM) sobre um suposto tratamento desfavorável à Colômbia por parte da diplomacia brasileira, Celso Amorim disse que o Brasil procurou seguir princípios e tratados, mas evitou esquentar ainda mais o clima político.

- A diplomacia brasileira agiu corretamente, com maturidade, inclusive quando não deu ouvidos à intervenção da Venezuela. Só não ganha nota dez porque o Brasil deveria ter feito menção explícita ao fato de o Equador dar abrigo às Farc, organização que se utiliza de métodos criminosos. A Colômbia teve atenuantes ao fazer o que fez - ponderou Jefferson.

No entender de Celso Amorim, foi considerada satisfatória, para o momento, a reafirmação do princípio da inviolabilidade dos territórios nacionais e um pedido de desculpas, ainda que tímido, do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Da parte do Equador, o Brasil considera positiva a promessa do exame de documentos que provariam a relação do presidente Rafael Correa com as Farc.

- Não queremos isolar a Colômbia. Não estamos desatentos, mas algumas coisas têm que ser feitas em silêncio. Não condenamos o homizio, porque o governo equatoriano nega ter abrigado as Farc. De fato, as autoridades equatorianas levaram oito horas para chegar lá depois do ataque - disse o ministro.

De todo modo, o importante, na visão do chanceler, é que o esforço de entendimento supere eventuais preferências ou simpatias políticas ou ideológicas. O objetivo do Brasil, portanto, seria o desenvolvimento de relações estáveis na região, independentemente das afinidades entre o Equador, a Venezuela e a Bolívia e da maior aproximação entre a Colômbia e os Estados Unidos.

Manifestaram-se ainda na reunião, além de Eduardo Suplicy, Fernando Collor e Jefferson Péres, os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Mão Santa (PMDB-PI), Romeu Tuma (PTB-SP), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Paulo Duque (PMDB-RJ), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), e o presidente da CRE, senador Heráclito Fortes (DEM-PI).



12/03/2008

Agência Senado


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