Angra dos Reis estará preparada para evacuação em caso de acidente, diz presidente da Eletronuclear
Com a construção de embarcadouros e de helipontos, em andamento, a região de Angra dos Reis (RJ) poderá ter uma megaoperação de evacuação em caso de acidente numa das usinas nucleares em funcionamento no município. Ao participar de audiência pública de três comissões do Senado, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, disse que imagina para essa operação um modelo similar ao adotado na batalha de Dunquerque, na França, em 1940 - encurralados por uma divisão panzer alemã, 300 mil soldados britânicos e franceses foram evacuados por via marítima. A região de Angra dos Reis tem em torno de 200 mil habitantes.
Othon Luiz participou de audiência conjunta, nesta quarta-feira (23), promovida pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI), de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). O objetivo da audiência era debater o uso da energia nuclear e a segurança das usinas brasileiras.
Segundo Othon Luiz, um plano conjunto da Secretaria de Defesa Civil e da Comissão Nacional de Energia Nuclear prevê exercícios anuais de treinamento, com simulação de acidente. De acordo com o presidente da Eletronuclear, a cada ano par, a população é chamada a participar desses exercícios, mas o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse ter ligado para "muita gente" em Angra e todos negaram ter participado do treinamento.
Outra providência adotada pela Eletronuclear, de acordo com seu presidente, foi o cadastro de todas as pessoas que estão num raio de 50 quilômetros da empresa. O objetivo é saber, na hipótese de um acidente, quem foi realmente atingido e facilitar o socorro. A Eletronuclear compartilha esse cadastro com as prefeituras da região, que o utilizam para atividades diversas, como o serviço médico.
Lição
Othon Luiz disse que o acidente na usina nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, deve servir de lição para o mundo. Uma lição óbvia, segundo ele, é que deve haver alternativa para a fonte auxiliar de energia - logo que uma central nuclear é desligada, o que aconteceu em Fukushima Daiichi após terremotos e tsunami, ela precisa de energia externa, corrente alternada, para resfriar o reator.
Num acidente com perda total de alimentação elétrica, como o ocorrido em Fukushima Daiichi, um reator a água pressurizada (PWR), como os existentes nas usinas de Angra, permitiria que os operadores tivessem mais tempo para o restabelecimento da energia do que um reator a água fervente (BWR), que equipa usinas da costa leste do Japão.
Othon Luiz afirmou que, embora sejam mais seguros do que os BWR, os reatores PWR não dão 100% de segurança. Prova disso foi o acidente com uma usina com PWR em Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979. Mas a vantagem, como observou, é que ninguém morreu nem foi contaminado durante o desastre.
Na questão da fonte auxiliar de energia, Othon Luiz disse que o Brasil "está bem na foto": ainda antes do acidente japonês, a Eletronuclear começou a estudar o plano de instalação de uma pequena central hidrelétrica exclusiva para fornecimento de energia à usina de Angra - exatamente o que faltou para resfriar os reatores em Fukushima Daiichi e evitar o desastre.
Placas
O presidente da Eletronuclear expôs aos senadores as zonas de maiores riscos de tsunamis: oito estão no Mar Mediterrâneo e oito no Oceano Pacífico, atingindo inclusive a costa oeste da América do Sul. O Brasil, segundo ele, está no meio de uma placa tectônica, com baixa probabilidade de ocorrência de um tsunami. Mesmo assim, salientou Othon Luiz, as centrais nucleares de Angra dos Reis têm quebra-mar de oito metros e estão situadas em um ponto muito acima de toda a região que poderia ser atingida por eventual tsunami.
23/03/2011
Agência Senado
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