Antonio Carlos Magalhães: meio século no poder



O ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) passou meio século quase ininterruptamente no poder. Baiano de Salvador, 74 anos incompletos, três pontes de safena, Antonio Carlos foi deputado estadual, deputado federal, prefeito, governador e ministro, e sua carreira atingiu o ápice com a eleição para a presidência do Senado.

Embora tenha começado na política pelo caminho das urnas, Antonio Carlos colheu por mais de 20 anos os frutos de sua adesão ao movimento militar que retirou do cargo o presidente João Goulart, em 1964. Médico higienista, começou sua vida política no diretório estudantil da Faculdade de Medicina da Bahia, mas desde o ginásio militava no jornalismo. O pai, Francisco Peixoto de Magalhães, havia sido deputado na Assembléia Nacional Constituinte de 1934 e era da corrente de Juracy Magalhães, um dos principais chefes políticos do estado desde a Revolução de 30.

Em 1954, iniciou seu primeiro mandato parlamentar como deputado estadual pela UDN. Ainda sob essa legenda, elegeu-se quatro anos depois deputado federal, mas passou a apoiar o presidente Juscelino Kubistchek, que se elegera pelo PSD, combatendo a liderança do chefe udenista Carlos Lacerda. Como telefonava todos os dias às 7h para Juscelino, ganhou de seus adversários o apelido de "Despertador de JK". Antonio Carlos também combateu o udenista Jânio Quadros (presidente de janeiro a agosto de 1961) e seu sucessor, Goulart. No dia 20 de outubro de 1966, participou da reunião em que o presidente Castelo Branco decidiu baixar o ato fechando o Congresso por um mês.

Por sua lealdade ao regime militar, Antonio Carlos foi nomeado prefeito de Salvador pelo governador Luiz Viana Filho, em fevereiro de 1967, interrompendo mandato de deputado federal para o qual fora eleito em novembro do ano anterior. Em abril de 1970, reassumiria o mandato de deputado, e já em outubro seria eleito governador da Bahia pela Assembléia Legislativa, por indicação do presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici.

Sua colaboração com os militares prosseguiu em 1975, quando foi nomeado pelo presidente da República, general Ernesto Geisel, para presidir a Eletrobrás. Dali só sairia em 1978, depois de se mostrar contrário à compra da empresa canadense Light. Foi eleito no mesmo ano governador da Bahia pelo Colégio Eleitoral (eleição indireta) e no ano seguinte pôs em circulação o Correio da Bahia, em sociedade com o ex-governador Antonio Balbino e o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Em 1980, já no governo do general João Batista Figueiredo, filiou-se ao PDS. Durante sua segunda gestão na Bahia, que durou até 1983, tratou com rigor a greve da Polícia Militar e o quebra-quebra dos ônibus provocado por aumento de tarifas.

De 1985 a 1990 (governo José Sarney), foi ministro das Comunicações. Sua passagem pela pasta foi marcada pelo aumento do número de concessões de autorização para o funcionamento de emissoras de rádio e televisão. Em 1991, voltaria, pela terceira vez, ao governo da Bahia, em eleição direta. E em 1995 chegaria ao Senado para um mandato previsto para acabar em 2003.

Em fevereiro de 1997, iniciou seu primeiro mandato como presidente do Senado, marcado pelo empenho na aprovação das reformas consideradas necessárias pelo Executivo para a estabilização econômica. Naquele momento, a aliança com Fernando Henrique ainda não estava abalada e a atuação de Antonio Carlos foi coordenada com o trabalho feito na Câmara dos Deputados por seu filho Luís Eduardo Magalhães, que presidira aquela Casa nos dois anos anteriores.

Conforme balanço exibido em sua página na Internet, Antonio Carlos implementou uma série de reformas administrativas no Senado, reduzindo gastos em cerca de R$ 1,5 milhão e obrigando agências de viagens e dos Correios a pagar aluguel. Entretanto, o fato mais marcante desse período, e que definiria o futuro político de Antonio Carlos, foi a morte de Luís Eduardo em abril de 1998. Acabava, ali, o sonho de levar o filho ao Palácio do Planalto nas eleições de 2002.

O segundo mandato (1999-2000) também foi marcado por grandes emoções. Apesar de se manter com o partido na base de sustentação do governo, Antonio Carlos mostrou crescente independência em relação a Fernando Henrique. Mas deu cartadas em outras direções. Uma delas foi a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Poder Judiciário, em 1999, que abriu flancos numa área até então intocada, e lhe rendeu dividendos junto à opinião pública. O passo seguinte foi uma aproximação com teses históricas da esquerda, como o combate à pobreza e o aumento do salário mínimo. Esses movimentos, aliados à briga com o governo pela limitação das medidas provisórias, resultaram em aumento do prestígio de Antonio Carlos no seio de todos os partidos.

Em meio a essa aproximação com a esquerda, crescia a disputa com o senador Jader Barbalho, com quem manteve troca de acusações de corrupção em Plenário. Essa disputa levou Antonio Carlos a encontrar-se com procuradores da República para tratar de irregularidades que teriam sido cometidas no âmbito da Sudam.

Na conversa, o senador acabou revelando aos procuradores que havia uma lista da votação secreta da cassação de Luiz Estevão. Com isso, abriu o caminho para que fosse instaurada uma investigação sobre a violação do painel eletrônico, que acabou resultando na decisão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar de encaminhar à Mesa do Senado pedido de abertura de processo contra Antonio Carlos por quebra de decoro parlamentar. Em seu discurso de renúncia, o ex-presidente acusou o conselho de agir politicamente e anunciou que voltará a ocupar uma cadeira no Senado.

30/05/2001

Agência Senado


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