Arquiteto diz que foi pago por mulher de Cachoeira para decorar casa que foi de Marconi Perillo



O arquiteto Alexandre Milhomem, responsável pela reforma na casa de luxo onde Carlos Cachoeira foi preso em fevereiro deste ano, afirmou à CPI que investiga as relações criminosas do contraventor goiano que foi contratado por Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, para um trabalho de decoração interna do imóvel, ocupado por ela de forma provisória.

Em depoimento nesta terça-feira (26), o arquiteto disse que nunca viu pessoalmente o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e não sabia que a casa havia pertencido a ele.

– Andressa me contratou inicialmente para um outro projeto de uma casa nova, mas depois desistiu. Então me dediquei apenas à parte interna do imóvel emprestado a ela por amigo que não sei quem é – explicou.

Alexandre Milhomem disse ainda ter recebido o pagamento de R$ 50 mil em cinco prestações de R$ 10 mil cada. O profissional estimou que Andressa e Cachoeira tenham gasto ao todo cerca de R$ 500 mil em obras e na decoração completa da casa, valor que chamou a atenção de alguns dos parlamentares.

– A cliente [Andressa Mendonça] tem bom gosto excessivo e gosta de tudo do melhor, por esse motivo acredito que foram gastos mais de R$ 500 mil. Cada um investe no que pode, “né” – disse ele..

Embate político

Com o silêncio de outras duas testemunhas que falariam sobre o assunto, Lúcio Gouthier Fiuza, ex-assessor especial do governador de Goiás, e Écio Antônio Ribeiro, sócio da empresa que consta em cartório como compradora da antiga casa do governador, a reunião desta terça-feira transformou-se novamente num embate político.

A convocação do arquiteto provocou a revolta de parlamentares do PSDB, que protestaram contra a demora em chamar o ex-dono da Delta, Fernando Cavendish.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi um dos que se manifestaram. Para ele, a vinda do arquiteto à comissão foi “descabida, despropositada e não fundamentada”, fruto do direcionamento dos trabalhos dado pelo relator Odair Cunha (PT-MG).

– A priorização desta testemunha deprecia o papel da CPI. O relator cumpre aqui missão partidária e não indaga nada que diga respeito ao governo federal e ao PT. Em três dias de depoimento nesta semana, foram convocadas sete pessoas ligadas a Marconi Perillo e só três ligadas a Agnelo Queiroz – afirmou.

Sampaio aproveitou para provocar o relator, perguntando-lhe o que havia feito de concreto na comissão.

– O que de útil vossa excelência conseguiu produzir nesta CPI? Ou vossa excelência muda a postura ou todas as vezes que eu pedir a palavra vai ser para questionar. Essa convocação é vexatória, e estou envergonhado de participar desta comissão – disse, exaltado.

Em resposta, o ralator petista insinuou que Carlos Sampaio estava lá para defender o governador Perillo e justificou a convocação das testemunhas pelo fato de a organização criminosa ter atuação principalmente em Goiás.

– Queremos compreender a extensão desta organização. A Delta vai ser investigada sim, mas temos que convocar pessoas ligadas a Perillo – retrucou.

Casa

A venda da casa onde Cachoeira foi preso é uma das linhas de investigação da CPI, que tem versões conflitantes sobre a transação. Para a Polícia Federal, o imóvel foi pago com três cheques nominais a Perillo, assinados por Leonardo de Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira. O cheques são da Excitant confecções, que pertence à cunhada de Cachoeira. Ainda para a PF, o contraventor usou o empresário Walter Paulo Santiago e a empresa Mestra Administração e Participações, como laranjas.

Walter Paulo Santiago, por sua vez, informou aos congressistas ter comprado o imóvel por R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo, em notas de R$ 50 e R$ 100. Santiago disse também que o dinheiro foi entregue para o ex-vereador de Goiânia, Wladimir Garcez, e para Lúcio Fiúza, ex-assessor do governador.

Ao se explicar à comissão, Garcez, disse que comprou a casa de Perillo por R$ 1,4 milhão, com três cheques emprestados por Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Centro-Oeste, e por Carlos Cachoeira.

Questão de ordem

No início da reunião desta terça-feira, o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), considerou que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e a mulher dele, a deputada Iracema Portella (PP-PI), podem votar em questões relativas à Delta e ao ex-presidente da empresa, Fernando Cavendish.

A decisão foi tomada em resposta à questão de ordem apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que considera “incompatível com qualquer investigação o investigador ser amigo do investigado”.

Na semana passada, Ciro Nogueira admitiu ter-se encontrado casualmente em Paris com Cavendish. Uma das maiores empreiteiras do país, a Delta é acusada de participação no esquema de Carlinhos Cachoeira.

Assessor

Ao abrir a reunião, o presidente informou ainda que já tomou providências para apurar o suposto envolvimento de um servidor de seu gabinete com integrante do grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Vital do Rêgo disse que enviou ofício aos responsáveis pelo inquérito policial e ao Ministério Público para saber se há algum problema envolvendo seu servidor, Rui Brito Souza.

Reportagem publicada pela imprensa na segunda (25) aponta que o assessor do senador foi flagrado conversando com Francisco Marcelo Queiroga, que atuava junto ao grupo de Cachoeira. Em uma das conversas, Queiroga cobra de Brito um pagamento, cujo motivo não fica esclarecido no diálogo.

Perillo

Nesta quarta-feira, 27, o governador Marconi Perillo continuará no centro das atenções da comissão de inquérito. Estão previstos os depoimentos de Jayme Eduardo Rincón, ex-tesoureiro da campanha do governador; Eliane Gonçalves Pinheiro, ex-chefe de gabinete; e Luiz Carlos Bordoni, radialista autor de denúncias contra o governador. A reunião está marcada para 10h15, na sala 2 da Ala Alexandre Costa, no Senado Federal.



26/06/2012

Agência Senado


Artigos Relacionados


Empresário tenta esclarecer venda de casa a Marconi Perillo

Delegado confirma à CPI remessa de dinheiro e venda da casa de Perillo para Cachoeira

Perillo nega relação com Cachoeira e diz que venda de casa foi legal

Marconi Perillo chega para depor na CPI

Deputados do PT dizem que depoimento de arquiteto à CPI derruba versão de Perillo

Para Marconi Perillo, oposição irá colaborar com Dilma