Arthur Virgílio critica comparações de Aloizio Mercadante
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), subiu à tribuna nesta quarta-feira (19) para advertir o líder do governo, senador Aluízio Mercadante (PT-SP), a -tomar muito cuidado- com o ditado popular que diz -desta água não beberei-. Garantindo estar munido -do espírito construtivo e da mesma linha de debate qualificado- que se trava no Senado, o líder partidário criticou algumas afirmações feitas pelo líder do governo momentos antes.
Segundo Arthur Virgílio, Mercadante insinuou que os brasileiros podem assumir compromissos com a suspensão dos aumentos da taxa básica de juros a partir de agora. Para o líder do PSDB, no mês que vem, pode ser necessário aumentar a taxa Selic.
- Deus queira que não, mas se precisar, não tenho dúvida alguma de que a orientação do ministro [da Fazenda] Antonio Palocci será no sentido de aumentar a taxa básica de juros - afirmou.
O representante amazonense também criticou o senador do PT por ele ter dito que o dólar entra agora em uma situação de equilíbrio, -como se pudesse garantir que não vai haver mais solavanco para cima e para baixo-.
- Nós temos a convicção de que, infelizmente, o Brasil ainda haverá de experimentar turbulências também em relação à cotação do dólar diante do real - disse.
O líder do PSDB lembrou que o governo brasileiro acabou de assinar um protocolo de intenções com o Fundo Monetário Internacional (FMI) -garantindo a continuidade das políticas que estão praticadas aí-, contrapondo-se à assertiva do líder do governo, para quem a política econômica mudou.
- Não vi mudança significativa entre um modelo macroeconômico e o outro - sentenciou o parlamentar pelo Amazonas, acrescentando temer que os atuais governantes -não mudem na hora em que a ousadia os permitir a possibilidade de mudar, como, por exemplo, na questão dos juros-.
Arthur Virgílio criticou Aloizio Mercadante também por comparar indicadores do governo anterior, de outubro do ano passado, com os de agora, -quando meramente o governo começa a retornar a padrões inferiores aos melhores momentos experimentados pelo governo Fernando Henrique-. Exemplificou que a taxa de risco calculada hoje para o Brasil é de 1.100 pontos, ao passo que -o padrão do governo Fernando Henrique era de 700, 800 pontos-.
- Graças a Deus não houve nenhum gesto tresloucado do presidente Lula ou de sua equipe ao longo desses quase 90 dias de governo. Por isso se começa a estabelecer uma relação de confiança entre mercados e o país - afirmou.
Segundo Arthur Virgílio, mais não foi feito pelo governo Fernando Henrique porque, à época, havia uma crítica empedernida às reformas estruturais que poderiam ter garantido para o Brasil o chamado grau de investimento, o investment grade-. De acordo com o senador, se esse grau tivesse sido atingido, o Brasil estaria hoje ao lado de México, Rússia e Chile, que pagam taxas de risco entre 250 e 350 pontos.
O parlamentar do PSDB salientou mudanças negativas do atual governo. Disse que -o MST passou novamente a inquietar- o país, gerando uma -ameaça clara- sobre a agricultura, setor que tem sido responsável pela virada na balança comercial. Ele disse que o MST -estava bastante esvaziado pelas ações de reforma agrária do governo anterior-, mas citou a invasão de prédios públicos e a ocupação de fazendas produtivas no atual governo para concluir que -esta mudança é real, mas ela não é positiva-.
Arthur Virgílio afirmou que algumas heranças devem ser creditadas pelo atual governo ao anterior, como a safra recorde de grãos, -fruto de oito anos de trabalho incessante e de comunhão com anseios de quem trabalha no setor primário neste país-. Disse ainda que a verdadeira avaliação do governo Lula sobre o desempenho do setor exportador se verificará a partir de maio, porque o resultado positivo que se vê é ainda resultado de contratos e acertos feitos no governo anterior.
- Que o debate se faça, que nós busquemos estabelecer cada um as suas verdades, para que verdades sinceras se choquem com outras verdades sinceras e nós possamos chegar à síntese inteligente que haverá de mostrar o caminho do crescimento econômico, que começou a se delinear, a meu ver, com as reformas estruturais iniciadas em 1995, contra a perspectiva do Partido dos Trabalhadores, e haverão de continuar sobre a batuta do presidente Lula, convertido à causa de que não é neo-liberal reformar a estrutura deste país, mas é o imperativo do realismo, da seriedade administrativa, da austeridade ao se gerir a coisa pública - finalizou.
19/03/2003
Agência Senado
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