Artistas da capital e do Interior farão intervenções urbanas na Luz



Cidade, Corpo Radial é tema de projeto sob o olhar da gravurista Maria Bonomi

Os novos artistas do Ateliê Amarelo já chegaram e com eles uma explosão de idéias. Desde o dia 18 vêm trabalhando em intervenções urbanas no bairro da Luz e no seu entorno, sob o tema Cidade, Corpo Radial. Seguem nesse ritmo até 20 de dezembro, período de maturação criativa e linguagens que podem e devem mudar ao longo do período.

A artista, também arquiteta, Andréa Boller, por exemplo, vai desenrolar um carretel de linha da Estação da Luz até a divisa entre São Paulo e Itapecerica da Serra, na zona sul, arte batizada de In Visível. Já Walmur produz desenhos de carvão sobre tecido de algodão para espaços públicos paulistanos, trabalho feito, em parte, no viaduto Santa Ifigênia. Lá, estendeu metros e metros do tecido que recebeu generosa quantidade de carvão. Depois, pacientemente, pendurou-o no teto do Ateliê. Pronto: estava feita a instalação artística, à qual chamou de Cornucópia Paulistana.

Walmur e Andréa não estão sozinhos. Eles e mais sete artistas, sob a curadoria de Maria Bonomi, idealizadora do Projeto Ateliê Amarelo, e de outros curadores – Cildo Oliveira, João Spinelli, Silvio Dworecki e Maurício Moraes – foram selecionados para participar do programa de bolsa-residência da Secretaria da Cultura, em sua terceira edição. “O ponto de partida é sempre a metrópole”, diz a gravurista Maria Bonomi, que dispensa apresentações. “Foi assim no primeiro ano, em 2006, com o tema Cidade Adentro e agora”.

Bonomi conta que o sonho de ter um espaço pronto para ser ocupado por artistas em início de carreira, durante um período do ano, a persegue desde 1967. Ao ser premiada na Bienal de Paris, ganhou do governo francês a oportunidade de utilizar por 12 meses um dos ateliês da Ville des Arts, na capital francesa. Motivos profissionais a impediram de aceitar a proposta, mas não desistiu de desenvolver a experiência no Brasil. 

Referência cultural – Em São Paulo, a secretaria aceitou o convite, mas não abriu mão de que o Ateliê fosse implantado no centro da cidade, ali, onde o mapa da cultura traça em forma de cores, de imagens e de sons, um exemplo da capacidade inventiva desse povo. Depois de intensa procura, o velho sobrado dos anos 40, no número 23 da Rua General Osório, chamou a atenção, a 50 metros da Secretaria de Cultura. Restaurado, além de dar novos ares ao Largo, é referência cultural na região, ao lado de vizinhos não menos famosos – Pinacoteca, Estação Pinacoteca, Sala São Paulo, Cento Tom Jobim.

Adriana Aranha, artista paraibana, radicada no Recife e residente em São Paulo desde 2004, não se incomoda. Ao contrário, aprecia desenvolver arte ao som da música que vem da charmosa vizinha Sala São Paulo. “É música direto, já me acostumei a trabalhar com esses acordes”, diz, em meio aos símbolos gráficos de crochê, uma das vertentes do seu projeto Não Conduzo, sou Conduzida. Nele, a jovem, que abandonou a advocacia para tornar-se artista, inverteu o tradicional lema de São Paulo para se deixar levar pelo fluxo da cidade. “Sou uma artista que precisa da fotografia, do desenho, do vídeo, para dar corpo às minhas concepções. Estou me apaixonando por São Paulo e acredito que o Ateliê vai me ajudar muito nesse sentido. É uma cidade desconhecida para os próprios paulistas”.

O xilogravurista Giancarlo Ragonese, de São José dos Campos, como Adriana, abandonou a carreira – no caso dele, de professor de Educação Física – para dedicar-se inteiramente à arte. Aposta muito nessa oportunidade. “É única, o Ateliê é referência e, principalmente, tem uma seleção honesta, que é o grande referencial”. Para participar há um edital, seguido da inscrição, quando o concorrente apresenta no ato dois envelopes lacrados. Um contendo os documentos exigidos, currículo, e o outro, o projeto a ser desenvolvido em quatro meses no Ateliê, com o pseudônimo do artista. São escolhidos por uma comissão de curadores, presidida por Maria Bonomi e integrada por mais dois artistas: um crítico-jornalista e um professor. São cinco vagas destinadas a artistas de São Paulo e cinco para os do interior, que ganham, ainda, bolsa-auxílio.

Os selecionados podem ocupar o espaço, que consta de ateliê privativo, acomodações para quem vai se hospedar e amplo salão no terraço do sobrado, que pode ser utilizado por todos, desde para quem trabalha com esculturas até para as reuniões entre curadores e artistas que ocorrem às quartas-feiras. Para Juny Kp!, artista rio-pretense, o que mais o interessou no projeto foi a residência. “Convivo com outros artistas e com os curadores”, diz ele, que fica metade da semana em São Paulo e a outra metade em Rio Preto. Com a frase Você tem certeza? vai interagir, dialogar com as pessoas e com o meio urbano. Outro artista, Makoto Habu, gosta das dicas e das opiniões valiosas da Maria Bonomi. “Ela fala sobre gravura com uma consistência nunca antes vista por mim”.

Bonomi, Cildo e Spinelli ressaltam que os artistas selecionados terão necessariamente de trabalhar com o tema proposto pelos curadores, sempre uma reflexão social e poética sobre o centro da cidade. No tempo em que se apropriam do Ateliê, recebem apoio dos curadores, dicas, intervenções e até broncas, podendo os trabalhos ser acompanhados por estudantes e público em geral, interessados em saber como se dá o processo criativo do artista.   A atuação deles não se restringe às dependências do Ateliê. A intenção é transformar a região e suas radiais num ponto de intervenção dos artistas, que poderão utilizá-la para exposições e criações ao ar livre, fazendo jus ao tema proposto. Os resultados do Ateliê têm sido positivos, de acordo com Cildo. Tanto que a curadoria planeja lançar um livro no final deste ano, sobre os três anos do Ateliê. “Muita gente que passou por aqui, hoje está no exterior, alguns em galerias, na bienal do Mercosul. A visibilidade que o Ateliê dá a eles é muito grande”.

Para Maria Bonomi, trata-se de “uma possibilidade transgressora e alternativa de formação em artes visuais com a finalidade principal de formar multiplicadores para atuar em situações de periferia, de centros de cidades, podendo transmitir fora de bancos escolares e fora das academias. É o conhecimento da arte mais em termos de vivência, de prática, usando o centro da cidade. Queremos promover uma imersão na nossa cidade, no nosso espírito brasileiro, no nosso improviso, nas nossas linguagens visuais, mas fora do percurso das academias, dos centros oficiais”. Segundo ela, esse é o principal motivo do Ateliê. Um centro transgressor, porém, patrocinado pela Secretaria da Cultura. “A Secretaria, dessa maneira, dá uma oxigenada numa moçada que está solta por aí”. 



09/27/2007


Artigos Relacionados


Artistas do Atelier Amarelo planejam intervenções na Capital

Cidades promove seminário sobre intervenções urbanas

Artistas do Atelier Amarelo planejam Intervenções em SP

Artistas do Atelier Amarelo planejam intervenções na cidade

EUA farão treinamentos na capital paulista durante a Copa

Mais de 3.400 PMs farão a segurança da Virada Cultural da capital