As vantagens de cada um









As vantagens de cada um
Governo faz nova rodada de negociações com empresas interessadas na venda de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). O Ministério da Indústria e Comércio Exterior insiste em propostas que favoreçam as exportações

Depois de uma nova rodada de negociações com os concorrentes, acompanhada por dois técnicos do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, o Comando da Aeronáutica espera apenas um parecer do ministro Sérgio Amaral para dar prosseguimento ao Programa F-X — uma concorrência internacional no valor de US$ 700 milhões para a compra de 12 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). Essa licitação é fundamental para a Aeronáutica. Na verdade será escolhido o futuro avião de combate brasileiro, um mercado potencial superior a 115 unidades nos próximos 15 anos.

O titular da pasta do Desenvolvimento entrou nas negociações depois de uma reunião no Palácio do Planalto com o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Almeida Batista. Na ocasião, discutia-se a possível eliminação do candidato norte-americano, o Lockheed-Martin F-16C Viper. Amaral pediu mais informações sobre os pacotes de compensações comerciais oferecidos pelos concorrentes e insistiu em participar do processo de escolha.

A interferência do ministro do Desenvolvimento retardou a escolha do futuro avião de combate da FAB em mais de um mês. A decisão seria tomada em meados do mês passado pelo Conselho de Defesa Nacional. Três outras licitações encontram-se em compasso de espera.

Nova sabatina
Cada concorrente do Programa F-X teve dois dias para reapresentar sua proposta, sob o olhar atento de dois técnicos de confiança de Sérgio Amaral. E as perguntas dirigidas aos concorrentes mostram que o enfoque agora é comercial. Os primeiros a se submeterem à nova sabatina, nos dias 13 e 14 de junho, foram os integrantes do consórcio Sukhoy-Rossoboronexport-Avibrás. Eles oferecem ao Brasil, caso haja novas encomendas, a possibilidade de fabricar o Sukhoy 35 em São José dos Campos e um amplo pacote de transferência tecnológica, inclusive na área espacial.

Os integrantes da comissão licitatória, depois de ouvirem atentamente, solicitaram apenas novos esclarecimentos sobre o pacote de compensações comerciais. A princípio, estão previstas importações de até US$ 1,4 bilhão em gêneros agrícolas brasileiros.

Os segundos a se submeterem a mais uma rodada de conversações foram os suecos e britânicos da Gripen International, consórcio formado pelas empresas Saab e British Aerospace. Os encontros ocorreram nos dias 17 e 18 de junho. O enfoque das perguntas recaiu sobre o pacote de contrapartidas comerciais. O consórcio respondeu que pretende exportar US$ 2,1 bilhões em produtos brasileiros de alta tecnologia.

A comissão formada pelos oficiais da FAB e técnicos do Ministério do Desenvolvimento pediu uma lista de produtos e empresas que poderiam ser favorecidas. Os técnicos do consórcio também garantiram já ter licença do governo dos Estados Unidos para exportar itens de fabricação norte-americana incluídos no caça Gripen — basicamente o sistema de navegação e 60% do motor.

Nos dias 20 e 21 foi a vez da Embraer-Dassault enfrentar a comissão. O consórcio oferece ao Brasil, caso seu caça seja o escolhido e haja novas encomendas, a possibilidade de fabricar o Mirage 2000-5Br em uma nova fábrica no município paulista de Gavião Peixoto e um amplo pacote de transferência tecnológica nas áreas de ferramental, eletrônica e mecânica de ponta. A comissão solicitou um detalhamento de como seriam feitos esses repasses, os valores de cada um e a possibilidade de alguns deles serem entregues sem custo para as empresas nacionais.

Na semana passada os técnicos da Aeronáutica ouviram os russos da MiG-Mapo, fabricante do MiG 29M, e a Lockheed-Martin, dos Estados Unidos. A MiG está praticamente fora da disputa. Os técnicos norte-americanos, por sua vez, não incluíram nenhuma contrapartida comercial em seu pacote. A comissão perguntou basicamente quais tecnologias seriam transferidas para o Brasil e as empresas nacionais beneficiadas. Mas o avião tem pouca chance na licitação.


DF está mais perto de Goiânia
Goiânia — Os 200 quilômetros que separam Brasília de Goiânia estão cada vez menos significativos. Na última década, a paisagem apreciada durante a viagem de uma cidade para outra mudou completamente. No lugar de extensas áreas verdes, casas, indústrias e comércios. E a tendência é que em poucos anos as zonas rurais praticamente desapareçam do caminho, dando lugar a um único conglomerado urbano e industrial. A previsão é do economista da Universidade de São Paulo (USP), José Eli da Veiga. Em uma palestra ontem, na 54ªReunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ele mostrou o crescimento urbano em Goiás e no Distrito Federal. Segundo ele, o índice é um dos mais acentuados dos últimos anos no país, perdendo apenas para a Paraíba.

De acordo com dados do IBGE, ampliados e analisados pelo pesquisador da USP, enquanto a população urbana do Brasil teve um crescimento médio de 15%, Brasília e Goiânia tiveram um índice de 39% e 22%, respectivamente. Pelo menos 29 cidades de Goiás se tornaram pólos atraentes de migração de empresas e pessoas.

População urbana
Em algumas cidades como Alto Paraíso, o processo migratório está relacionada com fatores religiosos. Mas em outros locais os cientistas paulistas ainda não conseguiram identificar a causa do aumento da população urbana e da concentração de empresas. É o caso de Santo Antônio de Goiás. A cidade possui uma empresa para cada 21 pessoas. No Distrito Federal, esse índice é de uma para cada 35 habitantes e, em Goiânia, de uma para 30.

De acordo com o pesquisador, a região Brasília-Goiânia apresenta um crescimento urbano realmente assustador. O que não se repete na maior parte do país, como alguns especialistas defendem. Veiga critica a definição de cidade que baseia o censo do IBGE. Lugarejos com até 18 habitantes entram na lista das cidades brasileiras.

Com isso, regiões como o Pantanal aparecem nos mapas do IBGE como urbanizadas. ‘‘Quando se analisa o mapa de densidade demográfica as distorções nessa análise ficam bem claras’’, diz Veiga. Ele contesta a projeção do IBGE de que em 2030 o Brasil se tornará o primeiro país totalmente urbano do mundo. ‘‘Se o país rural continuar sendo subestimado, será impossível elaborar um projeto de desenvolvimento sustentável coerente.’’


Pacote antifraude
Bolsas americanas caem e mostram que mercado financeiro não acredita na eficiência das medidas anunciadas por Bush para pôr fim às maquiagens de balanços feitas por grandes companhias do país

Os investidores dos Estados Unidos reagiram com ceticismo às reformas das práticas contábeis propostas ontem pelo presidente George W. Bush (leia quadro ao lado). Segundo a comunidade financeira, as medidas demorarão a surtir efeito e será preciso mais do que um discurso áspero para resgatar a confiança no país. ‘‘Se alguns forem para a cadeia por causa desses escândalos, aí haverá algum efeito’’, disse Bev Hendry, diretor de investimentos da corretora Phoenix-Aberdeen. ‘‘Precisamos de mais ação e menos conversa. Essas propostas levarão um bom tempo para surtir efeito’’, declarou.

As duas principais propostas de Bush não têm qualquer efeito imediato. Para tornar mais dura a punição aos executivos que fraudam empresas, o Congresso precisa aprovar lei que os punam com até dez anos de prisão. Atualmente são cinco anos, mas ninguém vai para a cadeia. O reforço da SEC (comissão americana responsável por fiscalizar as empresas) com novos 100 agentes e investime ntos de US$ 100 milhões não garante punições exemplares se não houver vontade política para tanto. Muitos americanos acreditam que essa vontade não existe, tanto que protestaram ontem contra fraudes praticadas na Harken Energy, no Texas, empresa da qual Bush foi sócio quando era empresário (leia mais no quadro ao lado) . As investigações sobre esse caso foram arquivadas.

Alheio ao protesto, Bush discursou para um grupo de empresários, a poucos metros da Bolsa de Nova York, a principal praça financeira mundial. ‘‘Meu governo fará todo o possível para acabar com a era da maquiagem da verdade e dos descumprimentos da lei’’, declarou. ‘‘Com um estrito cumprimento da lei e níveis éticos maiores, devemos entrar em uma nova era de integridade nas corporações dos Estados Unidos’’, afirmou.

Prova do descaso com que Wall Street (o coração do mercado financeiro americano e mundial) reagiu ao discurso de Bush foi a reação das Bolsas. Os principais índices encerraram o dia no vermelho, com perdas significativas. A de Nova York caiu 1,93%, e a Nasdaq (eletrônica, que reúne empresas de alta tecnologia), 1,74%.

Com a sucessão de escândalos envolvendo grandes corporações norte-americanas, houve uma fuga de investidores do mercado acionário. Na semana passada, a Nasdaq chegou a atingir o nível mais baixo dos últimos cinco anos. A Bolsa de Valores de São Paulo não funcionou ontem devido a um feriado na cidade.

‘‘Gostaria de ver uma dessas pessoas {envolvidas nas fraudes} usando aquelas roupas listradas de presidiários’’, afirmou Tony Maramarco, da corretora de ações David L. Babson & Co. ‘‘O discurso do presidente foi duro e razoavelmente equilibrado, mas a implementação da maior parte das propostas não acontecerá imediatamente’’, disse Alan Ackerman, da corretora Fahnestock. ‘‘Por ora, as más notícias continuam a corroer a confiança dos investidores.’’

Analistas de fora do mercado também não se convenceram da eficiência das propostas. ‘‘A percepção da integridade das corporações foi tão danificada que algo muito mais dramático precisa ser feito, e as propostas não cumprem esse papel’’, disse o professor Lawrence Mitchell, da Universidade George Washington.

‘‘Há boas propostas, como aumentar os recursos da SEC’’, disse Joseph Grundfest, da Stanford Law School. ‘‘Mas a verdadeira questão é como serão implementadas tais medidas.’’ Tom Daschle, líder da maioria democrata (de oposição) no Senado, criticou Bush por não ter tomado atitudes mais duras. ‘‘Não basta discutir contabilidade. É preciso agir’’, afirmou. Para Daschle, o governo dos EUA (republicano) mantém uma relação ‘‘permissiva’’ com as grandes corporações do país. O líder democrata pediu a cabeça do presidente da SEC, Harvey Pitt, indicado por Bush.


IBGE vai mapear o consumo no Brasil
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou um estudo que irá traçar um retrato fiel dos hábitos de consumo no país. Com custo estimado em R$ 8 milhões, a Pesquisa de Orçamento Familiar será realizada em cerca de 60 mil domicílios até julho do ano que vem. Para fazer esse trabalho, mil agentes do IBGE começaram ontem a coletar as informações. O estudo levantará os gastos da família e qual a origem do rendimento. O presidente do IBGE, Sérgio Besserman, disse que a pesquisa permitirá um aprofundamento dos estudos sobre a pobreza no Brasil, já que será um mapeamento abrangente sobre a renda e o consumo das famílias. Os resultados serão divulgados a partir de dezembro de 2003.


Metalúrgicos acabam greve
Os funcionários da General Motors retornaram ao trabalho ontem, após assembléia realizada em frente à fábrica de Gravataí (RS). A categoria decidiu suspender a greve iniciada terça-feira passada, apesar de os metalúrgicos não terem alcançado suas reivindicações. Os empregados da unidade de Gravataí querem reajuste salarial de 10% e a suspensão dos descontos nos contracheques praticados em junho, que varia, de R$ 150 a R$ 450. A direção da GM informou que durante o período de greve deixaram de ser produzidos 1,8 mil veículos.


Correntista vence no STJ
Os bancos que cancelarem cheques especiais sem aviso prévio aos correntistas podem pagar indenização por danos morais. O entendimento é da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que confirmou o direito conquistado por Wagner Baia, cliente do Banco AMRO Real em duas instâncias inferiores. Baia ganhou o direito a uma indenização deR$ 4 mil.


Artigos

O mundo é aqui
Mauro Santayana

Vinte e cinco anos na existência de qualquer pessoa é muito tempo. Corresponde a um terço da expectativa de vida nos países mais saudáveis. É o tempo em que a criança se torna adulta, em que o adulto se torna maduro e, em muitos casos — e não em todos — em que o adulto se torna sábio. Mas um quarto de século, na história, não significa muito. É quase um instante — instante que pode produzir o bem e o mal por muito tempo. Na verdade, nem é preciso tanto tempo. A história, dama volúvel e ousada, costuma agarrar o tempo por uma nesga do acaso, e promover, a partir daí, mudanças que podem ser duradouras. Duradouras, mas, de qualquer forma, reversíveis. Nada é eterno, exceto, talvez, a própria eternidade, tal como ela nos é assinalada, como esperança ou maldição.

Há vinte e três anos, durante o governo trabalhista de John Callaghan, a recessão econômica levou os trabalhadores britânicos a uma série de greves. O período foi chamado de Winter of Discontent, em alusão lateral a Ricardo III, na versão shakespeareana, e assustou a classe média e os grandes empresários britânicos. Foi graças a esse medo, sempre péssimo conselheiro, que a ala direita do Partido Conservador se impôs, sob a liderança de madame Thatcher, e chegou ao poder.

Madame Thatcher privatizou, cortou subsídios, privilegiou os setores financeiros, e, ao eleger-se Reagan, reforçou sua aliança com os republicanos dos Estados Unidos. No plano interno, aposentou Keynes do ideário britânico, liquidou o ‘‘welfare state’’, desmantelando os serviços de saúde e de educação pública e endureceu o jogo com os sindicatos e com os nacionalistas irlandeses. Em dois anos, o número de desempregados dobrou. As ferrovias, as empresas de energia e de saneamento e outras, ao serem privatizadas, caíram de qualidade. Em conseqüência de tudo isso, madame Thatcher teria perdido as eleições de 1987, se os argentinos não a houvessem ajudado, com a invasão das Ilhas Falkland e se não houvesse sido cooptada pelos neoliberais uma ala de direita do Partido Trabalhista, disposta a aceitar a ‘‘modernização’’ dos conservadores. Ao desmantelar o Estado, Thatcher importou, para os subúrbios londrinos, as chagas de miséria do Terceiro Mundo. Com a mesma linguagem de Hitler e Mussolini, recomendou aos países latino-americanos a entrega de parcelas de seus territórios aos credores, em troca da dívida externa.

O Brasil resistiu, com Figueiredo e com Sarney, à pressão do neoliberalismo, até a desastrosa eleição de Fernando Collor, que quis entregar tudo, mas não teve tempo. Os dois anos de Itamar foram de resistência relativa, porque a chegada de Fernando Henrique ao Ministério da Fazenda, com sua equipe econômica, significou o início da política de capitulação que nos está deixando, como herança, a promessa do caos.

O ciclo aberto em 1979 corresponde ao do saqueio dos ativos das grandes corporações mundiais pelos aventureiros que, associados aos governos conservadores, e impelidos pelos grandes bancos, delas se apossaram, para exauri-las e levá-las à falência, comprometendo todo o sistema capitalista, que ameaça desabar-se como um todo, por falta de confiança dos pequenos acionistas. O próprio pre sidente dos Estados Unidos, também ele um ‘‘executivo moderno’’, esteve envolvido em falcatruas. Bush tenta livrar-se das acusações, ao mesmo tempo em que prega o retorno da confiança dos cidadãos na ‘‘livre iniciativa’’, mas não será fácil se o Estado não retornar ao seu dever de promover a justiça, mediante a lei e a ética.

Devemos meditar sobre o que ocorre no mundo e sobre o nosso passado recente, nessas escassas semanas que nos separam das eleições gerais. Sujeitos a uma teoria e a uma prática que prescindem da ética e da razão, corremos o risco de ficar na contramão da história. Arregimentam-se, em torno de uma candidatura que se diz ‘‘socialista e popular’’, homens como Tasso Jereissati, Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen e pelegos notórios, como o candidato a vice-presidente, Paulo Pereira da Silva. Nunca foi tão válida a advertência de que sabemos quem são as pessoas, ao identificar com quem elas andam. O sr. Fernando Collor, por si e pelos seus, já declarou seu voto em Ciro Gomes.

O presidente da República parece distanciar-se da candidatura que adotou, com as medidas que vem tomando, desde que empurrou Serra para os braços de Geddel e Temer. Sua decisão de não intervir no Espírito Santo pode ser interpretada como um cuidado para não expor a candidata a vice-presidente de Serra, o que terá, como é natural, leitura negativa por parte dos meios bem informados. A reação do ministro da Justiça, ao demitir-se, promoverá o esmorecimento de alguns setores do PSDB, a que é filiado o sr. Reale Júnior.
Da forma em que as coisas marcham, é provável que, havendo segundo turno, o sr. José Serra venha a ser compelido, pela sua honestidade ideológica, a apoiar Lula.


Editorial

DESAFIO PARA BUSH

A sucessão de fraudes contábeis que abala a economia norte-americana é mais um sinal do fim da extraordinária década de prosperidade que foram os anos 90 do século 20. Um final inglório: incapazes de manter as taxas de crescimento e de lucratividade a que investidores e executivos julgavam ter direito adquirido, dirigentes de grandes empresas jogaram no lixo suas carreiras e a reputação de marcas conceituadas na tentativa de enganar o mercado.

O governo dos Estados Unidos corre agora para tentar corrigir os erros e recuperar parte da credibilidade perdida. Mas diante das medidas anunciadas pelo presidente George W. Bush em discurso no centro nervoso do capitalismo mundial, a mítica Wall Street, torna-se difícil negar a impressão de que trata-se de too little, too late — muito pouco e tarde demais, na sintética e expressiva definição da língua inglesa.

A presente crise ilustra de forma claríssima o quanto a saúde da economia depende não apenas de recursos materiais e da produção mensurável de bens e serviços, mas também de ativos intangíveis como a confiança no funcionamento dos mercados. Os escândalos que engolfaram a Enron, a WorldCom, a Xerox e outras referências da cultura empresarial moderna derivam, na essência, de um pecado contra a transparência cometido por seus dirigentes, ao tentar esconder dos investidores e analistas informações negativas sobre o desempenho das empresas. Pecado agravado pela cumplicidade dos auditores encarregados de atestar a fidedignidade dessas informações, configurando uma falha estrutural das instituições e das práticas que conformam o próprio sistema capitalista.

Diante desse quadro, um apertar de cravelhas nas técnicas contábeis e a punição mais severa dos executivos que quebram as regras são necessários, mas serão insuficientes para restaurar a confiança perdida. É indispensável sanear o ambiente empresarial norte-americano, que se descobre hoje tolerante em demasia com procedimentos eticamente duvidosos e complacente além da medida em relação a conflitos de interesses.

Uma década de exuberância irracional dos mercados sem dúvida alimentou esse relaxamento ético. A cultura do capitalismo turbinado, que atribui valor máximo à competitividade a qualquer preço, também terá contribuído para tal estado de coisas. Mas um terceiro fator, igualmente importante, parece mais difícil de ser encarado de frente pelo governo norte-americano: a confusão dos interesses das grandes empresas, financiadoras de campanhas eleitorais, e dos políticos que elas ajudaram a chegar ao poder.

Tal promiscuidade afeta em grau quase paralisante a disposição e a capacidade do poder público de exercer suas funções fiscalizadoras e reguladoras no interesse do bem público. E nesse aspecto, o Partido Republicano e o presidente George W. Bush têm muitas contas a prestar aos cidadãos de seu país. Resta-lhes agora provar que estão à altura do desafio.


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07/10/2002


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