Assembléia de Deus anuncia apoio à candidatura Serra









Assembléia de Deus anuncia apoio à candidatura Serra
Decisão de igreja, com 10 milhões de fiéis, fragiliza Garotinho

A Convenção Nacional das Assembléias de Deus anuncia hoje no Rio, num evento com a presença prevista de cerca de 6.000 pastores de todos os Estados, a adesão à candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) à Presidência da República.

O apoio é uma das principais conquistas da pré-campanha de Serra e uma derrota para o pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho.

O ex-governador do Rio tem como principal base eleitoral os evangélicos, cujo ramo majoritário no Brasil é a Assembléia de Deus. Ele não poderá se apresentar como único candidato com respaldo evangélico.

A Convenção Nacional afirma ter 10 milhões de fiéis, 27 mil pastores e 22 mil templos. Ela divide com outra entidade de porte semelhante, a Convenção Geral, o comando da Assembléia de Deus.

Este segundo grupo tem promovido reuniões com os presidenciáveis para decidir que posição tomar.

De Garotinho a Serra
O apoio ao tucano será anunciado às 14h pelo pastor Manoel Ferreira, presidente vitalício da Convenção Nacional.

Serra estará presente. Ligado ao deputado Francisco Dornelles (PPB-RJ), articulador da campanha serrista, Ferreira concorrerá ao Senado pelo PPB do Rio.

""Nosso apoio se deve ao compromisso de Serra com a estabilidade econômica". disse ontem Ferreira, 69. "Vamos conduzir o rebanho para este lado."

O pastor diz estimar que de 70% a 80% dos fiéis seguirão a orientação da cúpula.

Em julho do ano passado, Ferreira disse à Folha que deveria apoiar Garotinho: "É bem possível que a entidade decida recomendar o nome dele, orientando os fiéis e dizendo que ele é o candidato que mais se identifica com o segmento evangélico".

O pastor Dilmo dos Santos, membro do conselho político da Convenção Nacional, disse que "a igreja apoiou os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso".

"Decidimos que o melhor para o processo democrático do país é a continuidade. Numa situação como a da crise da Argentina e de grande populismo na Venezuela, consideramos José Serra mais centrado."

"Recém-convertido"
O pastor Santos afirmou ter "admiração" por Garotinho, mas preferir que ele tivesse tentado a reeleição a governador.

"Garotinho deveria firmar sua liderança. Em algum tempo ele vai estar preparado. Além disso, é um recém-convertido."

Há três meses, Garotinho pregou num culto da Convenção Nacional das Assembléias de Deus.
A Folha tentou ouvi-lo no fim da tarde de ontem, mas ele estava ocupado com uma gravação.

Garotinho se converteu à Igreja Presbiteriana (evangélica) em 1994, depois de se recuperar de um acidente de carro. Nas últimas semanas, tem participado de shows gospel promovidos por rádios evangélicas, com a presença de milhares de pessoas.

Serra, ao contrário, tem falado para públicos mais restritos, de lideranças. Sua agenda se concentrou em palestras em entidades empresariais.

Anteontem, nas comemorações do Dia do Trabalho, os pré-candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) discursaram para milhares de pessoas em atos sindicais realizados em São Paulo.
Garotinho falou num show gospel que reuniu pelo menos 20 mil participantes.

Serra fez apenas um corpo-a-corpo por cidades da Baixada Fluminense (RJ), sem ter feito um só discurso.


Para tucano, país deve retaliar protecionistas
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, defendeu ontem, em Ribeirão Preto (314 km de São Paulo), que o governo federal não compre produtos de países que impõem restrições comerciais ao Brasil.

"[O governo federal tem de endurecer] na OMC [Organização Mundial do Comércio" e em todos os fóruns. O Brasil precisa utilizar outros instrumentos. Por exemplo, nós vamos trazer para o Brasil um padrão de TV digital. Tem americana, européia e japonesa. Devemos escolher o padrão do país que eliminar barreiras comerciais contra o Brasil. Vamos comprar avião para Aeronáutica. Vamos tratar da questão do comércio exterior como uma questão de interesse nacional e ter claro que o comércio exterior envolve poder. Assim atuam EUA, Europa, Japão e assim tem de atuar o Brasil", declarou Serra.

Para o tucano, no entanto, isso não significa boicote. "Não sei como alguém pode deduzir isso. Nós temos de deixar de ser moralistas e jogar contra o Brasil. Comércio e investimentos não são coisas separadas. Não é nada contra nenhum país específico e nenhuma barganha, como se isso fosse uma palavra feia. É uma posição que todo mundo pratica. Defender interesses do Brasil. É tão simples assim", afirmou.

As declarações foram dadas durante visita do senador tucano à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação).

De acordo com Serra, EUA , Europa e Japão gastam US$ 1 bilhão por dia em subsídios à agricultura. Questionado se pretendia também dar subsídios à agricultura brasileira, disse que não.

Subsídios
Serra disse que "o Brasil não precisa do subsídio que tem nos Estados Unidos e na Europa. Ela [a agricultura nacional] já é produtiva naturalmente. O Brasil precisa que não discriminem contra a gente". Segundo o tucano, "o agronegócio é a melhor parte da economia brasileira".

Ele defendeu o fim do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre a fabricação de máquinas agrícolas. "[O IPI" arrecada pouco e, se for retirado, não traz um grande prejuízo", declarou o presidenciável.
Para Serra, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso fez mais pela agricultura brasileira que todos os outros governos juntos. "Estabilizou a economia, fez o programa de financiamento de tratores que todo mundo apóia tanto, fez a renegociação de dívida e tirou imposto de exportação. As coisas têm de ir sendo feitas. Fez muita coisa? Fez. Falta muita coisa? Claro que falta", disse o tucano.

À noite, Serra visitou FHC em seu apartamento em São Paulo. Depois de cerca de meia hora, saiu sem dar declarações aos repórteres que o esperavam.


Serra regionaliza discurso na TV
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o presidenciável do PSDB, José Serra, vai para a televisão nesta segunda-feira se mostrar como o pré-candidato conhecedor dos 27 Estados do país. Para isso, foram gravadas inserções, que variam de cinco a dez minutos, nos programas estaduais do partido. Serra gravou uma mensagem diferente para cada um dos Estados.

Os filmetes feitos pelos publicitários Nelson Biondi e Paulo César Bernardes têm como objetivo mostrar um candidato familiarizado com problemas regionais.

Para mostrar que conhece um Estado, por exemplo, Serra dirá que foi ministro do Planejamento e da Saúde. Já Rio de Janeiro e em Brasília, o tucano vai explorar o fato de já ter morado nos dois lugares. Em outros Estados, fala sobre as festas típicas da região.

O PSDB paulista cedeu em fevereiro o horário para Serra. Pretendia-se agora destinar todo o programa para o governador Geraldo Alckmin, que tenta a reeleição. Por ser o maior colégio eleitoral do país, os tucanos decidiram que Serra aparecerá por cinco minutos no Estado.


Serra agora decide aceitar indicação rápida do vice
Henrique Alves, um dos escolhidos pelo PMDB, deve compor chapa

Preocupado em criar um fato que torne consumada a aliança com o PMDB, o pré-candidato do PSDB à Presidência, o senador paulista José Serra, aceitou ontem indicar logo o seu vice, que deverá ser o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN).

Em conversa com o presidente do PMDB, Michel Temer, e o do PSDB, José Aníbal, Serra desistiu de adiar a escolha do vice, que era uma tentativ a do pré-candidato e de seus auxiliares de não engolir os preferidos da cúpula.

A direção do PMDB escolheu Henrique Alves, mas apresentou como segunda opção o ex-prefeito de Joinville Luiz Henrique. Serra preferia o senador Pedro Simon (RS) ou a deputada Rita Camata (ES), vetados pela cúpula por terem sempre jogado contra a aliança tucano-peemedebista.

Desde a semana passada, com a intervenção do presidente Fernando Henrique Cardoso, vem sendo articulado o enquadramento de Serra. FHC disse a ele que, se demorasse a indicar o vice e a costurar alianças estaduais entre PMDB e PSDB, poderia ver comprometida a aliança.

Desde então, Henrique Alves ganhou força. Além de preferido da cúpula, é do Nordeste, região onde Serra tem o pior desempenho nas pesquisas. O tucano é carimbado pelos adversários como um político que joga contra os interesses nordestinos.

Ontem, Aníbel foi um enfático defensor da indicação rápida do vice. Serra tem sido bombardeado pelo PFL, que argumenta que a demora na escolha é um indicador da fragilidade da aliança entre PMDB e PSDB.
Temer também disse que a escolha imediata tiraria Serra da defensiva. Mesmo com o segundo lugar nas pesquisas, a campanha está em crise. Apesar das negativas dos serristas, o tucano está tentando trocar de marqueteiro, não gosta da atuação do coordenador de campanha, o deputado Pimenta da Veiga (MG), e é visto como quem cria problemas a si mesmo devido a seu estilo.

Ontem, Serra fez uma última tentativa de emplacar Rita Camata. O prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Velloso Lucas, escudeiro fiel do tucano, defendeu a indicação da deputada.

O próprio Serra, na conversa com Temer e Aníbal, disse que achava bom esperar, por exemplo, a definição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Temer, porém, deixou claro que o nome de Henrique Alves uniria um maior número de seções estaduais do PMDB, dando garantia de que a aliança será selada na convenção oficial de junho.


PPS diz que aceno de Lula para atrair Ciro é "golpe sujo"
Líder afirma que partido foi já desprezado quando propôs união

A estratégia do PT de tentar um acordo com o presidenciável Ciro Gomes no primeiro turno da eleição repercutiu mal no PPS. O líder do partido na Câmara, João Herrmann Neto (SP), disse que a iniciativa dos petistas "é um dos golpes mais sujos da campanha". A cúpula do PPS nega que Ciro Gomes vá desistir da disputa.

O comando da campanha presidencial do petista Luiz Inácio Lula da Silva quer aproveitar a crise na Frente Trabalhista (PDT, PTB e PPS), que apóia Ciro, para tentar convencê-lo a desistir e a apoiar Lula no primeiro turno.

A avaliação do PPS é que o PT tenta desestabilizar a pré-candidatura de Ciro, aproveitando-se da crise na frente, porque teme enfrentá-lo no segundo turno. "Ciro e Lula no segundo turno é a última coisa que eles [petistas" querem", disse Herrmann.

Para a cúpula do PPS, Lula prefere enfrentar o tucano José Serra no segundo turno, porque reuniria a oposição. No caso de uma disputa com Ciro, para a cúpula do PPS, o petista ficaria isolado contra os demais partidos.

Há cerca de um mês a coligação PPS, PDT e PTB enfrenta sérias divergências internas. Primeiro foi o veto do PPS a uma possível aliança com o PFL. Depois, o do PDT à candidatura de Antônio Britto (PPS-RS) a governador. Por último, a decisão de PTB e PDT de se coligarem nos Estados -dando início a eventual processo de fusão- sem incluir o PPS.

O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), descartou a possibilidade de Ciro desistir e negou a tentativa de aproximação com o PT. "Só se for para eles nos apoiarem no segundo turno."

Segundo Herrmann, o PPS fez inúmeras tentativas de se aproximar do PT, mas não teve sucesso. "Há quatro anos, eu e Ciro procuramos Lula e José Dirceu [presidente do PT" com a proposta de união das oposições. Fomos desprezados. Agora não há mais possibilidade de conversa", disse.

Para ele, o PT age com "prepotência" ao cogitar que Ciro desista e se alie a Lula no primeiro turno. Dizendo falar em nome de Ciro, o líder classificou a estratégia de "vergonhosa" e "equivocada". "Isso é muita petulância. "Vinde a nós o vosso reino" é na Bíblia, não em política. O ato do PT é equivocado, para não dizer presunçoso."


"Sonho"
O vice-presidente do PT, deputado José Genoino (SP), disse que o partido defende a unidade da oposição, mas que não agirá para prejudicar a pré-candidatura de Ciro. "O PT respeita a candidatura do PPS e não fez nem fará movimento algum para desestabilizá-la. Queremos manter com o PPS e com o Ciro Gomes uma relação de alto nível. Não vamos entrar em polêmica com o PPS nem com Ciro Gomes."

Segundo Genoino, o "sonho" de Lula e do PT é a união da oposição no primeiro turno. Para o secretário de Relações Internacionais do PT, deputado Aloizio Mercadante (SP), ela garantiria a vitória no primeiro turno e a eleição da maioria do Congresso e dos governadores. "O PT tem o direito de lutar por isso. Mas acho também que os outros partidos têm o direito de ter candidato próprio", disse Mercadante.


Brizola vê insanidade em tirar candidatura
O presidente do PDT, Leonel Brizola, disse à Folha que será "uma insanidade" se o PPS retirar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência. Ainda que mantendo restrições a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Brizola considerou "elogiável" que Lula tenha acenado com a união das esquerdas. Leia a seguir trechos da entrevista:

Folha - A frente continua?
Leonel Brizola - A frente é uma coligação em torno de uma candidatura que, se houvesse vestibular para candidato, seria a única que passaria, a de Ciro. Em torno dessa candidatura não há divergência. Sobre o PDT e o PTB? Igualmente. O único problema é o Rio Grande do Sul, onde o mar está um pouco mais agitado. Mas nós do PDT estamos tranquilos. Esperamos que o PTB siga a aliança nacional. Essa é a base partidária da candidatura Ciro no Rio Grande do Sul. O PPS, a rigor, não existe no Estado como partido.

Folha - Caso a candidatura de Antônio Britto (PPS-RS) inviabilize a frente, como fica Ciro?
Brizola - Olha, o Ciro está filiado ao PPS. Neste momento ele é candidato do PPS, apoiado por nós. A partir das convenções dos três partidos ele deixará de ser candidato apenas do PPS. Isso quer dizer que se o PPS cometer essa insanidade de fazer uma convenção e retirar a candidatura Ciro, inviabilizaria a coligação.

Folha - Há quem diga que o caso Britto é o pano de fundo de uma movimentação do PPS para retirar a candidatura. Isso é possível?
Brizola - Prefiro acreditar na boa prática partidária.

Folha - O PT tem aproveitado essa situação para fazer acenos a Ciro. É possível essa aproximação?
Brizola - Qualquer pessoa justa, de bom senso, não poderia deixar de considerar a atitude do Lula inteligente, elogiável. Numa hora em que ele está bem, está lançando a bandeira da união. Isso é sempre simpático. Não se sabe se haverá colheita.

Folha - O sr. acredita na possibilidade de sucesso?
Brizola - Depende de como se encontram as restrições ao PT e ao Lula.


Lula vai para quarta derrota, afirma Freire
Mesmo após as decisões das executivas do PDT e do PTB de excluir o PPS das alianças nos Estados, o presidente nacional do partido, Roberto Freire, permanece confiante no restabelecimento da unidade da Frente Trabalhista. Freire considera a crise no Rio Grande do Sul um fato isolado, que não deve influenciar nos rumos da aliança.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha - A Frente Trabalhista tem futuro?
Roberto Freire - Sem dúvida alguma. Fora o Rio Grande do Sul, em qual outro Estado a frente tem problemas sérios?

Folha - Ciro emplaca sem a aliança?
Freire - Isso é uma situaç ão completamente irreal, que não vai acontecer de forma alguma. O que a nota dos dois partidos (PDT e PTB) diz? Que vai apoiar Ciro Gomes. Acho que o principal objetivo da nota do PDT e PTB foi definir uma fusão entre eles, que já estão trabalhando como um único partido.

Folha - É possível uma aproximação de Ciro com o PT?
Freire - Qual é a nota assinada por Brizola e Martinez? A nota diz: vamos apoiar Ciro Gomes. Além disso, nós já fomos sem ninguém em 98. Para nós não há problema em ir com a frente ou sem a frente. Só que ninguém está discutindo o apoio a Ciro, o que está se discutindo é a exclusão do PPS em alianças regionais.

Folha - Se Ciro não for candidato, seu partido prefere Lula, Garotinho ou Serra?
Freire - Não vou nem discutir isso. Tenho o candidato que tem as melhores chances de derrotar o governo. A pergunta é quase uma agressão. Pergunte a Lula, se ele não fosse candidato, em quem votaria? Ciro é o candidato com maiores chances, e Lula está caminhando, e bem, para a quarta derrota.

Folha - O que o sr. acha de o PPS do Rio Grande do Sul ter lançado Antônio Britto como candidato a governador?
Freire - Minha posição é pelo esforço da unidade. Mas, infelizmente, não posso fazer nada além de dar minha opinião.


Para Martinez, frente vai dar muito trabalho
Presidente do PTB, José Carlos Martinez afirma que, mesmo em litígio com o PPS, PTB e PDT manterão o apoio à candidatura do presidenciável. ""Problemas temos muitos, mas perigo de romper, nada. Agora, que vai dar muito trabalho daqui até lá, vai."

Segundo ele, PTB e PDT começam já na próxima semana a negociar as alianças entre os dois partidos nos Estados. E as conversas incluirão o PFL.

Folha - Como estão as relações entre PTB, PDT e PPS?
José Carlos Martinez - Hoje conversei com Leonel" Brizola e vi as notícias de Porto Alegre. Acho que o PPS está procurando o caminho que ele está criando.

Folha - Mas o PPS fala em recuo, já que antes havia veto às alianças com o partido nos Estados.
Martinez - Não é recuo. Antes a coligação com o PPS era obrigatória, o que o beneficiava.

Folha - A Frente está ameaçada?
Martinez - De forma alguma.

Folha - É possível PTB e PDT de um lado e PPS de outro na eleição?
Martinez - É certeza. Eu e o Brizola nos damos muito bem. A gente vivia às turras com o Freire, agora está uma maravilha.

Folha - Estão brigados de vez...
Martinez - Nem nos falamos mais [depois de anteontem, quando os três chegaram a trocar recados". Acho que o Freire está alheio ao jogo, deixando correr solto no Sul. Eles vão ficar sozinhos. Têm uma opção clara. Podem se unir ao PFL [Antônio Britto negocia aliança com a sigla".

Folha - Há boatos sobre a desistência de Ciro da disputa.
Martinez - Ri" Tudo piada.

Folha - O que sr. acha sobre uma possível aproximação Ciro e PT?
MartinezNão sei disso.

Folha - O sr. pode deixar Ciro?
Martinez - O PTB não sai em nenhuma circunstância.

Folha - Então o sr. está tranquilo.
Martinez - Muito. Problemas temos muitos, mas perigo de romper, nada. Agora, que vai dar muito trabalho daqui até lá, vai.

Segunda-feira, começo com o PDT a montar os Estados. Vamos procurar coligações com o PFL em muitos deles.


PL diz que apóia Lula "de qualquer maneira"
Partido diz que contornou entraves a aliança com PT em vários Estados e espera fechar acordo ainda em maio

O presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, disse ontem que seu partido apoiará "de qualquer maneira" a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência: "Vamos com ele de qualquer maneira, de preferência com uma aliança formal, que eu considero bastante possível. Se não der coligação, vamos apoiar politicamente o PT e entrar com tudo na campanha", disse.

O PL espera solucionar nas próximas duas semanas os entraves regionais que impediriam uma coligação nacional com o PT. Ontem, questionado em Erechim (RS), Lula disse que ainda não há qualquer coligação confirmada.

Na próxima semana, a cúpula do PL se reúne em Brasília com representantes dos "Estados-problema" -locais em que as duas legendas estão em campos opostos- para costurar o apoio à aliança. Nos últimos dias, os principais dirigentes dos dois partidos voltaram a se mostrar otimistas com a possibilidade de indicar o vice de Lula, que poderia ser o senador José Alencar (MG).

A aliança das duas legendas estava praticamente fechada até que a verticalização das coligações atrapalhou o processo. Diferenças entre as legendas nos Estados comprometiam a padronização imposta pela Justiça. Fatos novos, porém, voltaram a aproximar as duas siglas. Está praticamente resolvida a situação nos principais colégios eleitorais. Em São Paulo, PT e PL lançam cada um seu candidato próprio. Em Minas Gerais, caminhariam juntos.

No Rio, onde as relações entre as legendas são frias, a situação é um pouco mais complicada. Mas desenha-se uma saída em que o PL lançaria chapa separada do PT à Câmara dos Deputados. Dos 26 Estados mais o Distrito Federal, há solução encontrada ou bem encaminhada em 20, de acordo com estimativa da cúpula do PL.

"As coisas estão conspirando para que ocorra a coligação", disse o presidente do PL-SP, Luiz Antônio Medeiros, que coloca a possibilidade de coligação formal em mais de 90%. Já Costa Neto, presidente nacional, considera que é de 50%. O senador Alencar, um dos mais entusiasmados, tem dito a interlocutores que a aliança está bastante próxima.

Para que as tratativas dêem resultado, o PL conta com o apoio dos petistas. Costa Neto e Alencar têm conversado rotineiramente com o presidente do PT, José Dirceu. Apesar da resistência de grande parcela do PT, a direção petista não abre mão da coligação. "É muito importante o fato de que o PL continua interessado no apoio ao Lula. Mas há diferenças importantes nos Estados. Para haver casamento, é preciso muito namoro ainda", disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha.

Em Estados em que não houver possibilidade de aproximação, a saída seria as siglas estarem separadas na eleição, mas com um pacto de não-agressão.

Será preciso muito trabalho, no entanto, para controlar os petistas em locais como o Amazonas, onde o prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento (PL), é o inimigo número 1 do partido de Lula. Há ainda problemas a serem resolvidos em Estados como Amapá e Pará.

Outros possíveis entraves, como a antiga rejeição da Igreja Universal do Reino de Deus -que controla parte do PL- a Lula, foram resolvidos.

Para os petistas, o apoio do PL é vital, principalmente se fracassar na tentativa de atrair aliados outrora tradicionais, como o PSB, o PDT e o PPS.


Artigos

Jenin é aqui
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Deve sair hoje o Mapa da Violência no Brasil, preparado em conjunto com a Unesco, a agência das Nações Unidas que cuida de educação e cultura.

Espero que os brasileiros que ficaram comovidos (justamente, aliás) com o que viram pela TV a respeito do campo de refugiados palestinos de Jenin se comovam agora -e muito mais- com o retrato de uma violência insuportável que aparecerá nos números do mapa.

Suspeito, no entanto, que não vá haver tamanha comoção. Parece que o gotejar diário de notícias sobre mortes violentas, sequestros, balas perdidas, chacinas -enfim, o escandaloso cotidiano das grandes e médias cidades brasileiras- acabou por anestesiar a sociedade.

Prova-o a reação de Rodrigo Salinas, cujo pai, o professor de física geral da USP Sílvio Salinas, foi baleado na terça-feira por três assaltantes e perdeu a visão do olho direito.

Ouvido pela TV, Rodrigo disse que, nas circunstâncias, conseguia até enxergar um lado positivo: o pai perdera um olho, mas não a vida, mesmo depois de um disparo à queima-roupa em pleno rosto.

Suspeito que eu também reagiria como Rodrigo em circunstâncias iguais ou parecidas. Mas é uma rendição incondicional à criminalidade, é abandonar pelo menos um pedaço da cidadania.

Antes, dava-se graças a Deus quando um caso do gênero produzia apenas perdas materiais. Depois, passou-se a dar graças a Deus quando os danos físicos e mentais eram leves. Agora, chegamos ao extremo de dar graças a Deus se a perda é de um olho, mas não da vida.

Logo mais, nós nos daremos por felizes se for morto apenas um dos membros da família, mas os outros escaparem. Detalhe macabro: em partes da periferia, já é assim ou pior.
Em Jenin, pelo menos, morre-se por uma causa. É menos estúpido.


Colunistas

PAINEL

Virou epidemia
A taxa de assassinatos no Brasil entre jovens de 18 a 24 anos cresceu de 30 (em 1980) para 52,1 (em 2000) em cada grupo de 100 mil habitantes. O dado integra o Mapa da Violência 3, a ser divulgado hoje pelo Ministério da Justiça e Secretaria de Estado de Direitos Humanos.

Idade do perigo
O estudo, feito pelo escritório da Unesco em PE, concluiu que os avanços da violência homicida no país são explicados "exclusivamente" pelo aumento dos crimes contra jovens. No restante da população, a taxa de homicídio caiu um pouco, de 21,3 para 20,8 entre 1980 e 2000.

Descompasso trágico
Nas capitais brasileiras, 43% das mortes entre jovens são causadas por homicídios. Na população total do país, os assassinatos são responsáveis por 4,7%.

Menos mal
Mas nem todas as notícias são ruins para o país no estudo da Unesco: as mortes em acidentes de trânsito caíram 10,7% entre 1991 e 2000. A taxa global de mortalidade caiu de 633 para 573 em cada grupo de 100 mil habitantes entre 1980 e 2000.

Audiência prévia
Os estrategistas de Serra queriam assistir ao programa do PMDB, veiculado ontem, antes de ser levado ao ar. Para "afiná-lo" com o discurso do tucano. Não puderam. O PMDB não enviou uma cópia do programa, feito às pressas porque o TSE não autorizou o adiamento.

Governismo total
Nizan Guanaes aconselhou José Serra, em conversa telefônica nesta semana, a colar seu discurso ao governo FHC. Para o marqueteiro, essa é a melhor estratégia para o presidenciável tucano chegar ao segundo turno.

Ter o que dizer
José Serra disse a Nizan Guanaes que concorda com a sua avaliação, mas considera que o governo precisa criar notícias positivas para alavancar sua campanha presidencial. Caso contrário, a total identificação com FHC poderá desgastá-lo.

Queda-de-braço
Os planos privados de saúde pressionam o governo a aumentar em cerca de 15% as mensalidades. O Ministério da Saúde não aceita mais do que 5%.

A conferir
Collor avisou a correligionários que disputará o governo de Alagoas, em vez do Senado. Em 15 dias, pretende começar a percorrer o Estado. De helicóptero.

Desvio de rota
A estratégia de PDT e PTB baterem de frente com Roberto Freire, presidente do PPS, foi combinada previamente com Ciro. O objetivo é fragilizar o senador para tirá-lo da coordenação da campanha presidencial.

Em flagrante
ACM ameaça tirar Inocêncio Oliveira da liderança do PFL na Câmara. Acusação: trabalhar em favor da candidatura Serra.

Marcação cerrada
Pimenta da Veiga, coordenador da campanha de Serra, esteve ontem em Uberaba (MG) com Bornhausen. A cúpula do PMDB não gostou da reunião e vai insistir na substituição de Pimenta. Acha que o tucano trabalha para colocar o PFL na vice.

Saúde pessoal
O presidenciável Anthony Garotinho (PSB-RJ) vem sofrendo constantes crises de labirintite.

Bala perdida
A cúpula do PT procurou Benedita da Silva para mostrar preocupação com as constantes cenas de violência em morros do Rio de Janeiro. O partido teme que uma crise de segurança em um governo petista prejudique a candidatura de Lula.

Visita à Folha
Miguel Reale Junior, ministro da Justiça, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de André Lozano, assessor especial do ministro.

TIROTEIO

Do senador José Jorge (PE), ex-ministro de Minas e Energia, sobre FHC ter dito que a pressão do PFL para o PSDB trocar de candidato é "para rir":
- Esse negócio de manter a candidatura Serra é para chorar!

CONTRAPONTO

Paixão política
O ex-governador Leonel Brizola (PDT) contou, dias atrás, como fez para se aproximar de Neusa Brizola, que morreu em 1993. Em 1946, numa reunião no Rio com cerca de 150 integrantes da Ala Moça (jovem) Trabalhista do PTB, a única mulher era Neusa, representante do partido no Rio Grande do Sul.
Brizola, que presidia o encontro, ficou imediatamente atraído pela beleza de Neusa.
- Eu pensei na hora: "O que eu vou fazer para chamar a atenção dessa mulher?" - contou Brizola na semana passada.
Interrompendo algum debate acalorado, o ex-governador teve uma idéia. De repente, pediu a palavra e anunciou a todos:
- Nós tivemos um problema com o fichário. Precisamos atualizar os nomes e endereços de todos vocês. Um por um, por favor, façam uma fila...
Brizola pôde conhecer Neusa. Viveram juntos quase 50 anos.


Editorial

OS SEM-CRITÉRIO

"A bola é minha e por isso eu escolho quem vai jogar em qual time e também sou eu quem vai dizer quando o jogo acaba". É um pouco nessa típica reação infantil que incorre o Ministério do Desenvolvimento Agrário ao mudar as denominações do programa de reforma agrária de modo a transformar "cadastrados" em "assentados".

O ministério não é o "dono da bola", mas detém a caneta que assina as portarias. E foi por meio de uma portaria, baixada quatro dias depois de esta Folha ter publicado a primeira de uma série de reportagens demonstrando que a pasta vinha inflando os números da reforma agrária, que o ministro José Abrão resolveu oficializar a maquiagem.

Segundo a portaria, a MDA/Nº 080 -24/04/2002, o "assentado" passa a ser definido como "o candidato inscrito que, após ter sido entrevistado, foi selecionado para ingresso" no programa de reforma agrária. Pelo critério anterior, uma família só deveria ser considerada assentada quando tinha seu lote demarcado, recebia infra-estrutura básica (água, luz e esgoto) e créditos para construir casas e comprar alimentos, entre outros benefícios.

Pelas novas definições estabelecidas, a área em que o assentado será instalado nem precisa estar em mãos do governo. Basta que seja "terra identificada, incorporada ou em processo de incorporação" ao programa de reforma agrária.

Essa "canetada" do ministério, em que pese sua singelez e transparência, ficaria bem num romance do realismo fantástico sobre a pouca seriedade de certos regimes políticos da América Latina. Ela não se coaduna, entretanto, com um governo que se pretende sério e que proclama estar realizando a maior reforma agrária da história do Brasil.


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05/03/2002


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