Ateliê explora habilidades artísticas e intelectuais de crianças
Curso gratuito de artes plásticas da USP ensina música, fotografia, teatro e dança
Um caderno de desenho com a cara do dono foi o primeiro trabalho dos jovens alunos do Ateliê de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Eles começaram a confeccioná-lo dobrando folhas de cartolinas de várias cores. Terminada a dobradura, costuraram as páginas. Para essa tarefa, as crianças de 7 a 12 anos utilizaram técnicas de costura simples, encadernação e revestimento de lombada. Por último, produziram a capa com tecido escolhido por eles mesmo. Foram muitas aulas para finalizar a produção, mas o resultado – material pessoal e personalizado – é exibido com satisfação e orgulho.
Mostrando desenhos de gatos, cachorros, árvores e flores, Beatriz Buffalo diz que “adorou” fazer o caderno. Isabella Calafatis, dez anos, diz que gostou “de tudo”. De usar agulha para costurar as páginas, escolher o tecido e enfeitar. Felipe Yoshio Martins Tsutsui, oito anos, teve de conter a ansiedade de “mexer com tintas” para se concentrar na produção do caderno. Fã de desenhos relativos ao filme Star Wars, disse ter gostado muito da experiência e já fez algumas ilustrações.
Antes da elaboração do produto, os alunos conheceram cadernos de artistas plásticos da ECA, seus trabalhos e os materiais utilizados, relata Adriana Siqueira, professora do ateliê e graduanda em artes plásticas. “Faz muita diferença a criança produzir o seu próprio caderno. A relação que estabelece com ele é outra. Ela leva para casa e têm liberdade de criação já que são instrumentos de registros de seu aprendizado”. Das visitas aos ambientes internos da universidade, Beatriz se encantou com a produção de máscara mortuária.
Ritmo, pulsação – Além de mostrar todo o processo de produção artesanal, a integração de habilidades manuais, artísticas e intelectuais faz parte do projeto de propiciar amplo leque de experiências aos jovens, explica a professora Sumaya Mattar, uma das coordenadoras do ateliê. Ela ressalta que o curso gratuito não tem o intuito de ensinar técnicas de desenho, pintura, gravura ou escultura. A idéia é oferecer ambiente estimulante e próximo ao que os artistas experimentam para que as crianças tenham contato com a arte e suas variadas formas de expressões.
Por isso o curso (que começou em agosto e seguirá até o início de dezembro) inclui atividades de contos, música, fotografia, teatro e dança. O ateliê foi concebido a partir da necessidade de oferecer formação prática aos estudantes do último ano do curso de licenciatura em Artes Plásticas, que atuam como professor do ateliê, sob a supervisão e coordenação de duas professoras do departamento, a Sumaya e a Christina Rizzi. Todo o material, infra-estrutura e pessoal de apoio são provenientes do Programa de Formação de Professor da USP.
Depois dos trabalhos em sala, há visitas aos museus da universidade e aos espaços naturais do entorno. “Além de integrar experimentações ricas, mobilizamos também os conhecimentos dos graduandos”, observa Sumaya. Na aula de tambor, por exemplo, as crianças têm contato com o instrumento e são estimuladas a perceber ritmos, pulsação, gestos e tempo, conta Ivan Chaer, músico e graduando em Artes Plásticas. “Expliquei conceitos básicos de música como grave/agudo, baixo/alto, ritmo”.
Personalidade – A aula ocorreu em ambiente externo e arborizado para deixar os alunos à-vontade e mais abertos a novas percepções, explica Ivan. Tocando vivamente o tambor, Isabella disse que “ama música e artes”. Embora as crianças não façam a relação e a transposição dos conceitos de música para artes plásticas como os adultos, a experiência com a natureza, os instrumentos e outros elementos presentes ficam registrados nos desenhos e trabalhos propostos em seguida, salienta a graduanda Camila Boranga. “Nós damos um pouco de corda (elementos, propostas, sensibilizações) e as crianças naturalmente fazem arte. Elas experimentam à-vontade porque não têm medo de errar”.
O diferencial desse curso em relação aos tradicionais começou desde o primeiro dia de aula. Em vez da apresentação tradicional de cada aluno para a classe, ele foi convidado a dizer quem era confeccionando um crachá. Os professores deixaram materiais (papel, caneta, tesoura, cola, barbante) disponíveis e os jovens decidiram como fazer a identificação. “Pelos crachás dá para perceber traços da personalidade de cada aluno, o que ajuda na interação”, comenta Camila.
O curso não tem proposta pedagógica fechada. É construído a partir de teorias sobre o assunto, pesquisas, registro das experiências, anotações, observação dos alunos e discussão ao final de cada aula (com duração de 1h30, às terças-feiras, pela manhã e à tarde) com as coordenadoras e graduandos, informa Sumaya. Na turma da manhã, estudam 15 alunos acompanhados de três professores; na da tarde, 16 crianças e quatro futuros artistas plásticos. O curso, que começou como programa-piloto no primeiro semestre do ano, teve as inscrições esgotadas antes do prazo, tamanha foi a procura.
SERVIÇO
Curso gratuito para crianças de 7 a 12 anos residentes em São Paulo
Departamento de Artes Plásticas da ECA/USP
Avenida Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443
Cidade Universitária – São Paulo
Manhã: das 9 às 10h30
Tarde: das 14h30 às 16 horas
Novas inscrições estarão abertas em 2009
Haverá divulgação pelo site www.usp.br
Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
10/29/2008
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