Atriz e poeta, Elisa Lucinda diz que é preciso tornar a poesia acessível
A atriz e poeta Elisa Lucinda, que vem realizando um trabalho de popularização da poesia em comunidades em diversos pontos do país por meio de oficinas em que o fazer poético é desmistificado como literatura falada, afirmou que "é hora de mudar essa prosa". Para Elisa Lucinda, o processo de memorização precisa deixar de ser "um monstro, um cancro" na vida das pessoas. A afirmação foi feita ao comentar, em entrevista por telefone à Agência Senado, sua indicação para o Prêmio Bertha Lutz por sua atuação em prol da causa feminina.
- Tem gente que não sabe dar um depoimento sobre a sua própria vida. Um homem com um discurso inteiro é um homem mais inteiro, mais seguro - assinalou.
Para Elisa Lucinda, é melhor investir em poesia, instrumental que os professores já têm à disposição nas escolas do que, por exemplo, investir na compra de uniformes de futebol.
Elisa Lucinda disse estar "lisonjeadíssima" com a indicação para o prêmio, acrescentando que é a constatação de que sua obra representa "algo mais que uma sala de teatro", tendo um caráter de cidadania. Para a artista, a arte deve estar comprometida com seu tempo
- O meu olhar, a minha poesia e meu pensamento estão em tudo que eu toco - disse.
A artista inaugurou recentemente no Rio de Janeiro a Casa Poema, voltada para o treinamento de professores da rede pública em "poesia falada", em que a literatura é vista como arte, e a poesia é tratada como instrumento de auto-conhecimento e de reconhecimento do ser. Esse trabalho já é desenvolvido desde 2001, quando, em parceria com o Banco Real, treinou professores da rede pública de ensino.
Quando falou com a Agência Senado, Elisa estava no Espírito Santo em uma oficina de poesia falada com uma comunidade da periferia, num trabalho com 40 jovens que atuam em circo, vídeo, break dance e banda de corpo há dez anos.
Fã e amiga da ministra Nilcea Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, responsável por sua indicação, Elisa Lucinda comentou o trabalho realizado em 2008 com mulheres das cidades-satélites de Brasília, levadas a um teatro por ocasião das comemorações do Dia Internacional da Mulher, para ouvirem um recital seu.
- Foi emocionante. Era a primeira vez que elas estavam em um teatro - disse Elisa Lucinda.
A atriz recordou ainda que, em 2007, participou, numa parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e com outros atores e intérpretes, de evento no Canecão com o objetivo de divulgar a Lei Maria da Penha , o qual considerou "uma festa de cidadania".
Mulher negra
Intitulando-se "humanista e libertária", Elisa Lucinda disse que a mulher negra surge a todo momento em sua poesia. Ela não se auto-intitula militante da causa negra, mas da causa humana, e diz ser contrária a todas as formas de "cárcere privado" como aquele imposto pela sociedade de consumo.
- Não gosto de estados de escravidão, seja a oficial, do senhor feudal, seja a dos cárceres pessoais, privados, por limitação da nossa sociedade de consumo que acha que você vai ser feliz se tiver o carro do ano - exemplificou.
A poeta também não escreve particularmente sobre a violência contra a mulher que, conforme explicou, aparece de forma sutil em sua poesia. O contato com os movimentos feministas ocorre, na sua avaliação, porque o discurso poético é capaz de traduzir os sentimentos da alma humana.
Currículo
Elisa Lucinda nasceu em Vitória (ES), em 1958, onde se formou em jornalismo e chegou a exercer a profissão. Em 1986, mudou-se para o Rio, com o objetivo de seguir a carreira de atriz. Trabalhou em algumas peças, como Rosa, um Musical Brasileiro, sob a direção de Domingos de Oliveira, e Bukowski, Bicho Solto no Mundo, sob a direção de Ticiana Studart. Integrou, ainda, o elenco do filme A Causa Secreta, de Sérgio Bianchi.
O espetáculo O Semelhante, em que se apresenta declamando versos e conversa com a platéia, estreou no Rio e teve temporadas de sucesso em várias capitais. No mesmo formato apresentou Euteamo Semelhante, também com excelente receptividade. Publicou, entre outros, os livros A Menina Transparente, Euteamo e suas estréias, O Semelhante e a Coleção Amigo Oculto (trilogia infantil). Gravou os CDs de poesias Semelhante e Euteamo e suas Estréias.
05/03/2009
Agência Senado
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