Audiência pública discute liberação do milho transgênico no Brasil



Especialistas em organismos geneticamente modificados, agricultores, empresários e representantes da sociedade civil discutem, em audiência pública que está sendo realizada nesta terça-feira (20), no prédio do Interlegis, a liberação comercial do milho transgênico. O evento é organizado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela análise do processo do liberação do produto no país.

Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Ernesto Paterniani, especialista em milho geneticamente modificado, esse tipo transgênico tem demonstradoresultados bastante positivos tanto para o agricultor como para o meio ambiente e a saúde, principalmente na redução do uso de agrotóxicos, o que possibilita também a utilização de menor número de embalagens descartáveis e de combustível.

- Estamos diante de uma produção que atende aos anseios da sociedade - afirmou Paterniani.

A mesma opinião tem o presidente da Comissão Interna de Biossegurança da Bayer, Denis Lima,doutor em Biologia Vegetal. Ele defendeu a utilização de um herbicida da empresa - o glufosinato de amônio - na variação de milho transgênico denominada T25, que, segundo ele, é comprovadamente tão seguro quanto qualquer outro milho comercial.

- O glufosinato de amônio mata as plantas daninhas sem afetar a plantação. O produto não deixa resíduos no solo e favorece ainda a rotação de culturas - defendeu.

Para o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), que foi o relator da Lei de Biossegurança na Câmara, o debate proporcionado pela audiência pública é muito saudável por permitir que se ouçam todas as opiniões sobre o assunto. Ele defende que o milho transgênico seja liberado, especialmente porque, como informou, o Brasil está perdendo mercado para países como a Argentina e os Estados Unidos, que já comercializam o produto.

- O milho transgênico já é um produto consagrado, mas ainda enfrentamos, no Brasil, problemas com a liberação legal do produto - informou Darcísio Perondi.

Já na opinião da engenheira agrônoma e consultora da Via Campesina, Ângela Cordeiro, é preciso analisar com cautela, sem pressa e com rigor a liberação dos transgênicos para que o Brasil possa ter informações consistentes antes de tomar qualquer decisão. A Via Campesina é um movimento internacional que coordena organizações camponesas de pequenos e médios agricultores, trabalhadores agrícolas, mulheres rurais e comunidades indígenas e negras da Ásia, África, América e Europa.

- É preciso fazer um trabalho rigoroso de acompanhamento e revisão de tudo produzido pela ciência em termos de contaminação e pragas - alertou a engenheira, que reclamou da falta de existência, no Brasil, de um sistema independente de informação sobre os produtos geneticamente modificados.

Efeitos colaterais

Contrário à liberação do milho transgênico no Brasil, o professor aposentado do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e representante do Comitê de Ética na Pesquisa da Escola de Saúde Pública do Estado, Flávio Lewgoy, destacou que, ao contrário do que afirmam os defensores da liberação comercial do milho transgênico, existem pesquisas realizadas com animais que apontam efeitos colaterais no consumo de produtos geneticamente modificados, principalmente a soja.

Para Lewgoy, é fundamental que, antes da liberação comercial do milho geneticamente modificado, haja uma avaliação rigorosa do produto nos mesmos moldes do que ocorre com os testes realizados com novas drogas farmacêuticas.

- Há bons e maus transgênicos. Mas faltam monitoramento e pesquisas de laboratórios rigorosas para darem respaldo a trabalhos científicos- denunciou.

Para a coordenadora do organização não-governamental (ONG) Greenpeace, Gabriela Vuolo, o problema da audiência pública é que ela não está discutindo a liberação planejada do milho transgênico, mas, sim, a liberação para fins comerciais. Gabriela disse ainda que não é verdade que os produtos transgênicos necessitam de menos agrotóxicos.

- A longo prazo, há um aumento na utilização de agrotóxicos e contaminação genética do produto. Por isso, e pela falta de estudos conclusivos na área de saúde, é preciso adotar o princípio da precaução - sugeriu.

20/03/2007

Agência Senado


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