Avanços políticos definirão tempo de presença brasileira no Haiti, diz Celso Amorim
Os próximos seis meses serão um período decisivo para se definir a duração da permanência de tropas brasileiras no Haiti, disse nesta quinta-feira (2), em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Para que os soldados fiquem no país depois disto, anunciou, será necessário que o governo provisório do Haiti demonstre abertura em relação a todos os setores da sociedade e a todas as correntes políticas.
- Não adotamos um prazo fixo para permanecer no Haiti, mas se os primeiros seis meses foram de aprendizado, os próximos serão um teste para ver se as coisas estão caminhando na direção certa - disse Amorim, em resposta a questionamento apresentado pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM) durante a audiência.
Na opinião do senador, a missão brasileira no país caribenho se justifica pela solidariedade hemisférica e humanitária, "apesar dos muitos Haitis que existem aqui". Ele advertiu, porém, que a possível morte de um soldado brasileiro levaria a população a questionar de imediato a operação. Além disso, observou, a assistência internacional será inútil enquanto não houver uma recuperação institucional no Haiti.
Amorim lembrou que, desde o início, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretendia promover ali uma operação diferente das que já haviam sido realizadas por outros países. A participação brasileira, explicou o ministro, deveria levar em conta tanto o aspecto de manutenção da ordem quanto o de recuperação institucional, econômica e social. O problema de segurança no Haiti, disse ele, "não se resolve só com presença militar".
Em relação à reconstrução política do país, Amorim considerou positiva a prometida realização de eleições no final do ano que vem, mas considerou necessária a promoção de um diálogo amplo com todas as forças políticas do Haiti, inclusive os seguidores do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
Ele citou como contribuições à reconstrução econômica e social do país acordos feitos nas áreas de agricultura, saúde e educação entre os dois países. Em breve, adiantou, serão distribuídos às crianças haitianas cadernos e lápis com as bandeiras e os mapas de Brasil e Haiti. Os progressos nesses dois setores - político e social - foram classificados por ele como muito importantes para a definição do período de permanência das tropas.
Durante a audiência, o senador Cristovam Buarque (PT-DF) quis saber se havia críticas à atuação brasileira por parte de outros governos. Amorim respondeu que o Brasil tem contado com apoio latino-americano, mas nem sempre de países mais desenvolvidos, que, a seu ver, preferiam uma "ação mais robusta do ponto de vista militar".
O ministro adiantou ainda que o governo enviará em breve ao Senado um pedido de autorização para a concessão de empréstimo-ponte ao Haiti, para que o país possa dispor de contrapartida para obter financiamentos do Banco Mundial para a área social.
Brasileira
O senador Hélio Costa (PMDB-MG) solicitou a Amorim o apoio do Itamaraty à família da brasileira Maria Raimunda Ribeiro, cujo corpo acaba de ser identificado por autoridades norte-americanas. Mineira de Poços de Caldas, com 54 anos, ela morreu em julho ao tentar atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, onde vivia por mais de 10 anos. Embora casada com norte-americano e mãe de dois filhos nascidos lá, Maria não obteve visto para voltar ao país, depois de passar uma temporada no Brasil. Hélio Costa pediu ainda ao governo para permitir o uso de aviões da Força Aérea no transporte de famílias dos soldados brasileiros que se encontram no Haiti, para que estes possam ter algum contato com as pessoas mais próximas durante alguns dias.
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02/12/2004
Agência Senado
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