Representantes de movimentos sociais criticam presença militar brasileira no Haiti



Representantes de movimentos sociais criticaram duramente, nesta quarta-feira (17), a presença de tropas brasileiras no Haiti, à frente de uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Em audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), os convidados ressaltaram que o problema haitiano é principalmente social e não se resolverá por via militar.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e diretor do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, o advogado Aderson Bussinger relatou ter ouvido diversas denúncias de repressão a movimentos sociais no Haiti, quando visitou o país há dois anos. Segundo o advogado, militares da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), comandada pelo Brasil, ajudam a polícia haitiana a reprimir o movimento sindical.

- O Brasil deveria se retirar imediatamente do Haiti, onde existe uma situação de típica ocupação - afirmou Bussinger.

A coordenadora da Rede Jubileu Sul, presente em vinte países do continente, disse que "vários massacres" foram registrados nos últimos anos no Haiti. Entre eles, um ocorrido há poucos dias, quando um grupo de estudantes foi às ruas pedir a entrada em vigor de uma lei já aprovada pelo Parlamento para reajuste do salário mínimo. O uso de gás lacrimogênio pela polícia, relatou, teria resultado na morte de um bebê e um idoso.

A repressão aos movimentos sociais no Haiti também foi criticada pelo representante da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), Antonio Lisboa Leitão de Sousa. Presente no país durante as celebrações do Dia do Trabalho, em 1º de maio, ele informou que manifestações patrocinadas pelo governo, pelos empresários e por religiosos protestantes ocorreram sem problemas, mas que uma manifestação de trabalhadores foi a única reprimida pela polícia. Em sua opinião, o Brasil deveria fazer como Cuba, que enviou médicos e professores ao Haiti, em vez de participar da missão militar.

- Está na hora de o Brasil inverter a sua presença. Por que não se pensa em um PAC para o Haiti? - questionou.

O haitiano Didier Dominique, representante do movimento Batay Ouvrier, afirmou que a presença em seu país de tropas da Minustah insere-se em um "projeto imperialista burguês". Esse projeto, em sua opinião, começou com a desativação da produção de açúcar no Haiti, continuou com a redução da produção de arroz e teve como conseqüência a grande migração para as cidades e a presença de mão-de-obra barata para empresas industriais que se instalarem nas novas zonas francas do país.

- Este é um projeto imperialista, do qual participa o vice-presidente brasileiro José Alencar, dono de empresas têxteis, que enviou seu filho para conhecer as zonas francas do Haiti - acusou.

A chefe da Divisão das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores, conselheira Gilda Motta Santos Neves, afirmou que a Minustah - da qual participam tropas de quase 50 países, dos quais 12 latino-americanos - pode ser vista como uma missão "multidimensional", por se preocupar não apenas com a segurança, mas também com a promoção do diálogo político e a preservação dos direitos humanos. Ela informou que o governo brasileiro tem promovido diversas atividades de cooperação bilateral, como a promoção da saúde da mulher, a cooperação no processamento de caju e a construção de cisternas. E recordou que as desigualdades sociais antecedem a presença da missão.

- Concordamos com o argumento de que nada vai se resolver pela força. Mas o objetivo da missão é o de criar um clima estável que permita a atração de investimentos e ações sociais - disse Gilda.



17/06/2009

Agência Senado


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