Bancada do PT não aceita o conceito de "mensalão" no relatório final



A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do PT e integrante da CPI dos Correios, afirmou, nesta quinta-feira (30), que entre os principais pontos do relatório final da comissão que os governistas irão questionar está o conceito de compra de votos de parlamentares, ou "mensalão".

- Houve 'caixa dois', mas a tese do 'mensalão', na linha de que se repassava dinheiro para comprar votações no Plenário da Câmara, não se sustenta nem pelos dados nem pelos fatos. A idéia de um Poder comprando o outro, criada pela oposição, não existe - argumentou ela.

O documento foi lido na quarta-feira (29) pelo relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Nele, Serraglio não só reconhece a existência do "mensalão" como o define como "o recebimento de recursos para confiar um voto parlamentar, para trocar de legenda partidária, para vencer uma eleição a qualquer custo, ou simplesmente para satisfazer interesses pessoais". Diz, ainda, que se trata de "uma variante de corrupção da pior espécie. Daquela em que a representatividade política é usurpada por interesses mesquinhos".

O relator desvincula, portanto, o "mensalão" do chamado "caixa dois", assumindo uma postura diferente da que foi adotada pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que, desde o início das denúncias de corrupção, procurou aproximar as duas coisas.

Segundo Ideli, a base governista está trabalhando na elaboração de votos em separado para "aprimorar o texto de Serraglio".

- Concordamos com grande parte do relatório, mas há situações que são juridicamente e politicamente insustentáveis, como a questão dos indiciamentos. Há propostas diferenciadas, dependendo de quem se busca atingir - explicou a senadora, referindo-se, por exemplo, às sugestões de indiciamento dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, por corrupção ativa. A líder frisou que não há provas contra os dois.

Quanto à possibilidade de a oposição insistir em solicitar o indiciamento do presidente da República - no texto original, Serraglio admite que Lula foi informado sobre o esquema de corrupção, mas afirma que não há garantias de que ele não tenha tomado providências - a senadora foi enfática:

- Aí, vai ser guerra. Não tem negociação.

A mesma postura será adotada, de acordo com Ideli, se for colocada em discussão a questão da citação do filho de Lula, Fábio Luiz, sócio da Gamecorp, empresa que recebeu aporte de R$ 5 milhões da Telemar. Esse ponto teria sido retirado do documento por decisão de Serraglio, que considerou que a comissão não havia investigado o assunto em profundidade.

O relatório final da CPI dos Correios será discutido e votado na próxima terça-feira (4). O prazo para o encerramento dos trabalhos é o dia 10 de abril. Ideli Salvatti garantiu que, no que depender do PT, não há risco de a comissão fechar as portas sem a votação de seu documento final.

- Se isso acontecer, será sem a conivência do PT. Já estamos desgastados demais, e não carregaremos nas costas mais essa responsabilidade. Vamos participar do processo de votação, mas temos que garantir que o documento reproduza a verdade dos fatos - disse.



30/03/2006

Agência Senado


Artigos Relacionados


Relatório final sugere indiciamento de mais de 100 e afirma existência do "mensalão"

Relator da LDO aceita 2050 emendas ao relatório final

Relatório reafirma existência do "mensalão"

Delcídio anuncia para final de semana publicação de relatório final

Magela diz que aceita rever seu relatório

Alvaro Dias: Não adianta mudar o relatório; o povo sabe que o "mensalão" existiu