Brasil abaixo de zero



Apesar de pouco conhecidos no Brasil, os esportes de inverno chamam a atenção de brasileiros de todas as regiões. A campeã Isabel Clark Ribeiro, nasceu em 1976, no calor carioca, e se formou em arquitetura. Conta que, ainda adolescente, na escola, gostava de muitos esportes: vôlei, handebol e atletismo na escola. Desde os 13 pratica o hipismo. Chegou até a entrar em um clube para treinar vôlei. “Como era nova, eu só queria saber de jogar vôlei. Não via sentido no trabalho de fortalecimento, de academia, e achava que estava perdendo tempo ali”. Ainda nova, aos 16 anos, Isabel teve o primeiro contato com o snowboard*, esporte que a consagraria.

Foi em uma viagem que teve o primeiro contato com o frio, tomando gosto pela nova modalidade. “Aos 17 comecei minha carreira, participando como turista no Campeonato Brasileiro, no Chile. Três anos depois já competia como profissional e passava as temporadas de inverno fora do Brasil”, conta.

O esporte vem evoluindo no Brasil desde então. Isabel conquistou 19 vezes o campeonato brasileiro de snowboard, é campeã sul-americana e já participou de duas Olimpíadas de Inverno. “Vejo alguns brasileiros entrando no mundo dos esportes de inverno, principalmente aqueles que têm visto de trabalho no exterior. Mas ainda falta profissionalizar o esporte e falta a renovação, chegar gente nova”.

Para os jogos de inverno, Isabel conta que está na melhor fase da carreira. Há um mês a campeã conquistou o 6º lugar na Copa do Mundo em Andorra, seu melhor resultado. “Estou forte, fiz ótimos treinos. Senti uma boa evolução, em ótima fase. Sempre tem que melhorar, porque é difícil chegar neste nível. Agora, só preciso estar tranquila e concentrada para os jogos, para eu ter uma boa performance”, contou a atleta, que é beneficiária do Bolsa Atleta.

Superação

No esqui cross-country**, Jaqueline Mourão, mineira, formada em educação física, é a campeã da superação. Ela é a primeira brasileira a disputar as Olimpíadas de Verão e de Inverno. Começou cedo a disputar moutain bike, em Belo Horizonte, “naquele mar de morros”, como diz. Aos 16 anos, apaixonou-se pelo esporte ao assistir uma prova de downhill. “Comprei minha primeira bicicleta e fui com os meninos. Quando chegava o domingo eu perguntava ‘onde será a trilha de hoje?’. Mas a paixão pela bicicleta quase se perdeu. “Meu primeiro treinador de moutain bike era um sujeito bastante reconhecido. No primeiro treino ele pegou seu carro e me disse ‘vem me seguindo’. Corri muito rápido, e ao final ele me disse: 'você é muito ruim, melhor você parar'”. Se não fosse a determinação, Jaqueline não teria chegado à primeira Olimpíada. “É muito importante a palavra na vida de uma pessoa. Os treinadores têm um papel muito importante na vida de um atleta”, completa.

A virada para os esportes de inverno surgiu por acaso. “Nunca tinha visto neve até os 27 anos. Estava competindo para moutain bike, mas caiu neve. Seu marido – e treinador – lhe disse ‘essa neve não vai embora. Vamos treinar esqui cross-country por dois dias, até a neve passar e voltarmos para a bicicleta”. Foi seu primeiro contato com o novo esporte, que lhe despertou tanto interesse que Jaqueline entrou em contato com a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) em agosto de 2005. “Foi muito engraçado, pois neve pra mim era coisa de príncipe, de pessoas famosas, muito fora da minha realidade”, conta.

Em novembro do mesmo ano, Jaqueline já treinava no esqui com rodinhas, para aprender o movimento. No mês seguinte já estava competindo, quando a neve chegou na Europa. “Viajamos e fui competir. Consegui bons resultados e a classificação para as olimpíadas, que se ocorreram em fevereiro de 2006”.

Nestes jogos de inverno, Jaqueline disputará o esqui cross-country, modalidade na qual estreou nas olimpíadas de inverno de Vancover em 2010, e o inédito biatlo***. “Estou na minha melhor fase física. Tinha um pouco de medo, pois comecei o biatlo em 2010, com 35 anos de idade e grávida. Nunca havia atirado em minha vida, mas a cada ano fui aprimorando no tiro. Após o nascimento de meu filho consegui me recuperar muito rápido e melhorar no tiro. Consegui bater meus recordes e o brasileiro, recentemente. Com o Bolsa Atleta consegui me manter nesse período de treinamento e contei com apoio do Ministério dos Esportes para viajar. Não tenho patrocínio e essa ajuda foi fundamental pra eu ter tranquilidade para os treinamentos e focar no biatlo”.

Como uma luva

O campeão Leandro Ribela é paulista, tem 33 anos e começou a praticar nos EUA. Ele gostava de correr e dava aulas de esqui alpino na Califórnia. O gosto pelo esqui cross-country surgiu quando sua corrida foi interrompida pela primeira neve mais forte e tomou gosto pelo esqui. Em 2005 começou a se envolver com o biatlo. O atleta conta que “a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) me chamou e falou sobre o biatlo, sobre as chances olímpicas. Comecei a competir de 2006 em diante, e para este ciclo olímpico foquei no esqui cross country”.

Leandro possui o Bolsa Atleta desde 2010. “Possuo a bolsa olímpica, além de apoio da CBDN e do Esporte Clube Pinheiros e do Instituto do Atleta (em SP). Assim, tenho condições de treinar, me deslocar e contar com treinadores, fisioterapeutas, nutricionistas, enfim, tudo o que um atleta de ponta precisa pra se manter competitivo”, diz.

O atleta conquistou recentemente a liderança sul-americana do ranking de cross country sprint, sua categoria. “Trabalhei quatro anos para ser o melhor que pudesse nessa disciplina, para atingir o índice olímpico e levar o Brasil pela primeira vez a uma prova de Sprint em jogos olímpicos”, completa. Em 2010, nos jogos de Vancouver (Canadá), o atleta estreou em jogos de inverno e ficou em 90º lugar.

Atletas brasileiros em Sochi
O Comitê Olímpico Brasileiro já confirmou as vagas nos Jogos de Inverno de Sochi. Confira os atletas:
- Patinação artística (Isadora Williams)
- Bobsled masculino e  feminino (equipe masculina com Edson Bindilatti, Odirlei Pessoni, Daividson Souza, Fábio Gonçalves, Edson Martins e Rogério Custódio; equipe feminina com Fabiana Santos, Sally Mayara e Larissa Silva)
- Esqui alpino (Maya Harrisson, Jhonatan Longhi)
- Esqui cross-country (Leandro Ribela e Jaqueline Mourão)
- Esqui estilo livre (Josi Santos)
- Snowboard (Isabel Clark)
- Biatlo (Jaqueline Mourão)

Dicas que valem ouro
Nossos três campeões deram dicas para quem tem o sonho olímpico e quer começar a competir. Vamos a elas?
- Jaqueline Mourão: Tem que acreditar em si mesmo, se é isso o que você quer, o que você busca. Acredite acima de quaisquer pessoas ou dificuldades. Lute e tenha determinação para conseguir. A chave para chegar a uma Olimpíada é força de vontade. É acreditar que você pode;
- Isabela Clark: Tem que gostar muito do esporte, gostar de aventura e gostar de viajar. E é um estilo de vida bem legal;
- Isabela Clark: Tem que começar por conta própria. Se você ainda for muito novo(a), o apoio dos pais é importantíssimo;
- Leandro Ribela: Você tem que fazer o que gosta. Se quiser chegar num esporte de alto rendimento, tem que se dedicar. Viaja-se muito, passa-se muito tempo longe de casa. É por isso que tem que ser o seu sonho. É isso o que te leva a querer sempre mais, querer o impossível. Tudo depende do tamanho do seu sonho.
- Isabela Clark: Para esportes de inverno, tem uma pista indoor em Gramado (RS). Avalie se seria uma boa pra você ir trabalhar no exterior, numa estação de esqui, por exemplo. Com o tratado do Mercosul, abre-se esta possibilidade, que lhe garante disponibilidade para treinos e estar em contato com a prancha/ os esquis o tempo todo.

*Snowboard
Consiste em equilibrar-se sobre uma prancha, na superfície com neve das encostas das montanhas. A prancha tem tamanho proporcional ao corpo do praticante.

**Esqui Cross-country
É o mais antigo tipo de esqui, com origem popular e camponesa. Hoje, é um hobbie urbano típico no hemisfério norte. Na modalidade Sprint masculina, a ser disputada por Leandro Ribela, são percorridos 1600m.

***Biatlo
É uma competição individual que envolve dois desportos simultaneamente: esqui cross-country e tiro, com provas intercaladas durante toda a prova. Há diversas modalidades, tanto para homens quanto para mulheres, dentro do biatlo: individual, sprint, perseguição, revezamentos e saída em massa.

Fonte:
Portal Brasil



07/02/2014 11:54


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